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O Menino do Pijama Listrado: Até onde vai a amizade?



Autor: John Boyne
Editora no Brasil: Companhia das Letras
Ano: 2007
Páginas: 186
Nota: 4,5/5


Sinopse: Bruno tem nove anos e não sabe nada sobre o Holocausto e a Solução Final contra os judeus. Também não faz ideia que seu país está em guerra com boa parte da Europa, e muito menos que sua família está envolvida no conflito. Na verdade, Bruno sabe apenas que foi obrigado a abandonar a espaçosa casa em que vivia em Berlim e a mudar-se para uma região desolada, onde ele não tem ninguém para brincar nem nada para fazer. Da janela do quarto, Bruno pode ver uma cerca, e para além dela centenas de pessoas de pijama, que sempre o deixam com frio na barriga. Em uma de suas andanças Bruno conhece Shmuel, um garoto do outro lado da cerca que curiosamente nasceu no mesmo dia que ele. Conforme a amizade dos dois se intensifica, Bruno vai aos poucos tentando elucidar o mistério que ronda as atividades de seu pai. O menino do pijama listrado é uma fábula sobre amizade em tempos de guerra, e sobre o que acontece quando a inocência é colocada diante de um monstro terrível e inimaginável.
Histórias baseadas em fatos reais sempre mexem com o sentimentalismo das pessoas, ainda mais sobre um período tão conturbado como a 2° Guerra Mundial. O Menino do Pijama Listrado mostra a perspectiva de uma criança cheia de duvidas sobre tudo aquilo que está acontecendo. A narrativa evidencia a crueldade do regime nazista e o porquê desse período da história mundial continuar rendendo bons enredos.


A ingenuidade do protagonista Bruno, de apenas 9 anos, chama bastante atenção e é de cortar o coração até daqueles menos sentimentais. Ele tem uma vida aparentemente normal, mora com os pais, a irmã Gretel e a babá e tem três melhores amigos. Só que tudo muda no dia em que seu pai, um oficial nazista, é transferido para um local bem longe de Berlim, Capital da Alemanha, e todos da família devem ir.

Por ainda ser muito novo, o menino não se adapta bem a notícia e se mostra até um pouco egoísta. O processo de aceitação é longo e complicado. Seus melhores argumentos para voltar a casa antiga são a feiura da nova casa e a falta de amigos para brincar. As únicas crianças naquele local estão do outro lado de uma curiosa cerca, que aparece nitidamente da janela do quarto de Bruno.


A minha primeira reação quando li essa passagem da descoberta da cerca foi angustiante, pois eu sabia o que tinha do outro lado e o motivo das pessoas usarem pijamas listrados – coisa que nem Bruno e nem Gretel sabiam -. Bate uma agonia ao saber que, mesmo na ficção, duas crianças estavam naquele universo pesado e vivenciando tudo aquilo.

O livro é narrado em terceira pessoa, mas o único personagem que conhecemos profundamente é Bruno. Isso foi bom e ruim ao mesmo tempo, pois a narrativa é construída com seus pensamentos, sempre curtos e objetivos, porém infantis. Por isso, a leitura se torna cansativa algumas vezes, quando o autor usa o recurso de repetir sequências inteiras de frases ou a indiferença de Bruno a casa nova. É uma escrita simples e direta, sem muitas firulas.

Sua vida muda mais ainda no dia em que decide explorar a temida cerca e conhece Shmuel, um menino judio que mora em uma espécie de campo de concentração. Eles se tornam amigos e o alemão passa a visitar o novo colega todos os dias. Apesar das ideologias e história de vida distintas, a amizade deles é bela, apesar da frieza de Bruno. Não me levem à mal, mas o achei muito frio em determinados momentos para uma criança, seja em suas palavras e atitudes ou mesmo na amizade com Shmuel. (Pode ser apenas uma fase de criança, mas só Deus sabe).


Shmuel (esquerda) e Bruno (direita) na adaptação cinematográfica
A relação deles é construída lentamente e com muita singeleza, mas é posta à prova em momentos determinantes. O desfecho final começa no dia em que o pai de Shmuel desaparece e ele some por dias. O judio não pede a ajuda do amigo logo no início, porém acaba cedendo. É, meus amigos. A partir desse momento as coisas não são nada fáceis. Surge a oportunidade de Bruno voltar à Berlim e abandonar o novo amigo, mas eles organizam um último encontro: uma exploração no lado de cá da cerca (o judeu) para encontrar o pai desaparecido.

O final do livro foi simples, singelo, triste. As cenas finais foram muito emocionantes e bonitas. Nos faz pensar sobre o valor da amizade e das pequenas cosias da vida. O Menino do Pijama Listrado é um livro fácil de ser digerido (exceto o final, rsrs) e nos apresenta a realidade da Alemanha Nazista no olhar de uma criança. As cenas são fortes, mas não tão fortes como poderiam ser retratadas, até porque é um infanto-juvenil. Em 2008, o livro foi adaptado para as telonas, sendo estrelada por Asa Butterfield e Jack Scanlon, Bruno e Shmuel, respectivamente.

                 

9 comentários:

  1. "a narrativa é construída com seus pensamentos, sempre curtos e objetivos, porém infantis. Por isso, a leitura se torna cansativa algumas vezes, quando o autor usa o recurso de repetir sequências inteiras de frases ou a indiferença de Bruno a casa nova. É uma escrita simples e direta, sem muitas firulas."

    Essa obra é um dos casos em que o Livro nunca deveria ser adaptado para um filme, além da perca de elementos relevantes como o Ponto de Vista nesse caso, no Livro demora pra ficar explícito que a história se passa na Alemanha nazista e que o lugar onde vão viver é um campo de concentração, o baque dessa descoberta é perdido no filme, além de outras surpresas.

    Mas, independente disso, tanto o livro quando o filme são belíssimos e valem a pena serem lidos.

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    1. Alessandro, faço suas as minhas palavras. Esse livro definitivamente vale a pena ser lido. É triste, claro. Mas como não ser ao falar de um tema tão arrasador e sofrido como este?

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    2. Alessandro, essa questão do ponto de vista é um pouco polêmica mesmo hahaha Livros escritos dessa forma podem perder a essência na hora da adaptação, mas temos vários casos parecidos que deram certo, como Game of Thrones, com mil e um pontos de vista. Mas depende de cada caso, claro.
      Pois é, como Bruno estava "por fora" da situação demoramos um pouco a nos situar naquela história, enquanto no filme as coisas são bem mais claras. Com certeza, vale a pena ser lido e assistido.

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  2. Só com o filme eu já choro, o livro ainda não tive coragem de pegar.
    NECESSITO dessa coragem

    Abraço

    http://penelopeetelemaco.blogspot.com.br/

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    1. Coragem! Mas olha, o livro é totalmente leve (dá para ler em um dia fácil fácil). O "peso" mesmo está nos últimos capítulos, mas como já sabes o desfecho final é até melhor (ou não) para ler. De qualquer forma, recomendo a leitura.

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  3. Confesso que fiquei meio depressiva com esse livro. Ele conseguiu mexer profundamente com meus sentimentos. Acho que todos deveriam ler, pois ele mostra alguns valores morais muito importantes.

    Te indiquei para responder a TAG Liebster Award, de uma passada no meu blog e confira. Beijos

    www.lindaestante.com.br

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    1. Oi, Vanessa!
      Concordo, os valores apresentados no livro são bem interessantes mesmo, assim como a força da amizade deles. É realmente muito bonito e mexe com todos nós :(

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  4. Esse livro me chocou e emocionou profundamente! Amei ele ter sido posto todo do ponto de vida inocente de uma criança. A forma como ele fala que "queria estar do outro lado da cerca", que "queria poder ter amigos como as crianças de pijamas listrados", o fato dele ter inveja daquelas que estavam no campo de concentração... Tudo é muito chocante e mexe com o leitor de forma tal que... nem sei o que dizer.

    O filme, infelizmente, perde bastante desse efeito. Primeiro porque tudo fica claro desde sempre, segundo porque tudo fica superficial demais no filme enquanto no livro as coisas são trabalhadas com mais profundidade mesmo sendo do ponto de vista da criança.

    conchegodasletras.blogspot.com.br

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    1. Mari, também achei muito interessante (e chocante) a visão de uma criança sobre a alemanha nazista. Os pensamentos dele são de cortar o coração mesmo. As dúvidas dele são tão simples, mas ao mesmo tempo muito complexas, como: "Porque usam pijamas? ou"Porque são nossos inimigos?". A narrativa toca bastante mesmo por esse motivo. Obrigada pelo comentário.

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