Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
0

Take The Shot: Três


Sentei no banco da praça e observei as pessoas passando, o tempo vinha passando rápido e eu me sentia cada vez mais estranho, três meses já tinham se passado e todos os dias eu ia até aquele banco de praça esperar, eu esperava que aquela mulher reaparecesse, mesmo que eu soubesse que era quase impossível, lá estava eu no mesmo horário, cada dia depois da maldita faculdade, mas aquele era o último, eu ia me formar sem saber quem era Winter de verdade, eu sequer sabia o nome real daquela garota.


Lembrava-me dela lendo O retrato de Dorian Gray, o rosto concentrado, me sentei ao seu lado sem me importar muito, afinal eu não estava no meu melhor humor, havia acabado de terminar um namoro de quatro anos, tudo que eu queria era um pouco de paz das perguntas irritantes, então tirei um cigarro do maço e em seguida o acendi com meu isqueiro, quando meu olhar acidentalmente pousou sobre ela, seus olhos claros me encaravam.

— Você tem muita vontade de ter um câncer não tem? — Ela perguntou aquilo a mim como alguém pergunta se você acha que vai chover, eu não estava nos meus melhores dias então aguentar uma garota intrometida estava bem longe dos meus planos, mas ela tinha uma espécie de magnetismo que me fazia querer continuar aquela conversa ridícula.

— Você nunca ouviu que viver dá câncer moça? — A morena riu e fechou o livro virando-se pra mim e me olhando de cima a baixo como se me conhecesse.

— Um pouco melodramático não acha? — Perguntou, mas, na verdade, aquilo era uma resposta. — Quer dizer tem pessoas morrendo agora e você está aqui como um perfeito bebê chorando suas pitangas para um cigarro porque alguma garota te deu um fora, ou porque você perdeu o emprego, ou talvez porque a faculdade tem sido difícil. — Arqueei minhas sobrancelhas incrédulo com aquela estranha e ela me deu um sorriso de lado. — Você é bonitinho, já te vi na faculdade, você faz história, não é muito popular, aparentemente inteligente demais para precisar disso. — A desconhecida pegou meu cigarro e deu uma tragada, em seguida o jogou na lixeira ao seu lado.

Eu a observava meio boquiaberto, aquela mulher era completamente maluca e isso estava me atraindo, em vez de me repelir, como seria normalmente.

— Sabe nós devíamos tomar um café. — Comentei para ela e a garota pareceu pensar um pouco. — Eu gostaria de ouvir mais sobre suas teorias ao meu respeito. — Eu sorri de lado e a menina enrolava uma mecha do cabelo com o dedo.

— Quem sabe quando você deixar de ficar choramingando por aí para os cigarros. — A morena mordeu o lábio inferior, em seguida deu um sorriso de quem planeja algo. — Já sei! Vamos nos encontrar aqui quando você tiver amadurecido, mesmo horário, aí eu deixo você me pagar quantos cafés quiser. — Eu a encarava confuso com aquela resposta, eu não me considerava alguém imaturo, mas eu não sabia bem porque eu realmente queria sair com aquela menina de cabelos pretos e olhos amarelos.

— Eu posso ao menos saber seu nome? — Perguntei e ela se aproximou de mim, sussurrando em meu ouvido.

— Me chame de Winter. — Afastou-se um pouco. — Nos vemos depois Edu. — Depositou um beijo em meu rosto e em seguida levantou-se, deixando o livro no banco, ao meu lado, eu queria entender uma série de coisas, inclusive como aquela garota sabia o meu nome. — Aliás Eduardo, leia esse livro, é muito bom, quando nos vermos novamente eu o pego de volta.

Então lá estava eu, naquele frio incômodo de São Paulo, sentado naquele banco de praça me sentindo infinitamente ridículo, por esperar uma garota que sequer me dissera seu nome verdadeiro e eu estava esperando por três meses, um tempo que eu não havia esperado por muitas garotas que eu conhecia, me levantei para ir embora, percebendo o quão bizarra era aquela situação quando alguém chamou meu nome, me virei e lá estava ela do outro lado da rua, olhei para o relógio, da mesma forma que havia feito naquele dia três meses atrás.

— Você está atrasada. — Eu disse quando ela chegou até mim e a garota sorriu de canto, colocando uma mecha do cabelo escuro atrás da orelha.

— Eu sei. — Ela me encarou e eu revirei os olhos.

— Você me fez esperar três meses por um café. — Comentei incrédulo com minha atitude de espera continua.

— É que você continua chorando as pitangas pra esse maço de cigarro no seu bolso. — A observei e suspirei. — Mas então vai ficar aí choramingando, ou me levar pra esse maldito café? — Encarei seus olhos amarelos e pensei se eu estava fazendo a coisa certa, se eu havia o tempo inteiro feito a coisa certa esperando aqueles três meses, e se eu estaria sendo sensato saindo com aquela garota estranha, respirei fundo e segurei a mão dela, não queria viver pensando “e se” e eu já havia esperado três meses mesmo.

— Aliás meu nome é Larissa. — Balancei a cabeça em negativo com um sorriso de lado no rosto e comecei a caminhar com ela até a cafeteria, foi então que me lembrei dela, a garota que ia lá em casa as vezes estudar com a minha irmã, mas eu nunca reparava, estava ocupado demais prestando atenção em outras coisas, eu havia esperado três meses, mas aquela garota havia esperado três anos... Talvez aquilo fosse o início de algo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...