Direção:
Cary Joji Fukunaga
Roteiro:
Cary Joji Fukunaga e Uzodinma Iweala
Ano:
2015
Duração:
137 min.
Gênero:
Drama, Guerra
Nota:
4/5
Estreou
em 16 de outubro, o primeiro filme original da Netflix. Como era de
se esperar, a qualidade mostrada nas séries exclusivas da Companhia
se manteve, e somos agraciados como mais uma obra cheia de emoção,
sofrimento e perturbadora realidade.
No
filme O Senhor das Armas,
ao descrever as qualidades do fuzil AK-47, Orlov fala que até uma
criança consegue usá-lo e que é usado por muitas crianças, por
mais que essa frase seja chocante, o contexto e a intimidade que o
personagem tem com o telespectador, a tornam quase uma curiosidade
banal, como se o mercador de armas estivesse falando uma
característica qualquer, tipo
a cadência ou o coice do
fuzil.
Essa
amenidade se revela em toda sua crueldade no ótimo Beasts
of No Nation, no qual somos
apresentados ao outro lado do tráfico de armas – o lado dos
“consumidores”, ou seja, das pessoas que matam e morrem nos
campos de batalha; e como Orlov bem falou, o que não falta são
crianças participando dos conflitos.
A
história começa com Agu (Abraham Attah) contando um pouco sobre sua
vida e sua família. Apesar de viver em um país em guerra; e detalhe
uma guerra
contra seu próprio povo, porque o governo está enfrentando grupos
rebeldes; ele é um garoto normal, que brinca, apronta traquinagens e
não gosta da escola, o único elemento que denúncia o conflito é a
presença de tropas da ONU na vila onde vivem.
O
país onde Agu vive é fictício e não recebe um nome, sabe-se
apenas que fica na África Subsariana, porém os conflitos são reais
– baseados em diversas guerras que acontecem no continente que
quase sempre seguem o mesmo padrão.
Tudo
muda quando a vila está em eminência de ser atacada, as tropas da
ONU não possuem força para impedir o avanço e saem em retirada, o
pai de Agu decide mandar a esposa
e os filhos pequenos
fugirem para a capital,
ele e o irmão mais velho devem ficar com os outros homens para
tentar cuidar da aldeia, mas não há espaço para todos nos carros
que levam todas mulheres e
crianças e Agu acaba
ficando com os adultos. Quando as tropas chegam, matam todos e só
Agu consegue escapar, fugindo para o meio da selva.
Após
passar a noite no mato, sozinho e faminto, ele é encontrado por uma
tropa da FDL (Força de
Defesa Local), grupo paramilitar liderado pelo Comandante (Idris
Elba), um dos movimentos rebeldes que tenta derrubar o presidente do
país e assumir o poder. O Comandante decide recrutar Agu e fazer
dele um soldado.
Com
o “treinamento” e a vida de lutas, o menino começa a perder a
inocência e fazer coisas cruéis, mas ao contrário do que
aparentemente acontece com os outros, ele não se tornar sádico e
entende que é obrigado a
fazer tudo para se defender. O garoto é muito inteligente e
reflexivo, no começo tenta seguir o conselho de sua mãe e rezar
todas as noites mas percebe que Deus não lhe escuta naquele lugar, e
passa a “rezar” pra sua mãe, alternando momentos que ainda tem
esperança de encontrá-la e outros de desespero, como quando
desabafa “Eu só quero ser feliz nesta vida.”
É
um filme tenso, cheio de momentos repletos de emoção como na hora
em que ele encontra uma mulher totalmente desconhecida e pensa que é
sua mãe. O
único amigo que ele tem no
grupo é outro menino
conhecido por Strika
(Emmanuel Nii Adom Quaye),
ele não fala (talvez por algum trauma), mas mesmo assim Agu tenta
dialogar com o garoto:
Agu: [depois de receber uma trouxa de roupas de Strika] Você pegou essas coisas de onde?[Strika aponta]Agu: Retirou dos cadáveres?[Strika acena com a cabeça]Agu: Todo mundo chama você "Strika." Por quê?[Strika estende o braço direito vigorosamente]Agu: Você está gostando guerra?[Strika balança a cabeça]Agu: Ei, eu estou fazendo uma pergunta e você não está falando. Você tem uma família?[Strika balança a cabeça novamente]Agu: Estou pensando em minha mãe e irmão ... e minha irmã mais nova.
Além
de todo esse tom melodramático, há diversas
denúncias no longa, além do recrutamento de crianças, o Comandante
comete muitas atrocidades e tenta fazer os seus subordinados o verem
como um paí, só que não os trata como filhos, e os engana o tempo
inteiro, faz rituais que diz
serem bruxarias pra “fechar seus corpos” e que estão vencendo a
guerra aos poucos, um fato difícil de saber pra um grupo que não
tem um setor de inteligência
e nem estratégia definida.
Um
fato interessante que o filme revelou e que nunca imaginei (mas que
faz o maior sentido do mundo), por trás desses grupos terroristas
que tentam derrubar o governo, há políticos “sérios”, que não
só financiam os exércitos como os mandam em missões, que às vezes
não parecem fazer sentidos para os soldados que vão lutá-las mas
mesmo assim, precisam obedecer cegamente. Os personagens Dada
Goodblood (Jude Akuwudike) o Comandante Supremo e o Deputado (Brimah
Watara) que negocia com ele representam esses políticos.
Adorei a indicação, já está na minha lista!! :)
ResponderExcluirRapaz...
ResponderExcluirQue indicação legal, brother! Gostei muito!
Infelizmente essa é uma realidade ainda presente para os moradores do país, mas ainda é muito triste saber que são tratados de uma maneira brutal, mesmo com a intervenção da ONU para combater os guerrilheiros.
Este filem me fez lembrar de um livro que adorei ler "O Livro dos Negros", foi realmente impactante!
Leia a resenha no meu blog.
Abraços!
Participe do sorteio #outubrorosa no Irmãos Livreiros
Beasts of No Nation é ótimo, assim como todas as outras produções da Netflix. Adoro como todos os projetos da Netflix dá alguma cutucada em algum assunto tabu.
ResponderExcluirAbraço!
www.quadro42.blogspot.com
O filme é muito bom. Apresenta uma realidade muito cruel e desconhecida para muitos.
ResponderExcluirNa verdade, embora o filme não deixe explícito, há inúmeras pistas de ele se passa em um momento da guerra civil de Serra Leoa.
ResponderExcluirA milícia na qual Agu serviu tratava-se dos "Camajors" - grupo guerrilheiro formado em grande parte por crianças, com a incumbência de combater os guerrilheiros da Força Revolucionária Unida (FRU) e defender em determinados locais a população civil. O nome da milícia seria "Força de Defesa Civil".
Em vários pontos do filme é possível verificar essa constatação. Primeiro, a aldeia de Agu estava sob a tutela de tropas nigerianas da ONU; após tais tropas deixarem o país o presidente é deposto por uma junta militar; e logo após as spessoa migram para a capital em busca de proteção (da mesma forma como ocorreu na guerra civil de Serra Leoa).
Em um dado momento, um guerrilheiro da tropa de Agu fica horrorizado e diz que os inimigos estão amputando as mãos dos civis, prática que era comum dos rebeldes FRU.
Em um outro dado momento as tropas do comandante invadem e exterminam a população de um vilarejo, da mesma forma como ocorreu na vida real com os Camajors.
Além do mais, os Camajors eram uma milícia que incluíam em seu treinamento rituais de iniciação e magia negra, assim como no filme.
O uniforme de Agu, Stryka e outros é idêntico aos utilizados pelos Camajors. Além do mais, a vegetação que se passa no filme é idêntica à de Serra Leoa.
Existem outros detalhes que pode nos fazer crer se tratar da guerra civil de Serra Leoa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSempre gostei da filmes. São muito interessantes, podemos encontrar de diferentes gêneros. De forma interessante, o criador optou por inserir uma cena de abertura com personagens novos, o que acaba sendo um choque para o espectador, que esperava reencontrar de cara as queridas crianças. Desde que vi o elenco de Beasts Of No Nation imaginei que seria uma grande produção, já que tem a participação de atores muito reconhecidos, Pessoalmente eu irei ver por causo do ator Idris Elba, um ator muito comprometido (pode ver os Melhores Filmes 2017 são uma ótima opção para entreter), além disso, acho que ele é muito bonito e de bom estilo.
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