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Os Ratos - Somos todos ratos?


Autor: Dyonélio Machado
Editora: Ática
Ano: 2001 (o original é de 1935)
Páginas: 144
Nota: 4,5/5

Sinopse: Naziazeno Barbosa, que perambula um dia inteiro pelo centro de Porto Alegre em busca de algum dinheiro para saldar uma dívida. A trama se passa em aproximadamente vinte e quatro horas e descreve detalhadamente as perspectivas, angústias, esperanças e desilusões do personagem durante este tempo. 
Esse livro e fácil de ler e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque a linguagem é simples, o narrador conta os fatos linearmente de maneira objetiva, os personagens não são muito complexos (quase caricatos) e possui um único foco narrativo. E é difícil porque a gente sente a angústia de Naziazeno e fica incomodado com sua inabilidade financeira.




Angústia, essa é a palavra que melhor define a sensação do leitor ao acompanhar as desventuras de Naziazeno, um funcionário público que tem que conseguir dinheiro para saldar uma dívida com o leiteiro de forma que este não corte o fornecimento desse alimento que é essencial para seu filho pequeno.

Esse drama dura um dia inteiro, no qual os eventos vão se sucedendo e se repetindo, ele tem esperanças e chega a sonhar com o dinheiro só para se desapontar com um fracasso logo depois. Esse recurso às vezes parece enfadonho, mas funciona para que o leitor se sinta tão irritado como o protagonista, querendo que isso acabe logo.

Naziazeno não é o típico herói valoroso dos romances, pelo contrário, é um homem simples, que tem muitas dúvidas e é um funcionário relapso, um símbolo de como a burocracia de um Estado inchado e ineficiente funciona, ou diria melhor, não funciona. 
O trabalho de Naziazeno é monótomo: consiste em copiar num grande livro cheio de 'grades' certos papéis em formas de faturas (…). O serviço, porém, não exige pressa, não necessita 'está em dia'. - Naziazeno 'leva um atraso' de uns bons dez meses.
Percebe-se que o problema central do livro não é a pobreza de Naziazeno e nem a dívida com o leiteiro, mas a dificuldade encontrada para juntar o dinheiro no curto tempo estipulado – 24 horas. A partir deste problema simples, Dyonélio faz uma crítica à sociedade, através dos vários personagens que interagem com o protagonista e não querem saber de seu problema; ou fazem pouco caso dele ou o humilham, nem os próprios “amigos” estendem-lhe a mão na hora da dificuldade.

O título está aberto a múltiplas interpretações, pode-se referir aos membros da sociedade, que vivem das poucas migalhas que o Sistema lhe destina – como Ratos vivem de restos das casas; podem ser os agiotas e banqueiros que lucram com o desespero de pessoas comuns, roendo o dinheiro delas; ou pode se referir ao sonho que Naziazeno tem no livro, no qual Ratos estão roendo o dinheiro dele: o que pode ser visto como um aviso do que acontecerá se ele não tomar cuidado com agiotas.


No final da narrativa, o leitor já conhece Naziazeno e pode prever o que acontecerá a ele nos próximos meses; o que é interessante porque o narrador não o descreve em detalhes, apenas cita os acontecimentos e como ele pensa sobre eles; mas as ações falam tanto sobre sua inocência e falta de tato que os fatos falam sobre ele, ou melhor, eles gritam por socorro.

3 comentários:

  1. Olá Alessandro, tudo bem?
    Obrigado por sua visita lá no Doces Letras.
    Este livro parece ser simples mas complexo ao mesmo tempo. E me parece ser daqueles livros que lidam com nossa realidade e que nos levam a reflexão.
    Dica anotada. Ótima resenha.
    Bjus
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  2. Alessandro,
    Não sei se leio esse livro, meu coração é de manteiga!! Eu ia chorar tanto vendo as dificuldades ele passando com o filho.
    Como sempre uma ótima resenha.
    Conchegodasletras.blogspot.com.br

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  3. Olá, Alessandro!
    Gostei muito da resenha.
    O livro parece ter uma trama bem interessante. Não sei porque me lembrei de O Processo de Kafka, acho que por causa da crítica a sociedade.

    SUA ESTANTE
    Gatita&Cia.

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