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Ensaio sobre decisões e grandiosidade


Há algo extremamente perturbador no período que procede a uma decisão. Enquanto a maioria das pessoas sente-se com um fardo a menos, meu espírito é tomado por um terror absurdo, característico da ausência de infinitas possibilidades que antes se estendiam a meu bel prazer. Algumas opções estavam lá somente para serem descartadas, contudo era bom saber que, caso eu mudasse minha mente, poderia considerar e desconsiderar no mesmo minuto. Era confortável a sensação de dispor de diversas escolhas, de poder manipular, por assim dizer, o futuro.

Decisão tomada. Universos paralelos que fecham suas portas. Talvez uma delas fosse a certa. Via única. O fato é que tomamos decisões a todo instante durante nossas breves vidas e isso nos leva a crer, ingenuamente, que somos poderosos sobre nós mesmos, que pertencemos a nós mesmos, somente. Nossa liberdade de escolha nos dá uma sensação de poder, fazendo com que achemos que temos controle sobre alguma coisa. A verdade - bruta e não lapidada –, entretanto, é que não temos.

Algo nos leva a crer que somos o que somos porque assim o escolhemos; algo nos faz acreditar que somos o que somos porque é assim que queremos que seja quando, na verdade, somos o que nos deixam ser. Somos o meio em que vivemos, o momento em que estamos e, acima de tudo, somos os outros. Um “eu” que é a soma de todos os outros “eus” que caminham ou caminharam ao nosso redor; somos a herança que eles nos deram. Somos o resultado de convivência com outros “eus” durante anos ou meses, ou dias ou horas, somente. Afinal, não há animal mais dependente que o homem. Não há ser vivo na face da Terra que dependa mais dos outros do que nós. Todo homem sente fome e a variável da equação é como o meio o alimenta. 

Então, eu pergunto, por que andamos por aí nos sentindo tão senhores de nós mesmos? A verdade, então, é que nada sabemos e que nem a nós mesmos pertencemos. Por que temos orgulho de andar por aí achando que tudo que decidimos, sentimos e pensamos faz alguma diferença no Universo ao qual estamos presos? Será que a Terra vai mudar o sentido da sua rotação se eu escolher, só hoje, me enclausurar e ignorar o ruído das pessoas? Não. A Terra continua a mesma. O Universo dá um jeito de continuar, conosco ou não.

Pessoas morrem e nascem o tempo todo; crianças choram, muitos sentem fome, frio e medo. O mundo é um lugar feio e abrimos mão de tentar mudá-lo todos os dias, ao pensarmos que ele está quebrado demais para que valha a pena consertar uma pequena e insignificante porção. Porque, aliás, todos nós sentimos, no fundo das nossas almas, que somos destinados a coisas grandiosas, que somos especiais e que nossas escolhas, sentimentos e pensamentos nos farão ir além do imaginado por todos e por nós mesmos.

O grande paradoxo da vida, por assim dizer, então, é que nossas decisões não valem nada na soma total, são insignificantes numa escala universal. Ao mesmo tempo, entretanto, são extremamente necessárias, porque elas mudam o mundo. O nosso mundo. Esse nosso mundo que é tão insignificante quanto nós, mas que tem um peso terrível. Talvez não sejamos grandiosos. E, pensando melhor, não somos. E talvez nosso legado seja simplório, mas é essencial. Nosso legado é o que somos e o que fizemos. E, apesar de ser insignificante, é, ao mesmo tempo, grandioso. É o “eu”.

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