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A.I. Inteligência Artificial – Um Conto de fadas Moderno


Direção: Steven Spielberg 
Roteiro: Steven Spielberg e Ian Watson 
Ano: 2001 
Duração: 2h20min 
Gênero: Ficção Científica, Drama, Aventura 
Nota: 4/5


Sinopse: Na metade do século XXI, o efeito estufa derreteu uma grande parte das colatas polares da Terra, fazendo com que boa parte das cidades litorâneas do planeta fiquem parcialmente submersas. Para controlar este desastre ambiental a humanidade conta com o auxílio de uma nova forma de computador independente, com inteligência artificial, conhecido como A.I. É neste contexto que vive o garoto David Swinton (Haley Joel Osment), que irá passar por uma jornada emocional inesquecível.


Muita gente achou esse filme chato: longo demais, com pouca ação e um final sem sentido. A essas pessoas só posso lamentar, ou não entenderam direito o roteiro ou não possuem a sensibilidade artística necessária para amá-lo.


Histórias com robôs que emulam sentimentos humanos ou que aprendem conosco o que é amar e sentir não chegam a ser raras, Isaac Asimov já escrevia sobre isso em 1954 com suas 3 leis da robótica. Além desse gênio visionário russo, muitos filmes já debateram sobre os aspectos morais, religiosos e os problemas que poderiam surgir se as máquinas atingissem um nível de Inteligência comparado ao nosso e se tornassem autoconsciente, alguns exemplos são os filmes das franquias Terminator (O Exterminador do Futuro) e The Matrix.

Sendo assim, a ideia de A.I. parece que não é original: apenas mais um filme de Hollywood feito com um roteiro padrão já testado e de sucesso garantido, um filme tão artificial quando o garoto David (Haley Joel Osment), o robôzinho protagonista. Só parece, muitos elementos dessa obra fogem do lugar comum e são revolucionárias, por isso mesmo, muita gente não se identificou com o filme – esperando uma história confortável, igual a tantos clichês por aí.

A começar pelo questionamento ético relativo à própria condição de David, diferente de todos os outros robôs, ele não foi criado para fazer nenhuma tarefa especial – apenas para amar seus pais e ser um “filho perfeito”. Quantas reflexões essa simples afirmação pode suscitar: é certo fazer um ser com sentimentos tão forte como o amor de um filho - e com todo sofrimento que esse sentimento traz consigo – apenas para satisfazer o ego de um ser humano que não pode/quer ter filhos reais? E o que é um filho perfeito? Eu, na condição de pai, considero que minha filha seja perfeita – justamente porque sei que seus sentimentos são verdadeiros e precisam ser conquistados e que será uma pessoa plena, não uma criança pra sempre!

Os pais de David o adotam porque o filho biológico deles está em coma, só que esse filho humano milagrosamente sai desse estado logo depois – no começo o casal até tenta manter as duas crianças como se fossem irmãos de verdade, só que em um incidente na piscina da família, no qual o filho robótico não tem culpa, ele é acusado de ser uma ameaça a família decide que deve ser levado de volta para a fábrica pra ser destruído.

Tudo isso apenas no começo do filme, e quantas questões podem ser levantadas: assim como acontece com David, muitos pais adotam crianças e depois as devolvem; um filho adotivo e um biológico teoricamente tem os mesmos direitos e devem receber o mesmo amor dos pais, mas isso nem sempre acontece; e voltando ao dilema ético da criação de David, se for possível mesmo desenvolver um ser capaz de amar uma pessoa, é certo destruir esse ser senciente? Isso não seria equivalente a um homicídio?

Monica (Frances O'Connor) a “mãe” não tem coragem de mandar destruir David, e manda o garoto biônico fugir, levando consigo apenas Teddy um ursinho de pelúcia que também tem Inteligência Artificial. Abandonado sozinho, sem ter o que fazer, ele começa uma jornada épica em busca de um sonho: se tornar um menino de verdade para que, em sua cabeça, sua mãe o aceite de volta.

Mamãe ama Martin porque ele é real, e quando eu for também, ela irá ler para mim e me colocar na cama, cantará e escutará o que eu tenho para dizer, ela cuidará de mim e me dirá centenas de vezes por dia que me ama!

Parece o enredo de Pinóquio? Pois é, essa segunda e principal parte do filme é uma releitura moderna desse conhecido conto de fadas, essa referência é tão explícita que o próprio David procura literalmente pela fada azul, a mesma que transformou o boneco de madeira numa criança de verdade. Na história original, o Pinóquio precisa aprender a falar verdade e fazer boas ações para que seu desejo seja atendido, mas o que David precisa fazer para encontrar a tal fada azul? Ele não sabe, mas não desiste do seu sonho.





Nessa jornada, o menino-máquina conhece o Gigolo Joe (Jude Law), outro robô feito para satisfazer os caprichos humanos, só que esse não é programado para amar, apenas satisfazer a libido de suas “freguesas”. É Joe quem que explica porque os humanos odeiam/temem os meca (como os robôs são chamados - abreviatura de mecânicos, em oposição a Orga: os homens orgânicos): “Eles (humanos) nos fizeram muito espertos, muito rápidos e em uma quantidade muito grande”.


O filme então começa a deixar as divagações a respeito de relações familiares , responsabilidades com os filhos e ética em se criar seres sencientes para entrar nas questões sociais, como preconceito aos diferentes, assim como as minorias perseguidas, os mecas são odiados não por suas ações ou por provocarem conflitos, mas por características natas que não escolheram e nem tem como evitar, em outras palavras por quem são.

Essa jornada é uma viagem de auto reconhecimento e luta por um sonho, após muitas aventuras e reviravoltas, o filme acaba de uma maneira polêmica, que como em muitos outros elementos, o final é aberto a diferentes interpretações e é amado por alguns e detestado por outros, assim como a história inteira, é preciso ter a mente aberta e sensibilidade artística para captar a maestria de Spielberg, que fechou o filme com chave de ouro.

4 comentários:

  1. Olá, Alessandro! Tudo bem?

    Puxa, que texto hein?
    Adorei a crítica e acredita que eu não tinha reparado na coincidência com o clássico Pinóquio? E você tem razão, pois realmente tem uma mega identificação com este clássico, além de questionar as relações familiares.

    Cara, adorei sua crítica.

    Forte abraço!
    http://www.irmaoslivreiros.com/

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  2. Já ouvir falar muito desse filme, só que até hoje não assiti
    Sua postagem aumentou meu interesse, então vou procurar ele para assistir depois

    http://acidadeliteraria.blogspot.com.br/

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  3. Oi
    Boa reviw eu já assisti esse filme muitas vezes, quando eu era criança eu achava confuso,
    mais depois entendi a essência do filme. Eu ficava mega preocupada com o robô.
    Legal você trazer a resenha de um filme mais antigo.

    momentocrivelli.blogspot.com.br

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