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O Alienista - De perto ninguém é normal


Autor:  Joaquim Maria Machado de Assis
Editora: Ática
Ano: 1994 (Original de 1882)
Páginas: 45
Nota: 4/5


Sinopse: Após conquistar respeito em sua carreira de médico na Europa e no Brasil, o Dr. Simão Bacamarte retorna à sua terra-natal, Itaguaí, para se dedicar ainda mais a sua profissão. Após um tempo na cidade, casa-se com a já viúva D. Evarista, uma mulher por volta dos vinte e cinco anos e que não era nem bonita e nem simpática. O médico a escolheu por julgá-la capaz de lhe gerar bons filhos, mas ela acaba não tendo nenhum sequer. Certo dia o Dr. Bacamarte resolve se dedicar aos estudos da psiquiatria e constrói na cidade um manicômio chamado Casa Verde para abrigar todos os loucos da cidade e região. Em pouco tempo o local fica cheio e ele vai ficando cada vez mais obcecado pelo trabalho.
 
O que difere uma pessoa “normal” de uma maluca? O que pode ser considerado como uma mania inocente e o que é indício que a sanidade mental está comprometida? Machado de Assis brinca com essas questões em seu livro O Alienista.

Os livros de Machado de Assis são famosos por serem amados pelos professores e odiados pelos alunos, principalmente em época de vestibular. A linguagem arcaica, os jogos de palavras e pensamento abstrato trazem muita riqueza literária que não é percebida por quem ainda não domina completamente a linguagem culta e não tem a maturidade para entender o sarcasmo e as analogias utilizadas pelo autor. Uma pena, pois a leitura obrigatória nessa época mais afasta que ajuda a divulgação desse gênio que é aclamado no mundo inteiro menos em sua terra natal.

Mesmo suas obras mais curtas, a centenas de contos que escreveu e O Alienista, são repletas de críticas à sociedade e aos indivíduos de forma geral, questionamentos filosóficos e religiosos relevantes sobre os mais diversos assuntos. No caso do livro em questão, questiona-se o que é ser são e o que é comportamento anormal.

O narrador não é contemporâneo dos acontecimentos, ele os conta como se fossem fatos históricos ocorridos séculos atrás:

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.
 
Além de expor que o caso não é contemporâneo, esse trecho tem uma informação importante: o Dr. Simão Bacamarte não é um homem do povo: de família nobre e educado no Europa, logo averso aos costumes da população local. Ora, muita coisa que ele considera estranha e sinal de loucura são costumes locais. O que é estranho para uma pessoa pode não ser estranho para outra, então cabe um questionamento: quem define o que é normal é o detentor do poder político econômico?

Além dessa questão social, chega uma hora que quatro quintos da população é internada na Casa Verde, quando o Médico reflete sobre o seu conceito e formula uma nova teoria, se a grande maioria da população faz coisas estranhas e busca obter vantagem ilícita, doente mesmo é quem não age assim, esses devem ser tratados:
Ao cabo de cinco meses estavam alojadas umas dezoito pessoas; mas Simão Bacamarte não afrouxava; ia de rua em rua, de casa em casa, espreitando, interrogando, estudando; e quando colhia um enfermo, levava-o com a mesma alegria com que outrora os arrebanhava às dúzias. Essa mesma desproporção confirmava a teoria nova; achara-se enfim a verdadeira patologia cerebral.
 


É curioso que, ao manter essa teoria, o doutor não estava “curando” as pessoas para deixá-las mais aptas ao convívio social, pois estava tratando de extinguir suas virtudes, que são necessárias ao convívio social como a generosidade. Ora, por esta teoria, é melhor uma sociedade em que todos sejam loucos do que uma em que todos estejam “sãos”.

Como se ver, apesar de uma certa dificuldade que a linguagem pode causar, é uma leitura muito relevante e atemporal, não diz respeito apenas a conhecer uma obra do mais famoso escritor brasileiro e fundador da ABL, mas de fazer uma leitura sobre a alma humana e suas inquietações.

2 comentários:

  1. ''Os livros de Machado de Assis são famosos por serem amados pelos professores e odiados pelos alunos''
    Hahahahaha, que citação ótima, geralmente é assim mesmo.
    Gostei bastante do seu blog :D

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  2. Nunca li o Alienista, apenas Dom Casmurro.
    Mas a forma que ele escreve é sensacional

    bjos

    http://acidadeliteraria.blogspot.com.br/

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