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Análise da Música – Camila, Camila



Primeiro grande sucesso do grupo Nenhum de Nós, muitas pessoas ouvem e cantam essa música sem nem pensar na letra, uma grande pena: primeiro porque é uma letra forte e muito bem escrita, depois porque, ao contrário do que muita gente pensa ao ouvir o ritmo, não é uma história alegre e, muito menos, romântica. Outro grande sucesso do rock nacional analisado: Camila, Camila.

Depois da última noite de festa
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
As coisas aconteciam com alguma explicação
Com alguma explicação

Observe que começa com algo que a fez chorar e perder o sono. E não foi a primeira vez que aconteceu, afinal as coisas “aconteciam” e não “aconteceram”. O que quer que acontecia, sempre tinha uma explicação: mesmo que fosse uma desculpa esfarrapada.
Depois da última noite de chuva
Chorando e esperando amanhecer, amanhecer
Às vezes peço a ele que vá embora
Que vá embora.
Outra noite de choros, é um sofrimento que se repete. Outro detalhe aqui, a moça pede que ele “vá embora”, logo pode-se deduzir que ele é o motivo do choro e insônia.
Camila
Camila, Camila
O refrão que engana, é um nome de uma garota sim, mas de uma que está gritando para se libertar, não é uma declaração de amor, é um grito de desespero.
Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega
Nesse trecho é revelado o motivo do choro, do medo e de pedir que ele vá embora: o parceiro (namorado, marido ou amante) bate tanto que Camila tem medo até de suas mãos, a relação está tão pesada que o ódio deixa-o cego e ele nem percebe.
E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega

A violência é tanta que ela tem medo até do olhar dele, afinal ele olha com tanto ódio que fica cego e nem percebe.
A lembrança do silêncio
Daquelas tardes, daquelas tardes
Da vergonha do espelho
Naquelas marcas, naquelas marcas

Esse silêncio é comum em vítimas de violência doméstica, elas raramente tem força pra denunciar o agressor – e não é porque gostam de apanhar ou de homem violento, como muita gente julga - é por medo, por vergonha, dependência financeira etc. A pessoa que bate é que deveria ter vergonha, mas é a vítima que tem! Vergonha das marcas, da impotência, do seu rosto no espelho, de tudo.
Havia algo de insano
Naqueles olhos, olhos insanos
Os olhos que passavam o dia
A me vigiar, a me vigiar

 Outra situação muito comum, o agressor tem um ciúme doentio e quer vigiar todos os passos da vítima, quer controlar tudo que ela faz.
E eu que tinha apenas 17 anos
Baixava a minha cabeça pra tudo
Era assim que as coisas aconteciam
Era assim que eu via tudo acontecer
Que triste, uma menina de apenas 17 anos. Como ela, muitas mulheres “baixa(va)m a cabeça pra tudo”. A minha alegria é que todos os verbos estão no passado, espero que essa Camila (assim como tantas camilas que existem no Brasil) tenha erguido a cabeça e se libertado, e que as coisas não aconteçam mais assim.

Outro dia vi um ótimo clip dessa música com cenas do filme “O Silêncio de Melinda” e ficou muito bom, super-recomendado tanto o clip quanto o filme:



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