Autora: Xue Xinran
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2003
Páginas: 288
Nota: 5/5
Sinopse: A jornalista Xinran coletou inúmeros relatos sobre a vida da mulher chinesa contemporânea durante os oito anos em que comando o programa de rádio "Palavras na brisa noturna", entre 1989 e 1997. Mostra a história de mulheres onde predomina a memória da humilhação e do abandono: casamentos forçados, estupros, desilusões amorosas, miséria e preconceito.
Conhecer um país não é apenas
conhecer suas paisagens, acidentes geográficos ou cidades. Os países
são feitos de pessoas, então a melhor maneira de realmente conhecer
uma nação é estudando como seu povo vive, no que ele acredita,
quais são seus medos e sonhos; enfim, entender sua cultura. Por este
motivo, esse livro é muito mais que uma simples coleção de relatos
que a autora juntou em décadas trabalhando como repórter
radialista; é um retrato gritante da China moderna.
A vida das mulheres não costuma
ser fácil em nenhum lugar do mundo, principalmente em zonas rurais
afastadas de grandes centros. Mas “não ser fácil” é um
eufemismo bizarro perto da realidade que as chinesas tem vivido nas
últimas décadas do século XX e meados do XXI, período em que as
histórias narradas pela escritora Xinram aconteceram.
É um livro carregado de emoção,
tanto das mulheres que viveram, quanto da escritora que ao reuni-las,
se envolveu com essas pessoas e sofreu com elas por tudo que
passaram. Já no prólogo, quando conta um episódio em que enfrentou
um ladrão que tentou roubou sua bolsa, na qual havia o único
manuscrito do livro, ela desabafa:
(...) em muitos sentidos, o meu livro era a minha vida. Era o meu depoimento sobre a vida de mulheres chinesas, o resultado de um trabalho de muitos anos como jornalista. Eu sabia que tinha sido imprudente: se tivesse perdido o manuscrito, poderia ter tentado reescrevê-lo. Mas não tinha certeza se seria capaz de enfrentar novamente as emoções extremas provocadas pela redação do livro. Fora doloroso reviver as histórias das mulheres que eu tinha conhecido, e ainda mais difícil pôr as minhas lembranças em ordem e encontrar uma linguagem adequada para expressá-las. Ao lutar pela bolsa, eu estava defendendo meus sentimentos e os das mulheres chinesas...
Então, fique avisado, se você
for um leitor mais sensível se prepare para muitas lágrimas, as
personagens retratadas são de vários tipos: meninas, jovens e
mulheres maduras; pobres, de classe média e abastadas; com família
ou sem; apaixonadas ou que nunca tiveram essa experiência; enfim há
uma infinidade de pessoas diferentes mas todas são mulheres chinesas
e sofrem por isso.
Sofredoras, porém, a maioria são
lutadoras. Há vários registros de fazer o estômago revirar com
repulsa, em que você pensa: como essa pessoa conseguiu sobreviver a
isso tudo? Como ela aguenta tanta dor e não enlouquece? São
histórias que mostram, embora ainda há quem considere as mulheres
seres frágeis e delicadas, o poder da resiliência feminina.
Um dos relatos que me chamou a
atenção foi o das moradoras de uma região bem afastada, conhecida
como Colina dos Gritos em que as mulheres ainda estão em total
submissão aos homens e que só viviam para cuidar de suas famílias
tendo sempre que aguentar os problemas caladas. Há de se pensar que
por viverem nessa situação elas sejam tristas mas Xinram conta:
Mas eu disse a Mengxing que, entre as centenas de chinesas com quem eu havia conversado ao longo de quase dez anos de transmissões de rádio e jornalismo, as mulheres da colina dos Gritos foram as únicas a me dizer que eram felizes.
Muita reflexão sobre esta
constatação pode ser feita, afinal elas estão erradas em se
conformar tanto assim? O que significa, mesmo, ser feliz? Por que as
pessoas que tem mais bens/qualidade de vida, geralmente, são as que
precisam mais ainda para serem realizadas? Como pode se ver, é mais
que um livro que contam histórias sobre moradoras de um país que
fica no outro lado do mundo. É um convite para que reflitamos sobre
nossa própria vida e nossos privilégios, por mais sofrida que nossa
vida possa parecer ainda é excelente se comparada com a vida das
boas mulheres da China.
Um dos meus livros preferidos.
ResponderExcluirSe é um livro cheio de emoção, então tenho que ler.. vou colocar na minha lista!!!
ResponderExcluirAinda sendo um livro que podemos refletir, pensar sobre nossa vida. Parece ser bem lindo.
Obrigada pela indicação
conchegodasletras.blogspot.com.br
Não conhecia o livro ainda, mas depois da resenha fiquei com muita vontade de ler. Adoro livros que retratem a realidade das mulheres. Há pouco tempo li um que falava sobre as mulheres árabes. mas sabe que as semelhanças com nós, mulheres daqui é de assustar. Mas a garra de cada mulher, árabe, brasileira, chinesa, me faz acreditar em um futuro melhor =D
ResponderExcluirUm beijão
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/
Olá! Por ser um aspirante a jornalista, gosto muito de livros que aborda assuntos cotidianos/culturais/tabus/polêmicos de um país. O livro é um romance-reportagem, certo? Fiquei curioso, e é uma leitura que despertou um interesse em mim. Abraços!
ResponderExcluircafeliterari-o.blogspot.com