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Sono: Conto japonês para ser digerido lentamente


Título Original: Nemuri
Autor: Haruki Murakami
Editora: Objetiva (Alfaguara)
Ano: 2015
Páginas: 120
Nota: 5/5
Sinopse: "É o décimo sétimo dia que não consigo dormir." Ela era uma mulher com uma vida normal. Tinha um marido normal. Um filho normal. Ela até podia detectar algumas fissuras nessa vida aparentemente perfeita, mas nunca chegou a pensar seriamente nelas. Até o dia em que deixou de dormir. Então, o mundo se revelou. Um mundo duplo de sombras e silêncio; um mundo onde nada é o que parece. E onde ela não pode mais fechar os olhos. Sono é um conto de Murakami inédito no Brasil, com ilustrações de Kat Menschik.
Junho chegou e com ele minha época favorita do ano: meu aniversário, que por razões óbvias, me rende sempre excelentes presentes literários. "Sono" foi um desses presentes. Ganhei essa obra de arte da Gabriela (coluna dela às sextas aqui gente!), que aliás fez aniversário ontem. Mas assuntos particulares à parte, trago aqui minha primeira experiência com a literatura japonesa, se descontarmos os mangás que li até então.


Antes de mais nada preciso falar do quão linda é essa edição: a capa dura azul e os detalhes cromados em relevo, bem como o papel excelente tornam a leitura muito mais do que uma experiência visual. Mas o que chama atenção mesmo são as ilustrações estonteantes da alemã Kat Menschik, que funcionam como um complemento elaborado para as situações vivenciadas na obra, chegando inclusive a dar um ar mais sombrio ao relato mórbido da personagem.

"Essa é minha essência", pensei. Ao deixar de dormir, ampliei meu ser. O importante é o poder de concentração. Viver e não conseguir se concentrar é o mesmo que estar de olhos abertos sem poder enxergar.
O livro traz um pequeno conto de Murakami que narra a história de uma simples mãe de família, com marido e filho completamente normais, que vive uma vida rotineira, sem muito sabor. Mas o ponto crítico apontado pela personagem é sua péssima relação com o sono. Impossibilitada de dormir há uma semana, a personagem relata as mudanças que a falta desse hábito tem em sua vida.

Ao mesmo tempo que a personagem narra seus estágios em relação à completa falta de sono, como a paranoia inicial, seguida da aceitação da situação, reparamos a necessidade que ela tem daquelas horas em claro em que pode voltar a ser a si mesma. O casamento e os hábitos do marido a "podaram", domaram sua personalidade e seus pequenos prazeres, como a leitura, a bebida e o chocolate, que naquele momento em que todos dormem, ela pode enfim recuperar.

A personagem se reencontra na solidão, contudo também cria uma grande aversão a tudo que tinha cultivado em seu casamento e em sua vida até ali. Misturado a isso estão momentos tensos de alucinações, alguns que cheguei a associar ao fenômeno de paralisia do sono. Não chega a ser assustador, mas é suficiente pra te dar um "nervosinho". É um livro bem curto, de leitura fácil, mas com uma mensagem densa e um tanto mórbida. Traz uma grande reflexão a respeito daquilo que nos sujeitamos com o passar da vida que nos transforma em pessoas completamente fora do que realmente somos, como se nos tornássemos estranhos de nós mesmos e nossa real personalidade, nossos reais prazeres, fossem apenas uma sombra da vida fria que nos condicionamos a ter para nos encaixamos na sociedade. Leitura super válida e um belo exemplar para se ter na estante.

Fechei os olhos para me lembrar de como era a sensação de dormir. Mas a única coisa que existia para mim era uma vigília na escuridão. Uma vigília na escuridão... que se associava à morte. Será que vou morrer? Se eu morrer agora, o que posso dizer que fiz da minha vida?


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