Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
1

A Cabana – Uma conversa amigável com Deus



Autor: William P. Young
Editora: Sextante
Ano: 2008
Páginas: 240
Nota: 4/5

Sinopse: A filha mais nova de Mackenzie Allen Philip foi raptada durante as férias em família e há evidências de que ela foi brutalmente assassinada e abandonada numa cabana. Quatro anos mais tarde, Mack recebe uma nota suspeita, aparentemente vinda de Deus, convidando-o para voltar àquela cabana para passar o fim de semana. Ignorando alertas de que poderia ser uma cilada, ele segue numa tarde de inverno e volta a cenário de seu pior pesadelo. O que encontra lá muda sua vida para sempre. Num mundo em que religião parece tornar-se irrelevante, “A Cabana” invoca a pergunta: “Se Deus é tão poderoso e tão cheio de amor, por que não faz nada para amenizar a dor e o sofrimento do mundo?” As respostas encontradas por Mack surpreenderão você e, provavelmente, o transformarão tanto quanto ele.

Geralmente, quando uma obra fala sobre Deus, é pregando uma mensagem religiosa, explicando algum dogma ou preceito de algum credo. Este livro é diferente, fala da relação entre homem-divindade de uma forma lúdica, sem defender ou atacar nenhuma Fé, pelo contrário, mostrando como Deus pode ser encontrado em qualquer uma delas.




A Cabana é um livro de ficção: possui personagens, um roteiro, drama e todos elementos narrativos necessários a um texto literário; mas ele extrapola isso. Sua função não se limita à simplesmente entreter o leitor com uma boa história, é um livro filosófico que se trata de uma das questões que mais persegue a humanidade em todos os tempos, se Deus é tão bom e poderoso, por que existe tanto mal em nosso mundo?


É um livro tocante, o Deus descrito por Young é um pai amoroso, que está presente e quer o bem dos seus filhos e, apesar de haver muitas referências ao cristianismo, afinal Deus apareceu para um homem que recebeu educação cristã; não se diz de nenhuma religião, pelo contrário ele as ataca:
Eu não crio instituições. Nunca criei, nunca criarei”. Para que não fiquem dúvidas sobre o sentido dessas palavras, Jesus completa em meio a uma expressão sombria: “Não gosto muito de religiões e também não gosto de política nem de economia... E por que deveria gostar? É a trindade de terrores criada pelo ser humano que assola a Terra e engana aqueles de quem eu gosto.

Como se ver, não é um livro dogmático, é uma conversa entre um homem amargurado que não consegue lidar com sua dor e um Deus amável que entende e respeita seu sofrimento, não há julgamentos, ao contrário da divindade irada citada no Antigo Testamento, o Deus no livro se preocupa mais com as pessoas que com seus pecados.

Mas, voltando ao tema do sofrimento, como um Ser tão poderoso e amável pode permitir que isso aconteça tantas vezes e com seres tão inocentes como Missy, a filhinha de Mack? Não é uma pergunta fácil e a resposta não é simples, na vida poucas coisas são tão exatas como os números e podem ser tão facilmente entendidas como na Matemática, mas o autor tem sua teoria que divide conosco na voz de Deus, quando ele diz a Mack que este devia julgá-Lo e à raça humana:


[Mack] O que eu deveria pensar? Simplesmente não entendo como Deus poderia amar Missy e deixar que ela passasse por aquele horror. Era uma menininha inocente. Não fez nada para merecer aquilo.
[Jesus] — Eu sei.
Mack prosseguiu:Deus usou-a para me castigar pelo que eu fiz com meu pai? (…) 
É esse o seu Deus, Mackenzie? Não é de se espantar que você esteja afogado na tristeza. Papai não é assim (…). 
Mas ele não impediu. 
Não, não impediu. Ele não impede um monte de coisas que lhe causam dor. (…) 
Mas ainda não entendo porque Missy teve de morrer. 
Ela não teve. (…) O que aconteceu com Missy foi trabalho do mal e ninguém do seu mundo está imune a ele. (...) 


Falando em mal, não em diabo ou demônio, Jesus não diz que Deus é impassível e que nos deixa à nossa própria sorte; como pode parecer, mas sim que o ser humano é livre para governar o mundo, e responsável pelos resultados desse governo, e que os humanos não tem o direito de julgá-lo ou exigir “sua percepção egocêntrica de como você acha que o universo deveria ser” quando são as próprias ações humanas que trazem tanto mal.

Em outras palavras, o mal existe e pode acontecer com qualquer pessoa, por isso não adianta querer entender ou culpar Deus quando uma coisa ruim acontece, devemos procurar forças para seguir em frente e não viver afogado na tristeza. Deus está aberto para nos amar e receber, para nos consolar e ajudar a superar, ou, pelo menos, conviver com a dor. Ele nunca prometeu uma vida sem sofrimentos.

Como já dito no início, apesar de toda essa conversa teológica, é uma obra de ficção. O final é bem verossímil e explica como Mack pôde ver e falar com Deus durante um fim de semana inteiro e, apesar de alguns clichês, a história termina de forma satisfatória e coerente.

Um comentário:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...