@mor: narrativa inusitada sobre um romance nada convencional

Autor: Daniel Glattauer

Editora: Verlagsgruppe Weltbild

Editora no Brasil: Suma de Letras

Ano: 2013

Páginas: 188

Nota: 3,5/5

Sinopse: Num e-mail enviado por engano, começa um relacionamento virtual que testa as convicções de Leo Leike e Emmi Rothner. Leo Leike, ainda digerindo o fracasso de seu último relacionamento, responde de forma espirituosa a duas mensagens enviadas por engano por Emmi Rothner, casada. Inicialmente, ela só queria cancelar uma assinatura de revista. Depois, inclui Leo por engano entre os destinatários de um e-mail de boas festas. Na terceira troca de e-mails, o mal-entendido dá lugar à atração mútua, reforçada pelo fato de um nunca ter visto o outro. Nada como a curiosidade instigada por frases bem encadeadas chegando a intervalos regulares numa caixa postal eletrônica para que os dois se esqueçam dos possíveis impedimentos. A cada dia, Leo e Emmi se sentem mais impelidos a marcarem um encontro. Após trocas contínuas de mensagens, está claro para ambos que o marido dela e as feridas emocionais dele não serão obstáculos para que marquem um encontro. O único obstáculo real é a insegurança de ambos quanto à transformação da fantasia em realidade. O austríaco Daniel Glattauer dá nova vida à tradição epistolar em @mor, primeiro de dois romances que exploram um relacionamento sustentado basicamente em trocas de e-mails. Romance de estreia de Glattauer e campeão de vendas na Alemanha e na Espanha, o livro explora, sob roupagem moderna, sentimentos familiares a amantes de todas as gerações.

É possível se apaixonar por alguém sem ao menos conhecê-lo pessoalmente? Daniel Glattauer responde minha pergunta muito bem em @mor, ao mostrar uma perspectiva diferente sobre o tema e com uma técnica bem interessante, sendo totalmente escrito por e-mails. Como lidar com a distância e outras barreiras impostas nesse tipo de relacionamento, já que nem por fotos os protagonistas se conhecem? 

O relacionamento de Emmi e Leo é construído aos poucos. O primeiro contato é bem inusitado, o segundo um pouco mais amigável, enquanto o terceiro quebra definitivamente a barreira de "desconhecidos" e as mensagens se tornam cada vez mais frequentes... até as coisas ficarem mais íntimas. Eles se apegam tanto aos e-mails que chegam ao ponto de não realizar tarefas do cotidiano antes que recebam uma nova atualização na caixa de entrada.

Leo é o primeiro a contar sobre seu (ex) relacionamento amoroso. Completamente desgastado e com um término de namoro nada legal, ele se abre para a recém amiga a respeito de seus sentimentos mais profundos e de como foi "rejeitado" por sua ex-namorada Marlene. A resposta de Emmi não é tão agradável, pois ela fala (escreve no caso) tudo o que lhe vem à cabeça. Após pequenos desentendimentos, ela acaba comentando sobre seu casamento aparentemente feliz e perfeito e seus enteados, o que deixa Leo um pouco apreensivo.

Fw: Você quer dizer que ficaria satisfeita se somente EU me apaixonasse por VOCÊ, unilateralmente, por assim dizer. Então eu certamente passaria uma vida lhe escrevendo emails ardorosos, apaixonados, de cortar o coração. Em seguida, poemas, canções, talvez até mesmo musicais e óperas, cheios de uma paixão não correspondida. Então você poderia dizer a si mesma ou a Bernhard ou a ambos: "Sabe, foi bom que eu o tenha encontrado naquela vez."

Mesmo casada, Emmi mantém diálogos muito íntimos e, inclusive, demostra ciúmes do amigo virtual mais de uma vez, mas sempre declara que todas aquelas mensagens são apenas "distrações" da rotina e que não há nenhum sentimento forte por parte dela (mentirosa). Sinceramente, não gostei das atitudes dela. Emmi se mostrou uma personagem muito insegura de si e egoísta. 

Ela diz várias vezes que não está traindo e nunca trairá o marido. Particularmente, considero a relação virtual tão séria quanto uma traição propriamente dita, pois os sentimentos são muito fortes e o amor é recíproco. Para alguns é até pior do que traição, pois é uma quebra de confiança e respeito. Emmi até finge que não gosta tanto de Leo e apresenta uma amiga, mas as coisas se transformam em uma bola de neve ainda maior. Por outro lado, gostei muito do Leo, é totalmente na dele e tem uma personalidade marcante. Só queria entender como ele aguentou Emmi por tanto tempo.

A proposta do livro em ser totalmente escrita por e-mails é audaciosa e chama a atenção logo de cara. O formato segue a linha dos romances epistolares, escritos por cartas, assim como em As Vantagens de ser Invisível. Até que funciona muito bem nas primeiras páginas, mas a magia se perde aos poucos. Queria saber mais sobre os pensamentos mais profundos do casal. O dia a dia de Emmi e conhecer sua relação "feliz" com a família. Os dilemas de Leo e suas bebedeiras espontâneas. O que cada um pensa ao receber o e-mail e os sentimentos ditos por eles mesmos e não por e-mails. Senti muita falta disso. A exploração nesse quesito foi bem rasa. 

Diferentemente daqueles romances "felizes para sempre", @mor é coerente ao mostrar as dificuldades impostas em um relacionamento, o desgaste do casamento e as traições (ou não traições). As situações dos encontros, quase encontros e pós-encontros trouxeram um ânimo a mais a leitura, como quando eles inventam um jogo para ver se um consegue encontrar o outro em um bar e depois especulam quem era quem. Por fim, não posso esquecer de citar Bernhard, esposo de Emmi, personagem que tomou atitudes drásticas e corajosas para uma pessoa machucada emocionalmente. O autor poderia ter desenvolvido melhor o personagem neste livro, traria muito mais agilidade ao enredo.

Com você, querido Leo, eu não tenho vergonha de ser espontânea, do jeito que sou bem lá no fundo. Não fico imaginando o que posso pedir de você e o que não posso. Só estou escrevendo alegremente à toa. E isso me faz incrivelmente bem!!! E isso é uma conquista sua, querido Leo, por isso você se tornou tão indispensável pra mim: você me aceita como eu sou.

O livro possui uma continuação: Emmi & Leo - A Sétima Onda, que pretendo resenhar em breve e comentar um pouco mais sobre esse romance inusitado com um término maligno e maravilhoso! Boatos de que os leitores tiveram desmaios múltiplos ao ler aquele "Continua...".