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A Abadia de Northanger: A realidade pela visão sarcástica de Jane Austen


Autora: Jane Austen                                       
Editora:  John Murray
Editora no Brasil: Martin Claret
Ano: 1818
Páginas: 301
 Escrito quando Jane Austen era muito jovem e publicado postumamente em 1808, “A Abadia de Northanger” é sem dúvida uma comédia satírica que aborda questões humanas de maneira sutil, tendo como pano de fundo a cidade de Bath. O enredo gira em torno de Catherine Morland, que deixa a tranquila, e por vezes tediosa, vida na zona rural da Inglaterra para passar uma temporada na agitada e sofisticada Bath do final do século XVIII. Catherine é uma jovem ingênua, cheia de energia e leitora voraz de romances góticos. O livro faz uma espécie de paródia a esses romances, especialmente os escritos por Ann Radecliffe, Jane Austen faz um ótimo contraste entre realidade e imaginação, vida pacata e as situações sinistras e excitantes que os personagens de um romance podem viver.

Embora esse tenha sido o primeiro livro de Jane Austen, escrito em 1803, nenhum de seus romances que li até agora tem uma temática tão atual e pertinente quanto a “A Abadia de Northanger”.

Antes de me aprofundar nas particularidades dessa obra, o leitor deve estar atento a duas informações de extrema relevância para que entenda o contexto em que foi concebido: Primeiro, embora o livro tenha sido escrito em 1803, ele foi lançado apenas em 1818, sendo o último livro de Jane a chegar ao conhecimento do público. No começo do livro, pelo menos nesta edição que adquiri, há um nota do autor que explica o por quê algumas informações não estarem condizentes com a época, apesar de que para nós, leitores do século XXI, isso não faça tanta diferença na história. O que é relevante para nós são fato de curiosidade apenas, como o nome “A Abadia de Northanger” não ter sido o título original decidido por Jane Austen e sim por seu irmão, já que o livro foi lançado postumamente.  A segunda informação é o conceito na qual o livro foi baseado, como uma grande paródia aos romances góticos da época.

Então começamos A Abadia, com todo o potencial irônico que já vimos e revimos através dos lábios de Elizabeth Bennet em “Orgulho e Preconceito “. Nesse livro, entretanto, Jane guarda o sarcasmo para sua própria fala de narradora onipresente, sempre com comentários bem pontuados sobre as personalidades e experiências dos personagens. 


Assim conhecemos Catherine Morland, a mais tola das mocinhas da autora, com uma aparência mediana, uma personalidade mediana, um conhecimento mediano e uma imaginação das mais férteis. Seu carisma é baseado em uma certa “peninha” que sentimos da personagem e da sua inocência, Catherine conhece pouco além dos livros de romance que está acostumada a ler e que são tão veementemente criticados na época como livros de baixa categoria. Esse, aliás, é um dos motivos pelo qual acho que é um livro tão atual: Embora o sucesso dos livros de romance seja absoluto, tanto na literatura quanto em suas adaptações cinematográficas, ainda é um gênero altamente criticado em rodas mais “cults”, pouca coisa realmente mudou nesse sentido em 200 anos. 

Para dar um choque de realidade na mocinha, Jane nos apresenta um dos seus mocinhos menos carismáticos, Henry Tilney, responsável por fazer a cabecinha de vento de Catherine parar de voar. Ele até um cara legal, principalmente por não debochar do gosto literário da protagonista (o que para nós, leitoras ávidas de romances é um grande avanço em relação a homens), rico, com uma família gente boa e filho da morada que dá título ao livro (a tal da Abadia), porém o potencial de ser um “Mr. Darcy” dele se perde justamente pela realidade que Jane insere ao personagem  feita para cortar a imaginação de seu par. Ele nem ao menos tem o ar imperial tão amado em outros personagens, como Edward Rochester de Jane Eyre. Ele é apenas, em suas próprias palavras, um bom homem cristão inglês. Isso é ruim? Bem, não. Mas também não acrescenta nenhum outro carisma ao personagem. 


          A verdade, e vou ser bem sincera, é que não tem ninguém nesse livro que você vai amar, além da Jane Austen. Você vai rir de suas tiradas sarcásticas, pensar “ela realmente era uma mulher a frente de seu tempo” e ter vontade de ler os outros livros da autora, mas não vai terminar a história com vontade de não ter acabado nunca. “A Abadia de Northanger” não vai te prender do começo ao fim, é mais uma leitura para aproveitar uma tarde agradável sem nenhum compromisso de desesperadamente querer saber o final.

2 comentários:

  1. Oi, gostei da resenha, mas não acho que a família do seja gente boa, só sua irmã é. Outro ponto muito bom do livro são os dois vilões da história, melhor dizer 3. A amiga, o irmão da amiga e o irmão de Henry. Que raiva ficamos deles.

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  2. Ainda não tive chance de ler nada da Jane, mas a vontade aumenta a cada dia, a cada nova resenha lida. A obra me chamou a atenção. Sou considerada por muitos, e até por mim mesma, uma pessoa sarcástica, então adoraria ler as tiradas sarcásticas da autora.
    Um grande beijo

    Vidas em Preto e Branco 

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