Autor: Leon Tostói
Editora: Editora 34
Ano: 2003 (Original de 1886)
Páginas: 102
Nota: 5/5
Sinopse: A história de um burocrata medíocre, Ivan Ilitch, um juiz respeitado que depois de conseguir uma oferta para ser juiz em uma outra cidade, compra um apartamento lá, para ele, sua mulher, sua filha e seu filho morarem. Ao ir para o apartamento, antes de todos, para decorá-lo, ele cai e se machuca na região do rim, dando início à uma doença grave.
Esse
livro engana, quem vê o tamanho diminuto pode pensar que trata de
uma obra superficial, talvez um romance água com açúcar bobo. Mas
é só impressão, nas palavras de um dos maiores críticos
literários do Brasil, Otto Maria Carpeaux: "A
Morte de Ivan Ilitch é
uma das obras mais comoventes e mais pungentes da literatura
universal, talvez a obra-prima de Tolstói"
O enredo não é linear: começa
pelo enterro do protagonista, depois vemos o seu casamento e o começo
da sua vida, e só depois a doença e morte propriamente dita. É uma
crítica séria à sociedade, não apenas a Russa do século XIX, mas
a todas regidas pelo dinheiro e aparências, até onde eu sei, todas
as sociedades humanas.
E não se trata apenas disso: a
relação de um doente com sua família, a forma como ele é tratado
por sua mulher e outros parentes e como estes querem ser vistos e o
que querem esconder da sociedade, são elementos importante da
narrativa, entretanto não são o único foco de interesse, o autor
transcende esse problema banal ao fazer Ivan refletir sobre sua vida
e perceber que, de toda a sua família, apenas o filho menor parecia
se importar um pouco com ele:
O que mais atormentava Ivan Ilitch, além da mentira, ou como consequência dessa mentira, era que ninguém o lamentava como ele queria ser lamentado. Em certos momentos, depois de longas crises dolorosas, por muita vergonha que sentisse de a si próprio confessar, mais que tudo teria desejado que o lamentassem como a uma criancinha doente. Tinha vontade de que lhe fizessem festas, o beijassem, chorassem ao pé dele, como se acariciam e se consolam as crianças.
Ivan
também não é um herói bonzinho que sofre nas mãos de uma mulher
malvada e parentes ingratos, ele percebe como se tornou mesquinho e
desprezou parentes e amigos menos afortunados, e como viveu de
mentiras e ilusões. Ao
recapitular suas realizações, o protagonista começa a perceber que
apesar de todas vitórias que teve na vida, todo seu
dinheiro
e o cargo de juiz não lhe servem agora e pior
começa
a pensar se
vale a pena continuar lutando para vencer
sua enfermidade, ou
se é melhor desistir
e morrer
logo de vez.
Assim como ele, muitos de nós
pobres seres humanos, vivemos sem nos lembrar que somos mortais e,
muitas vezes, quando percebemos este fato, já estamos no crepúsculo
da vida e isso pode ser assustado e/ou decepcionante, como foi pra
Ivan Ilithc.
“Não existirei mais e então o que virá? Não haverá nada. Onde estarei quando não existir mais? Será isso morrer? Não. eu não vou aceitar isso!” Levantou-se e tentou acender a vela com as mãos trêmulas. Deixou cair a vela e castiçal no chão e atirou-se outra vez à cama. “De que adianta? Que diferença faz?”
Como se pode perceber, não é uma
obra leve e nada boba. Ao lê-la, é impossível não pensar sobre
sua própria vida e suas realizações, apesar de não ser um
personagem simpático, o leitor provavelmente vai ser pôr no em seu
lugar e sofrer por ele. Não há esperança ou alguma revelação
redentora, aliás como o narrador começa pelo final, o leitor já
tem uma ideia que não haverá um happy ending.
Adorei <3
ResponderExcluirOlá Alessandro, tudo bem?
ResponderExcluirEu não conhecia o livro, mas pelo que li em sua resenha, me deu a impressão de uma trama interessante, inteligente e de certa forma triste.
Dica anotada. Se tiver oportunidade irei conferir.
Abraço.
Lia Christo
www.docesletras.com.br