Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
2

Adeus

Foto: Divulgação/Warp Films/Weinstein Company


Ando por uma rua deserta. Além do som de meus passos e da minha respiração, só ouço o barulho do vento que passa por mim sem dificuldade. É uma brisa suave, típica das noites de verão. Uma brisa que deveria levar consigo tudo de ruim que encontrasse no caminho.


Decidi sair para uma caminhada porque eu simplesmente não aguentava mais o sufoco do meu pequeno quarto no décimo oitavo andar. Tudo ali parecia querer me engolir ou me estrangular. Tudo parecia me puxar para um buraco cujo fundo eu não conseguia ver. Talvez nem houvesse um fundo, afinal. Era um abismo, então.
Os livros desarrumados, as fotos espalhadas pela escrivaninha, o barulho quase inaudível mas, ao mesmo tempo, ensurdecedor do computador. Tudo me sufocava. Era o caos. E era só meu quarto.
Agora, andando pela rua deserta em que estou, o que me sufoca são meus pensamentos e meus sentimentos amargos. Não sei qual sufoco é pior. Acho que ser sufocada pelos próprios pensamentos e sentimentos amargos é pior.
As pessoas vão embora.
Não embora do tipo “tchau, te vejo em breve!”. A despedida aqui é mais forte. É mais um “adeus” do que um “até logo”. Então é isso. As pessoas dizem adeus.
Cada partida tem seu impacto, mas é inegável que toda partida, quando vem de alguém consideravelmente próximo, dói. E cada partida tem uma dor diferente.
Eu já experimentei partidas que eram como a picada de uma agulha. Rápidas. Doloridas no início, mas que passaram logo em seguida.
Também já experimentei partidas que doeram como um chute no estômago. Não que eu já tenha tomado um, mas imagino que a dor deva ser razoavelmente forte.
Já experimentei partidas que doeram tanto, mas tanto, que parecia que nunca iria acabar. Era como se a dor fosse infinita. Uma dor excruciante. Uma dor que simplesmente insistia em estar ali, mesmo sabendo que machucava demais e que não era bem-vinda.
Pé ante pé, caminho na rua deserta. Nada além de passos. Respiração. Brisa. Pensamentos. Sentimentos amargos. E a dor da partida.
É engraçada a sensação de vazio que usualmente me invade em momentos de partida. É como se meu cérebro entrasse em um estado de torpor momentâneo. Tudo fica vazio. Nada. Zero.
E depois, a dor.
E a sensação de estar sendo sugada para um abismo de dor.
E tudo oscila entre dor e torpor temporário. O sentir nada e sentir tudo ao mesmo tempo.
É confuso.
Permito-me sentar no meio-fio, fitando um muro cinza na calçada oposta.
Permito-me ficar ali, parada, apreciando aquele muro pelo que parecem horas.
Permito-me chorar como uma criança cuja mãe não quis comprar aquele brinquedo tão desejado.
Permito-me, por um momento, sentir a dor. Tornar-me a dor.
Permito-me socar o chão. Permito-me tentar desviar a atenção da dor interna, a qual não tenho como curar e não sei lidar, para uma dor física.
Permito-me olhar para o céu e perguntar, para ninguém ou algo especial, por que diabos as pessoas vão embora.
E fico ali, permitindo-me.
E aceito os ‘adeus’, pois não há nada que eu possa fazer para mudá-los.

2 comentários:

  1. Que texto lindo, parabéns. Muitas vezes, o maior problema é que não nos permitimos sentir a dor. A dor deve ser sentida para depois poder ser ignorada.
    Um beijo

    Vidas em Preto e Branco 

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lary, fico feliz que tenha gostado do texto!
      Sim. O grande problema é aceitar a dor. Mas é compreensível. A dor da partida daqueles que amamos é tão forte que, muitas vezes, parece que nós simplesmente não vamos aguentar. Felizmente, nós sempre damos um jeito de seguir em frente.
      Beijos!

      Excluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...