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Take the Shot: Centuries


... and just a mistake. It’s all it will take.

Ela pisa duro. Tão duro que o chão parece tremer ao redor. E não é porque ela é gorda ou algo do tipo, é por causa da sua essência. Desde o começo, desde a primeira vez que a vi, eu senti o peso de seu espírito glorioso. E depois de tudo, um espírito glorioso talvez seja a única coisa que a faça andar de cabeça erguida pela praça José Wilker.

Eu a observo de longe, e à distância ela parece se mover em slow motion, mas apenas à distância, porque de perto ela é dura e veloz. Ao menos agora.

Em um momento de loucura, me deixo encará-la. E ela percebe. Percebe e retribui a olhadela com o par de misseis azuis, que também podem ser chamados de olhos.

Mas os misseis não chegam a disparar, ela logo desvia a rota, e faz questão de deixar bem claro em sua postura, em seu modo de apertar as mãos e abaixar a cabeça enquanto aperta o passo, que ela não quer me ver nem pintado de ouro.

Sozinho, ranjo os dentes e lamento em silêncio.

... heavy metal broke my heart.

O suor é frio, meu corpo queima, parece que vai entrar em combustão a qualquer momento. E eu quero explodir. Quero jogar tudo pra fora, destruir tudo, cair exausta em algum lugar e não levantar nunca mais.

- Ka! – alguém chama, mas parece tão longe, que não me dou ao trabalho de sair do meu transe. Porque encarar de verdade as pessoas dói, e infelizmente aquela não era minha primeira vez.

Eu chuto alto. Chuto. Chuto. Chuto de novo, e de novo. O saco de areia não acompanha meu ritmo, ele é lento, e eu estou sedenta por exaustão. Tiro as luvas e respiro fundo. Só as faixas protegem as juntas dos meus dedos.

É hora de destruir.

Eu grito, alto e forte, até a garganta secar. Os socos atingem o saco de areia como uma britadeira. Eu me sinto uma britadeira, louca, gritando, esmurrando, furando e sofrendo. Eu bato com uma força que eu nem sabia que tinha, mas apesar de ser uma luta solitária, eu pareço perder. E de repente estou histérica.

Dou meu último grito e caio no chão. E então eu choro, porque infelizmente essa parte eu ainda não consigo evitar. Definitivamente estou no fundo do poço, e a culpa é toda minha.

Minha por ter sido trouxa a ponto de acreditar que o maior babaca de todos, que vivia de curtir com a minha cara, poderia gostar de uma maluca feito eu. Era óbvio que tudo não passava de mais uma brincadeira idiota, mas o pior é que eu caí. Caí com a gravidade me sugando até o chão. Até sobrar só esse resto de garota. E eu ainda juro que tô bancando a forte.

... bruises on your thighs like my fingerprints

- KARINA! – minha voz ecoa esganada na academia quase vazia.

Ela está no chão, derrotada, e chora. Ela olha pra mim com aqueles misseis azuis já marejados. Ela me odeia. Provavelmente eu fui o pior de todos. Eu quero cair no chão e chorar junto com ela. No fim das contas nem sabia o que estava fazendo ali.

Em um piscar de olhos ela se recompôs. De pé e de costas para mim, a única coisa que saiu de seus lábios foi um belo e grosso “Cai fora daqui!”.

Eu queria ir, juro. Queria deixá-la em paz, até que tudo aquilo passasse, e ela me esquecesse, e então ficasse bem. Mas não movi um músculo sequer.

Eu não queria ir embora. Muito menos ser esquecido.

- Me chuta daqui, se quiser que eu vá embora. – EU DEVO ESTAR MUITO DOIDO MESMO!

Ela me ignorou por um instante e sentou no tatame para tirar as caneleiras.
(se ela fosse me bater ao menos não ia chutar com as caneleiras né? Ufa)

- Some daqui, você me deve isso.

- Eu devo muitas coisas a você.

- Por favor! Não começa, na boa.

- Eu já disse que você pode me chutar se quiser. Não é como se você nunca o tivesse feito antes, não é? – sorrio de leve, mas ela não corresponde.

- Desculpa Pedro, mas eu não encostaria em você nem por dois mil reais.

- Eu entendo. – abaixei a cabeça, respirei fundo, tomei um pouco de coragem, e cruzei a academia até chegar perto dela. – Se não vai me bater, então não se incomoda se eu chegar mais perto, não é mesmo?

... And this is for tonight, the darkness that you felt

Ele está perto e cheira bem. Desvio o olhar com quem desvia de um prato de comida estragada, o suor agora seca no meu corpo, me sinto grudenta, suja, e odeio o fato de ele estar cheirando a shampoo e pós-barba.

Odeio seu olhar de cachorro chutado, odeio o fato de ele ter feito sucesso às minhas custas.

- Karina, eu fui um idiota, eu sei, você sabe, todo mundo sabe. Mais do que isso, eu fui fraco, e ingênuo. – o ignoro e começo a desatar as ataduras dos punhos - Olha pra mim! Pelo amor de Deus! Você acha que eu seria capaz de fazer qualquer maldade com você ou com quem quer que seja de propósito? Eu sou a pessoa mais paz e amor que eu conheço.

- Você não presta Pedro, é só isso que eu sei.

- Concordo com você. – ele deu mais um passo para perto de mim – Esquentadinha... você pode me fazer de saco de pancadas, me chutar, me xingar, me odiar, mas você não pode negar que me ama. E eu amo você.

Eu o fuzilo por cima do ombro. Mas no fundo eu concordo.

 ... some turn to dust or to gold

Eu estava o mais próximo que era possível estar – em segurança - dela. Eu podia ver de perto sua nuca suada, e sentir o aroma do seu cabelo dourado, eu podia tocá-la se esticasse um pouco a mão, mas eu precisava amansá-la antes, do jeito que eu sempre fazia.

Toco seu ombro, e a sinto se esquivar com rispidez. E chega a hora de ser duro com a garota de diamante.

Eu puxo seu braço com força, e então ela está de frente para mim, incrédula. Os olhos azuis arregalados diante da minha ousadia. Bom, eu já não tinha mais medo de morrer.

Então eu a beijo, mas é um beijo arisco, mais arisco que o nosso primeiro. Ela se debate com força, arranha meu pescoço e sinto como se a pele estivesse em carne viva, mas eu não desisto.

Tento envolvê-la nos braços, mas ela é arredia e me machuca, sinto o gosto de sangue na boca. Ela tropeça nas caneleiras jogadas no chão, e então despencamos.

Ela vê uma oportunidade para fugir, mas eu a domino rápido. O sangue pinga do meu queixo e cai em sua bochecha, ela se sacode, mas não grita. Me fuzila com os olhos azuis e ofega.

Não me lembro de ter ido longe assim com nenhuma das garotas que já tive antes dela, eu estava desesperado, louco. Perdido mesmo. Ela chora em silêncio enquanto encosto minha testa à sua e choro junto.

- Me desculpe. – eu murmuro tão baixo, que nem tenho certeza se realmente disse ou apenas pensei em dizer. – Mas eu sou muito egoísta pra apenas te deixar ir.

Procuro novamente por seus lábios, sabendo que provavelmente ela me morderia até arrancar um pedaço, mas isso não importa mais. Eu a beijo e então a sinto corresponder.
Primeiro tímida, então ávida, e por último violenta. O tatame é palco de uma verdadeira carnificina, rolamos no chão trocando beijos, puxões de cabelo e mordidas.

Ela está por cima de mim e é linda. O cabelo dourado desgrenhado, o rosto cheio do meu sangue como uma verdadeira amazona, ela segura a gola da minha camisa e puxa meu tronco para perto de si.

- Faça outra dessas novamente, e você é um homem morto. – ela diz em meu ouvido e sinto meu sorriso se abrir por completo. – Morto! – ela repete, e com um puxão brusco rasga minha camisa ao meio.

E então nós explodimos.

... we’ll go down in history. Remember me.

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Este texto possui referências ao shipper Perina (Pedro + Karina) de Malhação, e os trechos em itálico são da música "Centuries" da banda Fall Out Boy, e você pode conferi-la no vídeo abaixo. 




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