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Pergunte ao pó, o tédio da alma e a obrigação de gostar de clássicos (ou não)







Todo leitor passa por um período de desilusão com sua lista de leitura, aquele intervalo em que nada parece agradar seu paladar crítico ou satisfazer as vontades urgentes de sentir-se preso em um emaranhado de fios de uma trama bem elaborada, ou vinculado nas reflexões de uma obra existencial. 

A verdade é que nosso estado de espírito influencia substancialmente na aprovação de um livro. Não é todo dia que conseguimos devorar um clássico filosófico, principalmente se o autor for o mestre da prolixidade, e tendemos a preferir algo mais leve - ensaios, crônicas, contos, best-sellers - por quê não? Se você torceu o nariz para o último item da lista, calma. Nem todo best-seller é ruim, assim como nem todo o clássico é magnífico.

“Mas se o livro sobreviveu aos anos e foi tão digno de nota a ponto de ser considerado um clássico, alguma boa razão deve existir, não é mesmo?” 

De fato. Alterando um pouco a frase de Hamlet, nenhum livro é de todo bom ou mau, depende daquilo que pensamos, do momento que estamos vivendo. Tal linha de raciocínio é aplicável tanto para best-sellers como para clássicos da literatura.

Mas vamos ao que interessa: Pergunte ao Pó. Antes de tudo, se você decidir procurar dados sobre este livro, será assombrosa a quantidade de resenhas positivas e negativas equilibrando uma balança que você encontrará, o que especifica a ideia de que não existe livro ruim e que, muitas vezes, nós - ou nosso estado de espírito - somos o problema. 

Em uma dessas crises literárias, esbarrei com a obra de John Fante. Logo no princípio, fui atraída pelo fato de ser sobre um escritor em crise; pesquisei mais um pouco e eis que vejo o prefácio extremamente elogioso feito por Charles Bukowski. Mesmo sem ter lido nada de Bukowski, tenho certeza que já deve ter esbarrado com alguma de suas citações na internet, porém, o que a maioria não sabe, é que ele abominava alguns dos monstros da literatura. Sim, isso mesmo que você acabou de ler. O escritor declarou não gostar de Shakespeare e Tolstói. Surpreso? 

O fato é que, antes de mesmo de começar a leitura, tinha certeza de que aquele livro que contava a história de Arturo Bandini fora escrito para mim. 

Nas primeiras páginas, você se depara com algumas citações interessantes e a ideia da formação do escritor. Arturo defende que os romances nascem da experiência e sai buscando seus próximos contos nas ruas de Los Angeles. Fante não tem medo de expor a mesquinharia ou o egoísmo da alma humana e isso é um ponto ao seu favor, contudo - na opinião dessa leitora, vale ressaltar - também não teme discorrer páginas e mais páginas sobre um grande nada. Confesso que, em muitos pontos da leitura, acabava me questionando qual o sentido de toda aquela enrolação e forcei-me a chegar ao final do livro para saber se aquilo parava em algum lugar. 

“Meu conselho para todos os jovens escritores é bastante simples. Eu lhe recomendaria que nunca evitassem uma nova experiência. Eu os instigaria a viver a vida em estado bruto, a atracar-se com ela bravamente, a golpeá-la com os punhos nus.” 

Você vai encontrar por aí pessoas dizendo que Pergunte ao Pó mudou suas vidas e que se trata de uma grande obra, dentre elas o grande Bukowski; em contrapartida, também irá se deparar com gente que não vai medir palavras na hora de expressar o horror ao estilo de Fante, mas - clássico ou não - é necessário ler e construir seu próprio conceito. 

Não se sinta intimidado pelos clássicos, muitos são maravilhosos e vão, de fato, mudar a sua vida se você conseguir vencer algumas páginas, mas a regra não é aplicável a todos. Não gostar de uma obra de renome não faz ninguém menos leitor. O livro que influenciou uma geração foi, para mim, uma leitura insossa e decepcionante, mas não deixou de agradar milhares de outros espíritos. 

Clássico ou não, um livro precisa martelar minha alma, agarrar meu tornozelo e me jogar um balde de água fria e nisso, caro Fante, você falhou, amigo. 

“Que bem faz a um homem se ele ganha o mundo inteiro, mas sofre a perda de sua própria alma?” 
John Fante.

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