Autor: Denis Diderot
Editora: Círculo do Livro
Ano: 1988 (Original de 1796)
Páginas: 193
Nota: 3,5/5
Sinopse: A história das desventuras da jovem Suzanne Simonin, enclausurada contra vontade num convento - Diderot oferece-nos um quadro preciso e completo dos sentimentos profundos e elementares; no romance o desejo, o ódio e a desesperança estão sempre em cena. A Religiosa, cujo tema marcou forte presença na sensibilidade literária do século XVIII, contém pureza e violência trágica que são o carro-chefe da arte visionária que anuncia novos tempos.
Esse livro me incomodou muito,
mesmo sabendo que é uma história fictícia, uma tristeza acompanhou
a leitura de cada uma de suas páginas: tristeza pela injustiça
sofrida pela protagonista, pelo sofrimento decorrente dessa injustiça
e pela certeza que muitas moças devem ter vividos situação semelhantes em
conventos pelo mundo afora.
O Iluminismo foi um movimento
cultural que aconteceu durante o século XVIII, no qual as pessoas
passaram a acreditar menos no sobrenatural e mais na ciência, quando
o pensamento racional começou a suplantar a fé cega. Foi nesse
período que o filósofo e escritor francês Diderot escreveu essa
obra, na introdução é revelado em forma de carta que um de seus
amigos mais íntimos escreveu a outro companheiro:
Um de nossos amigos comuns o visitou, encontrando-o mergulhado na dor, o rosto inundado de lágrimas. 'O que tem?' perguntou-lhe; 'em que estado o vejo!' 'O que tenho', respondeu o senhor Diderot, 'é que fiquei desolado com um conto que eu mesmo fiz'. [...]
Pois é, nessa época em que a
razão parece se sobrepor às emoções, um homem adulto e estudado
ficar abalado com um conto, é de se supor que seja uma história
terrível, talvez algo sobrenatural cheia de demônios que não podem
ser explicados de maneira natural (o maior pesadelo para um cético),
mas não é nada disso. É um caso mundano, livremente baseado no
drama real de Marguerite Delamarre, fechada num convento contra a sua
vontade e que tentou se desligar, um escândalo na época. Como se
pode imaginar, os únicos demônios que aparecem aqui são os
próprios homens.
Após uma breve introdução no
formato epistolar, na qual ficamos sabendo quem é Diderot e porque
ele resolveu escrever esse conto, que depois se tornou um romance, o
foco narrativo muda para Suzanne
Simonin – é ela quem vai contar sua história em primeira pessoa.
Somos apresentados a seus pais, sua família e como foi sua infância.
Já nesse começo um fato
importante é revelado, ela é filha ilegítima e na mentalidade
daquela época isso era um crime grave – crime que, na verdade, sua
mãe quem cometeu, pois se isso for verdade ela que foi a adúltera e não a menina.
Interroguei-me sobre a origem desta singularidade num pai e numa mãe aliás honestos, justos e piedosos. Confessar-lho ei, senhor? Algumas circunstâncias reunidas em diferentes momentos, as falas dos vizinhos, as conversas dos criados, faziam-me desconfiar de uma razão que os poderia desculpar um pouco. Talvez o meu pai tivesse alguma dúvida acerca do meu nascimento; talvez eu recordasse à minha mãe uma falta cometida e a ingratidão de um homem a quem ela teria dado ouvidos em demasia; que sei eu? Mas quando estas suspeitas não fossem fundamentadas que arriscava eu em vo-las confiar?
Como mostrado no trecho acima,
ela era tratada diferente de suas irmãs, as duas se casaram e foram
morar com seus maridos e o pai dividiu a herança, doando a parte de
Suzanne à Igreja e mandando-a para o convento quando ela completou
16 anos, fazendo assim que ela ficasse refém dessa situação, pois
se saísse do convento não teria mais casa para voltar e nem como se
sustentar, pois naquela época uma mulher de família não poderia
trabalhar para sobreviver.
Mesmo assim, desde cedo ela
sabia que não queria essa vida, tentou de todas as maneiras, mas não
conseguiu, evitar esse destino. É uma história de luta contra a
correnteza, de uma mulher valente que tenta moldar seu destino
contra uma sociedade que não lhe dá alternativas, e uma Igreja
corrupta e mesquinha. A narrativa é tão pesada que chega a exagerar
em certos pontos, é um retrato do ódio que a sociedade francesa
nutria contra a Igreja durante a Revolução Francesa.
Apesar de toda essa desgraça,
é um livro bem escrito que prende o leitor, daqueles que você não
sossega até chegar no final e quando chega se lamenta de já ter
acabado.
Olá, Alessandro! Tudo bem?
ResponderExcluirCara, que livro diferente, hein?
Confesso que nunca li nada que relatasse o iluminismo.
Embora gostei bastante de sua resenha, do modo como você descreveu, acredito que não leria este livro.
Forte abraço!
http://www.irmaoslivreiros.com/2015/09/meu-primeiro-assassinato.html
Alessandro,
ResponderExcluirFiquei com pena da garota, viver dessa forma... difícil!!
Mas se te prendeu até o final, deve ser muito bom. Vou colocar na minha lista.
Parabéns pela resenha
Conchegodasletras.blogspot.com.br
Oi Alessandro, tudo bem?
ResponderExcluirNunca tinha visto este livro e também não lembro de já ter lido algo que se passasse nesta época.
Pela sua resenha percebi que a história é forte, pesada, e que deve mexer muito com nossas emoções.
Não sei se leria no momento, mas vou deixar sua dica anotada.
Um abraço.
Lia Christo
www.docesletras.com.br