Estrelas salpicavam o
enorme céu negro sobre sua cabeça. Olhando para elas, em sua organização
desorganizada, desejava reconhecer as constelações. Desejava conhecer o segredo
por trás de tanto brilho. Mas era leigo nesses assuntos, não saberia reconhecer
o cruzeiro nem se ele estivesse debaixo de seu nariz. Tudo que seus olhos viam
eram pontos brilhantes no céu. Brilhantes demais para um dia tão ruim.
As luzes amarelas dos
postes banhavam John quase como um holofote, ele era a atração principal daquele
show sem plateia. Atado a uma cadeira, sentia as mãos ficarem dormentes
amarradas atrás do encosto. Os tornozelos estavam atados com semelhante
intensidade e sentia os cordões se afundando em sua pele “Vai deixar uma marca feia para quando a polícia encontrar meu corpo”, ele
pensou tristemente.
Na sua frente, apenas
uma parede velha, ninguém nem sequer havia se incomodado em grafitá-la. Se ele
soubesse de existência daquela parede alguns meses antes poderia muito bem ter
sido o primeiro a fazer uma arte ali, mas agora era tarde demais pra pensar em
traquinagens.
Suspirou na cadeira de
madeira, já estava quase se sentindo parte dela. Estavam demorando demais, era
injusto que o deixassem tanto tempo esperando. A espera estava deixando-o
inquieto, ou pior, esperançoso. Talvez aquilo só fizesse parte da tortura.
John fechou os olhos e
deixou que uma torrente de pensamentos o inundasse. Ele não havia sido o homem
mais honesto do mundo, sabia de todas as vidas que destruíra. John não se
arrependia de todo, o dinheiro que ganhou com trapaças o manteve vivo. Mas
agora ele ia morrer. Quando encontrarem seu corpo vão dar graças por ter um
criminoso a menos na rua, ninguém ia sentir falta de um vagabundo. John soltou
um suspiro lamentoso.
Um par de faróis
iluminou a parede diante dele e os pneus do carro chapinharam no cascalho
cinzento. A hora tinha chegado. Secretamente John ficou um pouco aliviado, não
aguentava mais esperar enquanto sonhava com alguma entidade sobrenatural saindo
do chão para salvá-la, ele não tinha salvação.
A porta do carro se
abriu, alguém desceu e caminhou lentamente em sua direção. John pode ouvir cada
passo, cada afundada de pés no cascalho era como se fosse sobre seu pescoço.
Uma adrenalina nova circulava dentro de si, seu coração batia tão forte que
podia senti-lo sólido em sua garganta, “É,
Johnny meu velho, você vai morrer”.
Viu a silhueta do seu
algoz projetada pelos faróis em uma sombra sobre a parede, era uma mulher. Uma
mulher cheia de curvas. John sorriu nervoso, era tão trágica aquela situação.
Pela sombra, pode vê-la erguendo um galão sobre sua cabeça e logo em seguida
sentiu o cheiro e o sabor do líquido que era despejado sobre si. Sentia os
olhos em chamas, o líquido tinha sabor ruim e o cuspiu para longe, mas logo ele
voltava a inundar seu rosto, e entrar em seu nariz. Cerrou os lábios com força
e aguardou enquanto seu corpo era encharcado, escorrendo por seu peito até suas
pernas e pés. O líquido era gasolina.
- Não faça isso, por
favor. – disse ofegando quando a mulher parou de afogá-lo em gasolina. – Eu
tenho dinheiro, é só dizer quanto você quer...
- Você não pode me
comprar, Johnny. Você está acabado. – a voz dela era rouca e sensual, ele
conhecia aquela voz.
- Jenny? – John se viu
tremendo, não era possível, Jenny estava morta.
- Não. – ela respondeu
aproximando o rosto do ouvido de John. – Jenny morreu, você a matou. Eu sou só
um fantasma.
- Jenny e-eu...
- Tarde demais John,
tarde demais.
Na parede diante de si,
a silhueta se afastava tão lentamente quanto havia se aproximado, mas agora ela
despejava o restante da gasolina no chão, fazendo um caminho a partir de John.
Seus olhos ardiam e seu peito parecia se incendiar a cada golfada de ar que
sugava, que belo jeito de se morrer.
O estalo do isqueiro sendo
aceso, por mais tênue que fosse não escapou aos ouvidos dele, e naquele breve
instante John tentou se debater, uma escolha infeliz, por sinal. Chacoalhou os
ombros freneticamente enquanto gritava por socorro. Forçou os quadris para
longe da cadeira, em uma última tentativa desesperada de sobrevivência, mas
tudo que conseguiu foi fazer com que a cadeira tombasse e ele enfiasse o rosto
no cascalho poeirento.
Caído no chão, John
pode ver o fogo. As chamas se erguiam rápido, correndo ao seu encontro, produziam
sons tênues, se agitando com o vento e assoviando bem baixinho. John fechou os
olhos, mas seu último pensamento foi em Jenny. Ele pode ver os olhos azuis dela
assustados quando ele ergueu a pistola, “O
que está fazendo John?”, ele quase podia ouvi-la dizendo isso novamente, “Estou cumprindo ordens, me desculpe”,
ele respondeu e rapidamente apertou o gatilho, ele estava tremendo e se não
fizesse o que lhe fora ordenado, ele poderia morrer também. Uma grande ironia.
Ele a matou, ou ao menos pensou que o havia feito, agora era justo que ela lhe
retribuísse o favor.
O caminho inteiro pegou
fogo e o tempo de John acabou.
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Este texto foi baseado na música/videoclipe "Misery" da banda The Maine, e marca um novo tipo de texto que poderá aparecer vez ou outra aqui pelo blog, muito conhecido pelas vielas obscuras dos sites de fanfic como "One Shot", que é basicamente uma história curta de capítulo único para ser engolida e digerida de uma única vez.
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH, LARA, QUE DILIÇA DE LEITURA *o* Adoro leitura rápida para encerrar a noite cansativa, ainda mais quando fico inventando mentalmente que não posso ler porque eu eu tenho outra coisa para fazer, ou seja, nada UAHSUASHUASHUASHAUSHASUHASUHAS Mui bueno, linda (:
ResponderExcluirMayy!! Você descobriu o lugar que eu fiquei todo esse tempo enquanto não estava fanficando aheuhaueaeh Eu também adoro one shot, uma pena que a maioria é meio superficial. Muito obrigada viu! Abraços, sua linda! <3
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