Essa
semana eu pensei em uma postagem diferente. Cazuza é um dos mais
aclamados nomes do Rock Nacional, suas letras são cheias de poesia e
com ritmo e harmonia perfeitos. Nesse texto vou analisar a letra de
uma de suas músicas mais populares, que muitas pessoas ouvem e
aplaudem sem prestar muita atenção no significado, eu sou fã do trabalho dele, mas refletir um pouco fora do lugar-comum sempre faz bem e alimenta o senso crítico. Vamos lá.
Amor da minha vidaDaqui até a eternidadeNossos destinosForam traçados na maternidade
Que bonitinho, uma música romântica que fala de um amor eterno, nada mais belo e inocente. Será mesmo?
Paixão cruel, desenfreadaTe trago mil rosas roubadasPra desculpar minhas mentirasMinhas mancadas
Cruel?
Não era pra ser um amor perfeito? Isso
é mesmo saudável? E o pior, desenfreada que significa “sem
freios”. Quer dizer que ele pode fazer tudo em nome dessa “paixão”?
Até mesmo agredir a pessoa “amada”. Será? Além disso, se é
pra idealizar um amor excepcional, não seria melhor pensar em um sem
mentiras e mancadas? Vamos continuar analisando a letra:
Peraí, inventado? Não é um amor real? Como assim? E jogado aos seus pés parece algo romântico, mas pode ser um constrangimento para a outra pessoa, se ela não quiser ninguém nos pés dela.ExageradoJogado aos teus pésEu sou mesmo exageradoAdoro um amor inventado
A garota é obrigado a amar ele? Se ela não amá-lo ele vai fazer uma tragédia? Será que é ele mesmo que seria morto nesse caso? As estatísticas de crimes passionais mostram o contrário. Mesmo se for, não é uma coisa bonita de você prometer: “vou te dar um ultimato, ou me ama ou eu me mato!”Eu nunca mais vou respirarSe você não me notarEu posso até morrer de fomeSe você não me amar
E por você eu largo tudoVou mendigar, roubar, matarAté nas coisas mais banaisPra mim é tudo ou nunca mais
Outra
declaração linda, só que não: vou largar tudo e viver em função
de você, qual será a retribuição que ele espera? Que ela faça o
mesmo e deixe de viver por ele? E essa história de “até nas
coisas mais banais/ Pra mim é tudo ou nunca mais”? Quer dizer que
até em uma coisa bem trivial, tipo cumprimentar um ex ou deixa de
atender o vigésimo telefonema do dia porque está no trabalho, é
motivo para um escândalo?
Detalhe,
isto tudo é dito para uma pessoa que ele nem tem um relacionamento,
pois ameaça se matar se ela não o notar. Pode
parecer uma interpretação meio pessimista, mas as estatísticas
mostram que Dos 4.762 homicídios de mulheres registrados em 2013,
50,3% foram cometidos por familiares, sendo a maioria desses crimes
(33,2%) cometidos por parceiros ou ex-parceiros. (Fonte: ONG Compromisso e Atitude)
ou seja, muitos homens vem com esse papo de que “amam demais” a
mulher (ou ex) para perseguir, agredir e até matar a parceira. E é esse tipo de “amor” exagerado que a música está exaltando, que
faz de tudo, sem freio, cruel e obsessivo até nas coisas mais
banais.
Muito bom! Sempre escutei essa música e nunca havia pensado desta forma. Valeu!
ResponderExcluirUau!!! Que post foi esse Alessandro!? Simplesmente PERFEITO. Uma análise fria, direta e realista de uma letra que prega a perseguição, a violência e um sentimento doentio como sendo o amor ideal.
ResponderExcluirAssumo que nunca havia parado para analisar essa música desta forma, mas agora... Nunca mais conseguirei vê-la de outra.
Amei a apresentação dos casos estatísticos de violência e homicídio ao final do post. Eles apenas fecharam com chave de outro um post que já estava brilhante. Parabéns!
Pra analisar uma letra de música, você precisa ver o ponto de vista do eu-lírico e as relações construídas na letra. Só que o interlocutor, que é indeterminado, vc diz que é uma mulher. Pode ser que seja, pode ser que não. O próprio autor era bi. Já temos uma falha na sua visão de que se trata de uma música sobre um amor violento. O resto da análise, construída sobre essa falha é extremamente literal, o que fica bem longe da dimensão da música. Achei legal o que você tentou fazer, mas com tantas músicas que falam sobre a violência contra a mulher de forma tão naturalizada, não precisa forçar nessa...
ResponderExcluirO Cazuza era bi, mas muitas letras dele eram relacionadas a relacionamentos de homens e mulheres, como aquela faz parte do meu show. Até porque são letras heteronormativas que venderiam mais.
ExcluirDesde a adolescência vejo essa música como irônica. Ele faz uma crítica a um amor doentio sim, em outra estrofe ele diz raspas e restos me interessam, mentiras sinceras me interessam, o compositor fez isso de propósito, mas como falta muita interpretação de texto né as pessoas muitas vezes não o intenderam, ou é porque fazem ideia errada de amor.
ExcluirEle se refere a mãe dele, " nossos destinos foram traçados na maternidade".
ResponderExcluirSó não entendo porque "um amor inventado".
Não parece a mãe, além do amor inventado, ele precisa que ela ame ele, note ele é a mãe do Cazuza não era ausente.
ExcluirAmor da minha vida daqui ate a eternidade nossos caminhos foram traçados na maternidade. Leiam o livro de autoria da mãe de Cazuza. Essa música foi para ela. Nao era questão fe amor violento era apenas um amor de um filho unico e mimado, Cazuza era rebelde, brigava com os pais, saia de casa, ficava meses sem voltar, anos, fez uma viagem para a Europa não avisou, era assim mesmo exagerado, mas se a mãe dele ficava sem falar com ele, ele ameaçava se matar, uma forma de chamar a atençao e manipular sua mãe, certa vez ameaçou atear gasolina se a mãe dele nao olhasse pra ele, eles tinham brigado e em seus apuros pediu ajuda para a mãe. Assistam o filme, tem a cena.
ResponderExcluirLivro. Só as mães são felizes.
ExcluirPelo que vc descreveu é um amor violento contra uma mulher, só muda que a vítima é a mãe não uma companheira, por isso a análise está certa.
ExcluirAlém disso, a interpretação do autor -ou da mãe dele- não é a única válida, uma coisa que se aprende estudando teoria literária é que não existe interpretação oficial, cada um vê a obra do seu jeito.
Meu Deus, gente. Não há violência, há exagero. Ele fez a música para a mãmãe. Qual criança não faz de tudo para ter a atenção da mãe? E o que uma criança grande faria?
ResponderExcluirÉ uma declaração de amor tão exagerada que Cazuza largaria:
Carreira - carreira de pó
Dinheiro - papel.pra enrolar
Canudo - o canudo.para cheirar
Não tem nada se perseguição psicopáica.
Uma obra pode ter várias interpretações, a sua não invalida a minha. Mas há coisas que você ignorou, como a "paixão cruel, desenfreada".
ExcluirE tudo em exagero faz mal, até o amor, mulheres sofrerem e morrerem por isso é tão comum que já até invetaram um termo: feminicídio.
Ahhh.. e "eu adoro um amor inventado": um amor que nasce a cada dia, um amor que se renova e renasce e se reinventa...tipo: o nosso amor a gente inventa... Tenderam?
ResponderExcluirEle fez a música pro vicio dele em cocaina kkkk
ResponderExcluirUma paixão CRUEL,SEM FREIO NENHUM (desenfreada), OBSESSIVA (posso até morrer de fome...) e você só vê isso?
ResponderExcluirEle fala da cocaína! Simples. Por isso que é um amor exagerado, como um vício!
ResponderExcluirufff e pior que tem pessoas exatamente assim
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