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As Virgens Suicidas: uma teia de inteligência


Autor: Jeffrey Eugenides
Editora: Farrar / Straus and Giroux
Editora no Brasil: Companhia das Letras / Rocco
Ano: 1993
Páginas: 232

Sinopse: Num típico subúrbio dos Estados Unidos nos anos 1970, cinco irmãs adolescentes se matam em sequência e sem motivo plausível. A tragédia, ocorrida no seio de uma família que, em oposição aos efeitos já perceptíveis da revolução sexual, vive sob severas restrições morais e religiosas, é narrada pela voz coletiva e fascinada de um grupo de garotos da vizinhança. O coro lírico que então se forma ajuda a dar um tom sui generis a esta fábula da inocência perdida.
Adaptado ao cinema por Sofia Coppola, publicado em 34 idiomas e agora em nova tradução, o livro de estreia de Jeffrey Eugenides logo se tornou um cult da literatura norte-americana contemporânea. Não por acaso: essa obra de beleza estranha e arrebatadora, definida pela crítica Michiko Kakutani como “pequena e poderosa ópera no formato inesperado de romance”, revela-se ainda hoje em toda a sua atualidade.

No romance do premiado autor estadunidense, Jeffrey Eugenides, acompanhamos um grupo de meninos que tenta compreender o encarceramento da alma feminina em um bairro residencial na década de 70. Já homens, todos com suas famílias, empregos e vidas, voltam para o local onde as meninas Lisbon adentraram suas mentes juvenis e, mesmo após anos, continuavam representando uma incógnita, um mistério mal resolvido.

É quase impossível falar sobre As virgens suicidas optando pela impessoalidade, deixando de lado a agonia e aflição em ter todas as peças do quebra-cabeça e nunca conseguir montá-lo; aquela palavra que fica na ponta da língua, mas escapole quando estamos prestes a alcançá-la. Não, espere, eu sei. Vou lembrar, só mais um minutinho... O esforço mental –beirando o físico- é inútil. O cerne da questão vai se esmaecendo toda a vez que chegamos perto.

Predisposição genética, situação histórico-social, ambiente familiar abusivo, egoísmo, sabedoria demasiada... As respostas são prontamente fornecidas, entretanto não há pergunta. A forma com que o suicídio é lidado – estatísticas; reuniões onde o adolescente é induzido a admitir algo de errado para que houvesse a sensação de cura nos adultos e a certeza da completa neutralização do problema – nem ao menos se aproxima do entendimento do que é possuir um corpo jovem e o espírito enfraquecido a cada hora. Tempo desperdiçado, perdido e demasiadamente longe para ser alcançado.

“A gente só quer viver. Se alguém deixar.”

Nunca conseguirei saber, somente especular, mas de certa forma, entendo. Entendo de maneira que não saberia, e nem mesmo que soubesse, explicaria. Um segredo compartilhado com essas meninas, que se transformaram em uma massa disforme de cinco garotas, sem que ninguém percebesse que cada uma possuía uma natureza distinta e própria. Cinco universos irrecuperavelmente perdidos. Cansadas demais para insistir em tentar mais uma vez.

Em um pouco mais de 200 páginas, divididas em cinco capítulos, a história é contada por um eu lírico desconhecido que só nos permite perceber que era um dos rapazes que tentava desvendar os segredos das meninas. Com uma linguagem simples, o narrador vai e volta no tempo para tentar reunir todos os fragmentos do caso da família Lisbon. É preciso de uma sensibilidade extravagante e um diálogo com as entrelinhas para quase, somente quase, entender a mensagem do livro que grita, em completo silêncio, os mistérios e as angústias de ser, na verdade, meninas disfarçadas de mulheres e compreender tanto o amor quanto a morte.


O livro teve adaptação cinematográfica dirigida por Sofia Coppola e ganhou o MTV Movie Awards de melhor diretor estreante. Mesmo com um tema tão complexo que dificilmente apresentaria sentido completo para alguém que somente assistisse ao filme, Sofia fez um grande trabalho resumindo todo o aprisionamento das meninas em um mero “não consigo respirar”, declamado por Lux Lisbon. 


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