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"A terra das maravilhas, onde os bichos batem papo."



“Quase chego a desejar nunca ter entrado na toca do coelho e, no entanto... No entanto... É interessante, sabe? Esse tipo de vida.”



Tenho uma vaga lembrança da tinta marfim das paredes do quarto em que me tranquei para ler Alice no País das Maravilhas. Naquela época, as únicas coisas que me interessavam eram as peculiaridades de um mundo disponível somente naquelas páginas ilustradas, embora hoje, com o passar dos anos, por ter relido o clássico infantil tantas vezes, talvez entenda tudo que minha tenra idade não permitira compreender naquele determinado momento. Cada livro possui sua mensagem e cada mensagem é distinta dependendo dos olhos de quem lê. E esta foi a minha.

Assim como Alice, eu estava entrando na toca do coelho. Uma toca feita de sonhos alheios e páginas desconhecidas que, gradativamente, tornam-se familiares. Uma toca formada de livros. Sim, livros. Uma toca que pode ser maravilhosa e ao mesmo tempo cruel, pois ela te acalenta, consola e resgata somente para depois te jogar de volta em um mundo insuficiente. Acho que esse é o maior dilema que um leitor pode enfrentar: uma vez que entra na toca do coelho, jamais se satisfaz com uma realidade ausente de chapeleiros malucos tomando o chá da tarde com lebres e marmotas. É simplesmente brutal. A sensação de despertar deste mundo de fantasias para o mundo real é, no mínimo, desesperadora.

Porque nos livros, nas histórias em geral, fazemos parte de outras histórias, de outros mundos e nos relacionamos com outras pessoas. Tudo é tão diferente de nossa realidade, cheia de preocupações e responsabilidades, que a ideia de cogitar despertar é terrível.

“Alice entrou na toca também. Nem pensou em como poderia sair de lá depois.”

Despertamos, assim como Alice, no final do livro e tentamos adaptar a visão para outra coisa completamente diferente. Morremos com um livro e nascemos com outro. Acordando e dormindo. Entrando e saindo da toca, somente para voltar em outra hora, e aí, nos sentirmos completos outra vez. E aí poder voltar pra essa outra realidade que, parece, é ainda mais concreta do que a nossa própria realidade, a realidade em que vivemos.
Acredito que o fato de termos essas outras realidades nos esperando torna o fardo da vida mais leve. O fato de podermos, nem que por alguns instantes, sermos parte de outro mundo, sermos nós mesmos, realmente, sermos livres... Ah! Esses breves momentos de fuga compensam qualquer outro momento de incerteza, tristeza, solidão que o “mundo real” nos proporciona todos os dias, como se fosse um tapa em nossa face. E, na verdade, muitas vezes o que precisamos é uma boa história que nos faça esquecer por um instante nossa realidade.

E Lewis, que estava somente contando uma história absurda, talvez nunca tenha imaginado que alguém tentaria enfiar tantos simbolismos em seu universo imaginário, porque talvez não haja metáfora nenhuma. Talvez seja só uma garota avistando um coelho que sabe ver as horas. Talvez seja só uma garota que tem um vislumbre da vida fora do mundo real. Simples.

“Alice saiu correndo, pensando que seu sonho tinha sido mesmo uma maravilha.”


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