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Infiel: Como sair da Caverna



Autor: Ayaan Hirsi Ali
Editora no Brasil: Companhia das Letras
Ano: 2006
Páginas: 512
Classificação: 4\5
Sinopse: Em Infiel, sua autobiografia precoce, Ayaan, aos 37 anos, narra a impressionante trajetória de sua vida, desde a infância tradicional muçulmana na Somália, até o despertar intelectual na Holanda e a existência cercada de guarda-costas no Ocidente. É uma vida de horrores, marcada pela circuncisão feminina aos cinco anos de idade, surras freqüentes e brutais da mãe, e um espancamento por um pregador do Alcorão que lhe causou uma fratura do crânio. É também uma vida de exílios, pois seu pai, quase sempre ausente, era um importante opositor da ditadura de Siad Barré: a família fugiu para a Arábia Saudita, depois Etiópia, e fixou-se finalmente no Quênia.
Quem já estudou filosofia deve se lembrar do “Mito da Caverna”. A autobiografia de Ayaan Hirsi, descrita em “Infiel - a história de uma mulher que desafiou o islã”, é uma versão moderna desse mito.
O Mito da Caverna é uma alegoria feita por Platão sobre prisioneiros que passam a vida inteira acorrentados numa caverna escura, vendo sombra das pessoas que passam por perto dessa caverna e sem saber o que são, acreditam que essas sombras são seres de verdade. Um deles sai de sua prisão e descobre o que são as sombras de verdade, depois que volta de novo, tenta contar a sua descoberta para os companheiros, mas eles não acreditam nele e nem aceitam a verdade, por isso passam a hostilizar o que saiu e acabam matando ele.

Em Infiel os fatos ali narrados não são uma simples alegoria, ela realmente viveu tudo isso. Porém, é uma história de uma pessoa que teve que repensar tudo que acreditava como verdade, que mudou seus paradigmas e foi hostilizada e perseguida por seus semelhantes, justamente porque eles não querem abrir a mente para uma visão de mundo mais moderna e condizente com a realidade do que eles acreditam.

Capa do livro:

Apesar dos horrores narrados na infância e adolescência, Ayaan nunca pensou em política ou direito das mulheres, e muito menos em desobedecer seu pai, que apesar de ser um homem esclarecido segue a religião muçulmana a risca e, portanto, não aceita que mulheres sejam donas de seus próprios corpos e destinos. A autora só começou a duvidar de sua devoção ao Islã quando é obrigada a se casar com um completo estranho, que ela não vê como um bom parceiro.


Mesmo sem querer o matrimônio, a vontade de seu pai é o que conta no Direito Somali e ela acaba sendo casada do mesmo jeito. Sem alternativas, ela foge para a Holanda ode entra ilegalmente no país e vive como refugiada, e aí que ela tem um choque cultural e vê como o mundo é diferente da “caverna” onde ela vivia:
Tudo era tão limpo, parecia um filme. As ruas, o asfalto, as pessoas — nada na minha vida tinha semelhante aparência, com exceção talvez do Hospital Nairóbi. Era tão moderno que parecia esterilizado. A paisagem lembrava uma aula de geometria ou de física, só se viam linhas retas, e tudo era perfeito e preciso. Os prédios eram cubos e triângulos e me incutiam a mesma sensação neutra, quase assustadora. Os letreiros pareciam ser em inglês, mas eu não entendia uma palavra, era como decifrar uma equação algébrica.”
As diferenças não são apenas no ambiente, a forma como as pessoas (principalmente as mulheres) são tratadas também são impactantes para ela:
Aqueles brancos não me atemorizavam. Pareciam indiferentes, mas isso era bom. Eu havia tomado dois aviões sozinha, passeara em Düsseldorf, e o mundo não me parecia tão perigoso quanto mamãe e vovó diziam. Lá todo mundo era anônimo, mas ser capaz de percorrer aqueles lugares desconhecidos me incutia uma sensação de liberdade e poder. Eu me sentia segura.” 
A partir desse ponto, a vida dela dá uma guinada e ela vai conseguindo se reerguer, se tornar independente e mais madura. Consegue emprego, trabalha como tradutora voluntária e se elege deputada na Câmara Holandesa, e lá que ela tem a voz necessária para falar pelas mulheres que sofrem nas mãos do Islã – e começa a fazer muitos inimigos.

É uma história de superação e adaptação. Por mais que o livro se trate de direitos humanos, feminismo e política; em minha opinião, o maior mérito dele é a narrativa de uma vida interessante – a vida de uma pessoa que chegou na em um país estrangeiro sem nada, nem mesmo saber o idioma local direito e conseguiu se destacar e que tentou fazer a diferença para as mulheres que sofrem como ela.

Segue uma entrevista de Ayaan no programa Roda Viva em 2008:


Colaborador: Alessandro Bruno

4 comentários:

  1. Boo Nina, parabéns pela resenha.

    http://conchegodasletras.blogspot.com.br/

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  2. Ooi Nina,
    Achei super interessante esse livro!! *--* Preciso ler, adoro livros assim.. A resenha ficou ótima! Parabéns viu <3
    Abraços,
    Livros Para o Chá das Cinco

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  3. Oi Nina, obrigada pela visita lá no Doces.
    Alessandro gostei muito da sua resenha, mesmo este não sendo um tema dos que mais gosto para leitura. Sei dos horrores que estas mulheres vivem, pois sempre leio algo a respeito na mídia e acho que ela é um dos exemplos de luta e superação a serem seguidos. Valeu pela dica.
    Abraço.
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  4. Olá Nina! Esse livro deve ser ótimo, que mulher corajosa e guerreira! Autobiografias me encantam, mais ainda com uma história de superação como essa. Beijos!
    http://cafeliterari-o.blogspot.com/

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