Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
2

A Revolução dos Bichos - Se quer conhecer uma pessoa, dê-lhe poder

Autor: George Orwell
Editora: Cia das Letras
Ano: 2008 (O original é de 1945)
Páginas: 147
Nota: 5/5

Cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Granja do Solar rebelam-se contra seus donos e tomam posse da fazenda, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e agualitário, sob o slogan "Quatro pernas bom, duas pernas ruim".
Mas não demora muito para que alguns bichos - em mais particular os mais inteligentes, os porcos - voltem a usufruir de privilégios, reinstituindo aos poucos um regime de opressão, agora inspirado no lema "Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que outros". A história da insurreição libertária dos animais é reescrita de modo a justificar a nova tirania, e os dissidentes desaparecem ou são silenciados a força.
Instrumentalizada na época da Guerra Fria como arma anticomunista. A revolução dos bichos transcende os marcos históricos da ditadura stalinista que a inspirou e resplandece hoje,passados mais de sessenta anos de seu surgimento, como uma das mais extraordinárias fábulas sobre o poder que a literatura já produziu.

O livro aparentemente é fraco: o enredo linear e simples, os personagens são caricatos, não há digressões e nem subtramas. Apesar disso, as possibilidades múltiplas de interpretação e as alegorias fazem d'A Revolução dos Bichos uma obra de primeira qualidade.
Essa qualidade é provada pela sua fama décadas depois, já foram feitas várias adaptações, inclusive a banda britânica Pink Floyd chegou a produzir um álbum baseado nesse livro, conforme a brilhante resenha da Gabriela aqui no Rascunho.

Apesar da fama e de ser escrito em 1945, é uma leitura muito fácil, quando o li estava achando que encontraria uma linguagem mais densa, estava me preparando para ter dificuldade para terminar, e pelo contrário, levei muito pouco tempo para concluí-lo e foi uma leitura muito prazerosa.

É um livro de comparações, que conta a história de uma fazenda na qual os animais se revoltaram e a tomaram do fazendeiro, só que pouco tempo depois as coisas não deram muito certo porque os porcos que eram os líderes, passaram a tratar os animais igual o homem fazia. Quantas comparações podemos fazer.... Qualquer relação de poder pode entrar nesse balaio. Sei que o livro foi baseado na Revolução Russa, mas podemos incluir aí (guardadas as devidas proporções) as Igrejas, os sindicatos, aquele colega de trabalho que vira chefe e que ao ter o poder nas mãos se corrompe.

O poder é o problema do livro - não é que o poder em si seja um problema, mas a influência que ele exerce nas pessoas que os recebe pode ser maléfica e, dessa influência que vem o mal que contagiou os porcos, da mesma forma que pode afetar qualquer pessoa no mundo real.

Além desse problema central, há várias referências à outras formas de poder que nos afligem. Como o poder religioso, Quando estava lendo sobre o corvo eu só lembrava dos fundamentalistas islâmicos que prometem uma vida no além cheia dos benefícios que não temos na terra. Ou o poder das massas, representado pelo Garganta que além de ser uma referência à mídia, representa também a pior especie de eleitor, aquele que voto, faz campanha em favor de emprego ou para manter seu emprego comissionado.

Enfim, há várias representações diversas de tipos humanos que se envolvem em política, ou outra forma de poder, e que mudam em função disso, assim como manipulam e invertem as leis em seu favor. Isso se dá não porque o ser humano é malvado por natureza (embora há quem acredite nisso) acho que todo mundo quando chega ao poder (ou pelo menos a maioria, sou otimista) quer o bem comum. Porém há 2 grandes problemas:

1. O poder é muito tentador, muitas vezes quem chega nele não quer mais "largar o osso" e por isso acaba se corrompendo.

2. Chegar ao poder não é fácil, é preciso de muito dinheiro (para isso tem que ter financiamento que não vem sem se comprometer) e de aliados poderosos (que como os financiadores, querem algo em troca do seu apoio).

Além dessa análise política, pode se também fazer uma reflexão filosófica/psicológica. De acordo com o Lord Acton (1834-1912): "O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, de modo que os grandes homens são quase sempre homens maus". A obra explícita fundamentalmente isso; é pouco provável que os porcos quisessem ser humanos no começo da Revolução. Na verdade, quando planejaram tudo só queriam se livrar do fazendeiro. O que deu errado? Em minha humilde opinião, o problema foi dar muitos poderes a eles e, principalmente, tê-los mantido sempre na liderança. Por isso, um dos princípios da democracia deve ser a alternância dos governos; nenhum homem ou grupo político deve ter poder demais e nem por tempo demais, quando começam a parecer com ditadores é preciso que sejam trocados, antes que virem tão parecidos que não seja possível distinguir um do outro.

2 comentários:

  1. Bom ,, depois dessa resenha super bem explicada e de entender o poder em partes, acredito que posso l~e-lo sem medo de ser feliz, apesar da minha edição ser uma bem mais antiga que essa hehehe
    alias tenh oque ver de quando é
    confesso que fiquei com vontade de ler agorinha, nesse minuto poxa :3
    Um beijo!
    Pâm - www.interruptedreamer.com

    ResponderExcluir
  2. Sei que esse livro tem mil interpretações e gera mil reflexões, mas ainda não senti aquela vontade de ler, sabe? Não descarto ler um dia, mas tenho mais curiosidade por 1984.
    Beijos,
    alemdacontracapa.blogspot.com

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...