Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
17

Análise da Música - Exagerado



Essa semana eu pensei em uma postagem diferente. Cazuza é um dos mais aclamados nomes do Rock Nacional, suas letras são cheias de poesia e com ritmo e harmonia perfeitos. Nesse texto vou analisar a letra de uma de suas músicas mais populares, que muitas pessoas ouvem e aplaudem sem prestar muita atenção no significado, eu sou fã do trabalho dele, mas refletir um pouco fora do lugar-comum sempre faz bem e alimenta o senso crítico. Vamos lá.

Amor da minha vida
Daqui até a eternidade
Nossos destinos
Foram traçados na maternidade

Que bonitinho, uma música romântica que fala de um amor eterno, nada mais belo e inocente. Será mesmo?
Paixão cruel, desenfreada
Te trago mil rosas roubadas
Pra desculpar minhas mentiras
Minhas mancadas
Cruel? Não era pra ser um amor perfeito? Isso é mesmo saudável? E o pior, desenfreada que significa “sem freios”. Quer dizer que ele pode fazer tudo em nome dessa “paixão”? Até mesmo agredir a pessoa “amada”. Será? Além disso, se é pra idealizar um amor excepcional, não seria melhor pensar em um sem mentiras e mancadas? Vamos continuar analisando a letra:
Exagerado
Jogado aos teus pés
Eu sou mesmo exagerado
Adoro um amor inventado
Peraí, inventado? Não é um amor real? Como assim? E jogado aos seus pés parece algo romântico, mas pode ser um constrangimento para a outra pessoa, se ela não quiser ninguém nos pés dela.
Eu nunca mais vou respirar
Se você não me notar
Eu posso até morrer de fome
Se você não me amar
A garota é obrigado a amar ele? Se ela não amá-lo ele vai fazer uma tragédia? Será que é ele mesmo que seria morto nesse caso? As estatísticas de crimes passionais mostram o contrário. Mesmo se for, não é uma coisa bonita de você prometer: “vou te dar um ultimato, ou me ama ou eu me mato!”
E por você eu largo tudo
Vou mendigar, roubar, matar
Até nas coisas mais banais
Pra mim é tudo ou nunca mais
Outra declaração linda, só que não: vou largar tudo e viver em função de você, qual será a retribuição que ele espera? Que ela faça o mesmo e deixe de viver por ele? E essa história de “até nas coisas mais banais/ Pra mim é tudo ou nunca mais”? Quer dizer que até em uma coisa bem trivial, tipo cumprimentar um ex ou deixa de atender o vigésimo telefonema do dia porque está no trabalho, é motivo para um escândalo?


Detalhe, isto tudo é dito para uma pessoa que ele nem tem um relacionamento, pois ameaça se matar se ela não o notar. Pode parecer uma interpretação meio pessimista, mas as estatísticas mostram que Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes (33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. (Fonte: ONG Compromisso e Atitude) ou seja, muitos homens vem com esse papo de que “amam demais” a mulher (ou ex) para perseguir, agredir e até matar a parceira. E é esse tipo de “amor” exagerado que a música está exaltando, que faz de tudo, sem freio, cruel e obsessivo até nas coisas mais banais.

17 comentários:

  1. Muito bom! Sempre escutei essa música e nunca havia pensado desta forma. Valeu!

    ResponderExcluir
  2. Uau!!! Que post foi esse Alessandro!? Simplesmente PERFEITO. Uma análise fria, direta e realista de uma letra que prega a perseguição, a violência e um sentimento doentio como sendo o amor ideal.

    Assumo que nunca havia parado para analisar essa música desta forma, mas agora... Nunca mais conseguirei vê-la de outra.

    Amei a apresentação dos casos estatísticos de violência e homicídio ao final do post. Eles apenas fecharam com chave de outro um post que já estava brilhante. Parabéns!

    ResponderExcluir
  3. Pra analisar uma letra de música, você precisa ver o ponto de vista do eu-lírico e as relações construídas na letra. Só que o interlocutor, que é indeterminado, vc diz que é uma mulher. Pode ser que seja, pode ser que não. O próprio autor era bi. Já temos uma falha na sua visão de que se trata de uma música sobre um amor violento. O resto da análise, construída sobre essa falha é extremamente literal, o que fica bem longe da dimensão da música. Achei legal o que você tentou fazer, mas com tantas músicas que falam sobre a violência contra a mulher de forma tão naturalizada, não precisa forçar nessa...

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O Cazuza era bi, mas muitas letras dele eram relacionadas a relacionamentos de homens e mulheres, como aquela faz parte do meu show. Até porque são letras heteronormativas que venderiam mais.

      Excluir
    2. Desde a adolescência vejo essa música como irônica. Ele faz uma crítica a um amor doentio sim, em outra estrofe ele diz raspas e restos me interessam, mentiras sinceras me interessam, o compositor fez isso de propósito, mas como falta muita interpretação de texto né as pessoas muitas vezes não o intenderam, ou é porque fazem ideia errada de amor.

      Excluir
  4. Ele se refere a mãe dele, " nossos destinos foram traçados na maternidade".
    Só não entendo porque "um amor inventado".

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não parece a mãe, além do amor inventado, ele precisa que ela ame ele, note ele é a mãe do Cazuza não era ausente.

      Excluir
  5. Amor da minha vida daqui ate a eternidade nossos caminhos foram traçados na maternidade. Leiam o livro de autoria da mãe de Cazuza. Essa música foi para ela. Nao era questão fe amor violento era apenas um amor de um filho unico e mimado, Cazuza era rebelde, brigava com os pais, saia de casa, ficava meses sem voltar, anos, fez uma viagem para a Europa não avisou, era assim mesmo exagerado, mas se a mãe dele ficava sem falar com ele, ele ameaçava se matar, uma forma de chamar a atençao e manipular sua mãe, certa vez ameaçou atear gasolina se a mãe dele nao olhasse pra ele, eles tinham brigado e em seus apuros pediu ajuda para a mãe. Assistam o filme, tem a cena.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Livro. Só as mães são felizes.

      Excluir
    2. Pelo que vc descreveu é um amor violento contra uma mulher, só muda que a vítima é a mãe não uma companheira, por isso a análise está certa.

      Além disso, a interpretação do autor -ou da mãe dele- não é a única válida, uma coisa que se aprende estudando teoria literária é que não existe interpretação oficial, cada um vê a obra do seu jeito.

      Excluir
  6. Meu Deus, gente. Não há violência, há exagero. Ele fez a música para a mãmãe. Qual criança não faz de tudo para ter a atenção da mãe? E o que uma criança grande faria?
    É uma declaração de amor tão exagerada que Cazuza largaria:
    Carreira - carreira de pó
    Dinheiro - papel.pra enrolar
    Canudo - o canudo.para cheirar

    Não tem nada se perseguição psicopáica.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Uma obra pode ter várias interpretações, a sua não invalida a minha. Mas há coisas que você ignorou, como a "paixão cruel, desenfreada".

      E tudo em exagero faz mal, até o amor, mulheres sofrerem e morrerem por isso é tão comum que já até invetaram um termo: feminicídio.

      Excluir
  7. Ahhh.. e "eu adoro um amor inventado": um amor que nasce a cada dia, um amor que se renova e renasce e se reinventa...tipo: o nosso amor a gente inventa... Tenderam?

    ResponderExcluir
  8. Ele fez a música pro vicio dele em cocaina kkkk

    ResponderExcluir
  9. Uma paixão CRUEL,SEM FREIO NENHUM (desenfreada), OBSESSIVA (posso até morrer de fome...) e você só vê isso?

    ResponderExcluir
  10. Ele fala da cocaína! Simples. Por isso que é um amor exagerado, como um vício!

    ResponderExcluir
  11. ufff e pior que tem pessoas exatamente assim

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...