Autor: Ken Kesey
Editora: Viking Press / Signet Books
Editora no Brasil: Record / Best Bolso
Ano: 1962
Páginas: 432
Sinopse: O livro relata a história de McMurphy, que é preso e, para fugir dos trabalhos da prisão, resolve fingir-se de louco. Enviado ao manicômio, McMurphy começa a viver uma triste e difícil realidade. A fim de quebrar a rotina e demonstrar seus pensamentos, ele desobedece às regras do manicômio e passa a ser considerado um líder protetor pelos outros pacientes. Mas, ao mesmo tempo, ganha a inimizade da enfermeira-chefe. O livro trata, entre outras questões, de relacionamentos, saúde mental, isolamento e atenção a pessoas com transtornos mentais.
Depois de finalizar a leitura do livro de Ken Kesey
não há como não parar por um segundo e dedicar a si mesmo um momento de
reflexão. Passada em um hospício, a trama de “Um estranho no Ninho” se divide
entre suave e arrebatadora de corações.
Comecei a ler esperando o melhor da história da
medicina psiquiátrica, com cenas intensas de lobotomia e eletrochoque. Mas após
a leitura das primeiras 100 páginas, cheguei a conclusão de que não era bem
daquilo que o livro tratava.
O autor do livro, Ken Kesey, retrata ali boa parte
da sua própria experiência após ter trabalhado num hospital para veteranos de
guerra. Talvez tenha sido esta experiência que o fez capaz de ler os anseios
dos internos e transportá-los para o papel.
O livro conta a história de Randle Patrick McMurphy,
um presidiário que se finge de psicopata para ser transferido para um hospital
e digamos que “levar uma vida mansa”. Contudo, o hospital é conduzido com mãos
de ferro pela enfermeira Ratched, uma espécie de Hitler com peitos, e que
suprime todo e qualquer tipo de ação dos internos, isso desperta um extremo
instinto de rebeldia em McMurphy, que acaba por contagiar toda a clínica.
Narrada por Chefe Bromden, um índio mestiço que se
finge de surdo e mudo, a história gira em torno não necessariamente de
McMurphy, mas da mudança que ele traz ao chegar naquele hospital. Os pacientes,
que se dividem entre Agudos (casos recuperáveis) e Crônicos (casos
irrecuperáveis), em diversos momentos se mostram extremamente cansados, sem
esperança e sem forças, afinal, depois de alguns anos tomando calmantes e
levando choques não há espírito que resista, não é mesmo? E a chegada de McMurphy
muda isso completamente.
Aliás,
a chegada de McMurphy muda isso no próprio leitor também.
Ao ler a respeito de um lugar opressivo e de
internos oprimidos, você encara um personagem que nada contra a correnteza com
a mesma descrença dos internos. Em vários momentos enquanto lia eu fiquei
esperando pela derrota de McMurphy, não por ele não ser um personagem cativante,
uma vez que ele é um personagem peculiaríssimo, mas por que em um ambiente
opressor, nem você consegue ver a esperança.
E é isso que McMurphy, um sujeito pilantrão,
tatuado, ganancioso, boca suja e deveras tarado traz ao hospício. Ele recupera
a realidade daqueles pacientes que há muito estavam afundados em um universo
longínquo e isolado demais para sequer se lembrarem que eram homens.
Vale a pena lê-lo e absorvê-lo, não apenas mastigá-lo
e empurrá-lo goela abaixo. Este é um livro que você precisa refletir enquanto
lê. Acima de tudo é preciso ver nas entrelinhas que aquele não é um livro sobre
loucura, é um livro sobre lucidez. Sobre redescobrir que se pode ser lúcido e
lutar por si mesmo, algo que é tão difícil de se descobrir em um hospício,
quanto pelo mundo a fora.
O livro rendeu diversas adaptações ao teatro e
cinema, sendo a mais famosa dirigida por Milos Forman e tendo Jack Nicholson
(amo esse cara) como McMurphy. “Um estranho no ninho” recupera valores através
da figura do desvalorizado, e apesar da trama demorar demasiadamente a atingir
o clímax e perder um pouco com mini tramas desnecessárias, tudo caminha para o
final esclarecedor.
Não classificaria o final como extraordinário, uma
vez que em alguns momentos a narração de Kesey se torna meio embaralhada e
dispersa, mas o fim foi exatamente o que o livro deveria ter. A leitura é
extremamente recomendada.
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