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Os Irmãos Karamázov - Se Deus não existe, tudo é permitido?

Autor: Fiódor Dostoiévski
Editora: Martin Claret
Ano: 2013 (O original é de 1880)
Páginas: 975
Nota: 5/5
Sinopse: 1870, Ryevsk, pequena cidade na Rússia czarista. Fyodor Karamazov é um viúvo mulherengo, que por motivos vários entra em choque com seus filhos: Ivan , um escritor; Aleskiséi, um padre; e Dmitri, um militar. Dmitri alega que Fyodor roubou a herança deixada pela mãe dele. Há também Smerdjakov, seu filho bastardo, um epiléptico que Fyodor trata como se fosse um serviçal. Dmitri está noivo de Katya, que recebeu uma grande herança e o ama. Dmitri, por sua vez, se sente muito atraído por Grushenka, a amante de Fyodor.
Fé e descrença, Família e sociedade, bem e mal, vida e morte, crime e castigo. Esse livro é repleto de temas universais, que continuam e continuarão relevantes hoje e sempre, por isso é considerado como a melhor obra de Literatura já escrita, entre seus fãs há nomes de peso como o filósofo Nietzsche e Freud, o pai da psicanálise. Leitura obrigatória a todos que dizem ser amantes de literatura.


Apesar desse teor filosófico constante e de ser um volume grande, qualquer edição passa facilmente de 700 páginas, não é um livro difícil de ler. Fiódor Dostoiévski demonstra muito bem porque os escritores russo são tão famosos mundialmente, ao escrever uma obra tão envolvente, profunda e filosófica em linguagem simples. A história gira em torno da família de Fiódor Pavlovitch Karamázov, um homem pândego e devasso que enriqueceu às custas de suas ex-mulheres, ambas mortas precocemente devido à sua mesquinharia e pouco cuidado com elas. Os irmãos citados no título são Dmitri que é o filho da primeira esposa; Ivan e Alieksiéi filhos da segunda, e Smierdiakóv, um bastardo que ninguém sabe que é filho de Fiódor.

Esse bastardo possui um intelecto genial e trama a morte do pai, fazendo com que o mais velho Dmitri Karamázov seja acusado. A maior parte do livro, a principal, é sobre esse acontecimento, a investigação, o julgamento de Dmitri e suas consequências em todos da família. O leitor sabe que ele não matou o pai, por isso torce por ele - embora não seja exemplo de virtude e ainda por cima tenha um caso com Grúchenka, que é amante do pai - só que o narrador conta todos os fatos linearmente e mantém a expectativa, se ele vai ser condenado ou não, até o final.

Essa história é só uma parte da grandeza da obra. O melhor são reflexões do autor, que conversa com o leitor o tempo inteiro, através das falas do narrador; de Alieksiéi Fiódorovitch – um dos irmãos que é religiosos e é “o herói” do narrador; de Smierdiakóv; de Ivan e outros personagens menores. Nessa reflexão, ele se questiona se Deus existe mesmo e, se não existir tudo é permitido aos homens?

Em um trecho, Ivan narra a seu irmão Aliéksiei uma passagem de um poema que está escrevendo chamado de “O Grande Inquisidor” neste poema, o Grande Inquisidor questiona a Jesus que acaba de voltar da Terra após sua ressurreição e transfiguração:
Será que não pensaste que ele (o Homem) acabaria questionando e renegando até tua imagem e tua verdade se o oprimissem com um fardo tão terrível como o livre arbítrio?

Em outro trecho posterior, Ivan questiona o que aconteceria à humanidade caso toda forma de religião fosse extinta e ninguém mais acreditasse em Deus.
Quando a humanidade, sem exceção, tiver renegado Deus (e creio que essa era virá), então cairá por si só, sem antropofagia, toda a velha concepção de mundo e, principalmente, toda a velha moral, e começara o inteiramente novo. Os homens se juntarão para tomar da vida tudo o que ela pode dar, mas visando unicamente à felicidade e à alegria neste mundo. O homem alcançará sua grandeza imbuindo-se do espírito de uma divina e titânica altivez, e surgirá o homem-deus. Vencendo, a cada hora, com sua vontade e ciência, uma natureza já sem limites, o homem sentirá assim e a cada hora um gozo tão elevado que este lhe substituirá todas as antigas esperanças no gozo celestial. Cada um saberá que é plenamente mortal, não tem ressurreição, e aceitará a morte com altivez e tranquilidade, como um deus. Por altivez compreenderá que não há razão para reclamar de que a vida é um instante, e amará seu irmão já sem esperar qualquer recompensa. O amor satisfará apenas um instante da vida, mas a simples consciência de sua fugacidade reforçará a chama desse amor tanto quanto ela antes se dissipava na esperança de um amor além-túmulo e infinito.
Um convite à reflexão, não importa em que você acredita – ou se não acredita em nada, ao ler esse livro você se questionará muito sobre as grandes questões da vida e da morte; mesmo que não concorde com a opinião do autor, dê a ele o mérito de lhe levar a repensar essas questões.

3 comentários:

  1. Olá Alessandro,
    Eu sei se colocaria esse livro na minha lista, gosto de livros grandes, mas não tanto rs, minha preguiça fala mais alto :(
    Parabéns pela resenha.
    conchegodasletras.blogspot.com.br

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  2. Oi Alessandro tudo bem?
    Já tinha ouvido falar deste livro, mas te confesso que nunca tinha me interessado por ele, e esta é a primeira resenha dele que leio.
    Tem um tema interessante e deve ser mesmo uma leitura reflexiva e impressionante.
    Ótima resenha.
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  3. Olá! Como vai?

    Já peguei este belíssimo em mãos, porém, desisti de trazê-lo, quando fui à livraria, pois o preço estava salgado, além de que pelo tamanho, iria entupir minha lista de livros que aguardam para serem lidos.
    Contudo, não imaginava que o livro era bom assim. Me deu um certo ânimo novamente; provavelmente ainda irei ler "Os Irmãos Karamazav".

    Abraços!
    Irmãos Livreiros

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