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Kurt Cobain por ele mesmo.



Produção: HBO
Lançamento: 04 de maio de 2015
Gênero: Documentário, Musical
Duração: 2:15 hrs
Sinopse: 
Documentário sobre o vocalista, guitarrista e compositor Kurt Cobain, líder do Nirvana. Com acesso a arquivos pessoais e depoimentos de familiares de Cobain - inclusive com a participação da filha dele com Courtney Love, Frances, o filme conta do início até a ascensão de sua carreira, apresentando diversas canções, algumas delas inéditas. O retrato íntimo de um artista que raramente se revelou para a mídia.

 No auge dos meus 15 anos ouvi e gostei de Nirvana pela primeira vez. O líder da banda era para mim, até então, uma figura com a trágica trajetória clássica de lendas do rock. O suicídio, afinal, foi o motivo de aos 17 eu resolver conhecer Kurt Cobain pela primeira vez, muito além do que os artigos de revistas e jornais diziam sobre ele. O canal para esse encontro foi então o registro mais completo já lançado sobre o músico, o livro “Mais Pesado Que o Céu”. Sete anos depois, o documentário “Cobain: Montage of Heck” me ilustrou, com sons e imagens, todos os detalhes vistos naquela biografia.

 O registro foi produzido a partir de mais de 200 horas de material pessoal de Kurt e sua família, incluindo filmagens caseiras, gravações de áudio e escrituras em diário. Brett Morgen, o diretor, inclui também depoimentos com o pai, mãe, madastra, ex-namorada, esposa e melhor amigo do músico. Porém, na maior parte do tempo a história é contada pelo ponto de vista do próprio Cobain, através de áudios e rabiscos em seu diário. O resultado é arrebatador, somos mergulhados na mente de um dos artistas mais complexos e geniais de nossos tempos.

 “Cobain: Montage of Heck” funcionaria bem como uma adaptação cinematográfica da biografia “Mais Pesado Que o Céu”, do jornalista Charles Cross. O autor do livro lançado em 2004 teve acesso ao mesmo material que Brett Morgen teria anos mais tarde, e traça de forma cronológica e linear uma história quase romanceada do líder do Nirvana. Cada fase da vida de Kurt tem capítulos inteiros de descrição, o que faz do livro o registro perfeito da linhagem “do nascimento á morte” de uma personalidade.

 A infância em Aberdeen (Washington) abre o filme com vídeos caseiros filmados em Super 8, mostrando uma família hipnotizada com a hiperatividade do pequeno Kurt Donald Cobain. Somos então lançados à sua conturbada adolescência, período em que viu sua estrutura família ruir. Kurt, nunca conformado pelo divórcio dos pais e humilhado por bullying na escola, se tornou um jovem rebelde e descobriu o refúgio na maconha pela primeira vez. Um dos momentos mais interessantes do filme é narrado pelo próprio, contando como perdeu sua virgindade, a história é reproduzida com uma bela animação estereoscópica.


 Esse recurso narrativo que mescla animações encenadas e depoimentos acompanha ainda a fase em que o músico, rejeitado pelos pais, foi morar com sua primeira namorada. Nos tempos livres do emprego como limpador Kurt tocava guitarra, compunha letras e pintava quadros. Obcecado por arte, decidira ganhar a vida como artista. Kurt nunca mais teve outro emprego até montar sua primeira banda.

 Surpreendentemente, após o Nirvana viriam os anos mais difíceis para Kurt. Apesar da fama e do dinheiro conquistados com a banda, o jovem declinava cada vez mais seu estado psicológico. Uma doença no estômago, que nunca teve sua causa descoberta por médicos, fez Kurt experimentar heroína pela primeira vez para aliviar as fortes dores. A partir daí o documentário se torna verdadeiramente visceral e sombrio.

 Após apresentar de forma breve, mas eficiente, a ascendência do Nirvana, o longa foca o relacionamento do músico com Courtney Love, líder do Hole, com quem teve uma filha. Nesses momentos quase não há depoimentos, vemos apenas vídeos caseiros do casal, por vezes em momentos bem íntimos. O nascimento de Frances Bean Cobain é apresentado entre artigos invasivos e odiosos da imprensa, retratando Kurt como um drogado em estado terminal e cenas de um Kurt magro, abatido e carinhoso brincando com a filha.

 “Cobain: Montage Of Heck” é incômodo e constrangedor tamanha a sua invasão à privacidade de Kurt. É irônico que o melhor documento em vídeo de sua vida até aqui faça o que ele mais odiava em sua vida, ser exposto e humilhado. Penso se o músico, que tirou a própria vida aos 27 anos, não teria o feito novamente ao ver “Montage Of Heck”. Para os fãs e cinéfilos, o filme cumpre todas as expectativas, e certamente tem lugar entre os melhores documentários musicais já produzidos. A edição é espetacular e hipnotizante, talvez o maior mérito de Brett Morgen aqui. 

 Se você acha que conhece Kurt Cobain e ainda não leu "Mais Pesado Que o Céu" ou não viu "Monateg of Heck" não se engane, porque você não o conhece como deveria. Então não perca a oportunidade de entrar na mente de um homem que revolucionou não só um estilo musical, mas o comportamento de uma geração inteira. 


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