Estamos
na era das músicas sem conteúdo, com um refrão chiclete cheio de
onomatopeias e duplo sentidos, tipo LEPO LEPO. A boa MPB e o rock
nacional estão falecendo nos dias de hoje.
Será mesmo?
Antes de começarmos nossa resposta, um aviso: se você gosta de Funk, Sertanejo Universitário, Calypso ou qualquer outro gênero de grande visibilidade popular e pouco conteúdo, tem todo o direito - não estamos aqui para julgar o gosto de ninguém, só esperamos que entenda que esse tipo de música é feito para ser consumida e descartada logo, pode ser divertida mas não é relevante artisticamente e é sobre isto que pretendemos tratar, do valor artístico.
Voltando ao raciocínio, músicas com poucas letras e cheio de duplo sentido não são uma exclusividade do século XXI, quem não lembra das marchinhas de carnaval que fizeram sucesso no começo do século passado, por mais que se queira valorizá-las pela questão histórica, qualquer análise linguística revela a pobreza das letras
Mamãe eu quero, mamãe eu quero, mamãe eu quero mamarMe dá chupeta, dá chupeta pro bebê não chorar
ou
Olha a cabeleira do Zezé, será se ele é, será se ele é/ Será que ele é bossa nova, será que ele é Maomé/ Parece que é transviado, mas isso eu não sei se ele é.
Pode-se
até procurar sentido ou inventar alguma interpretação
oculta sobre a letra está criticando algo, mas isso não é poesia. Afirmar
o contrário é forçar a barra, assim como as músicas que são
tocadas diuturnamente nas rádios de hoje, se trata de um refrão
engraçadinho de sentido ambíguo e fácil de lembrar que “gruda”
como um chiclete na cabeça do pobre ouvinte que pode ficar o dia
inteiro lembrando da bendita canção.
E
não eram só as marchinhas que exploraram esse tipo de letra de
fácil aceitação e pobreza estilística, quem viveu nos anos 1980 e
começo dos anos 90 deve se lembrar da Lambada, um ritmo paraense que
fez muito sucesso no Brasil inteiro na época, analisemos o refrão
de uma das músicas mais tocadas:
Dançando Lambada He!, Dançando Lambada La!/ Dançando Lambada He!, Dançando Lambada Dançando Lambada.
Percebemos
que é o mesmo tipo de refrão-chiclete que tanto é criticado hoje,
a pessoa pode dançar, se divertir a vontade e ficar com a música na
cabeça o dia inteiro – o que geralmente acontece, mas dizer que a
letra é uma obra de arte literária, aí é ser muito fã e pouco
crítico.
Onde
eu quero chegar, não é de hoje que as gravadoras e as rádios nos
bombardeiam com esse tipo de músicas, que fazem um sucesso
instantâneo e vendem muito – por isso, as músicas de hoje não
são muito piores que de gerações anteriores, talvez o que haja é
muita divulgação e repetição delas para que mais pessoas as
comprem e façam mais sucesso.
Por outro lado,
existe música de qualidade literária hoje em dia? Alguma música
contemporânea de sucesso ajuda a passar uma mensagem positiva que leva o leitor a refletir sobre a realidade? Claro que sim, vejamos
alguns exemplos:
Pitty: “E eis que de repente ela resolve então mudar/ Vira a mesa, assume o jogo Faz questão de se cuidar (Uhu!)/ Nem serva, nem objeto/ Já não quer ser o outro/ Hoje ela é um também/ A despeito de tanto mestrado/ Ganha menos que o namorado/ E não entende porque/ Tem talento de equilibrista/ Ela é muita, se você quer saber”
Até
o título dessa canção é interessante “Desconstruindo Amélia”. Para quem não sabe, Amélia é a personagem central de uma canção
do grupo Demônios da Garoa que “Era mulher de verdade” porque
“não tinha vaidade” e não fazia exigências, não reclamava e
“E achava bonito não ter o que comer” além de outras posturas
submissas e controversas.
E a Pitty não é um caso isolado, assim como ela há muita gente de talento criando músicas brilhantes que fazem relativo sucesso hoje em dia como: Maria Gadu,
Entre o bem e o mal a linha é tênue meu bemEntre o amor e o ódio a linha é tênue tambémQuando o desprezo a gente muito prezaNa vera o que despreza é o que se dá valor
E outros tantos, talvez o que falte seja mais espaço para esses cantores mostrarem seu trabalho, a boa música brasileira ainda existe sim, só precisa de mais divulgação.
uma excelente leitura interpretativas da diversidade musical brasileira.
ResponderExcluirOlá Alessandro, tudo bem?
ResponderExcluirAdorei seu post! Você tem toda razão, músicas chicletes e com letras pobres sempre existiram, e acho que sempre irão existir. Também concordo que temos muitos bons cantores e bandas por este Brasil afora, basta que eles consigam ser valorizados e consigam achar o seu espaço.
Abraço.
Lia Christo
www.docesletras.com.br
A Pitty é foda, sem mais!
ResponderExcluirEla põe nas músicas dela tudo o que ela pensa e não tem medo de dizer umas verdades!
Amo essa mulher!
Beijos
www.ooutroladodaraposa.com.br
A PITTY É VIDA. A PITTY É DIVA. MDS ~
ResponderExcluirTodas as músicas dela são ótimas.
- quase colorida ☆
Caramba, Pitty!? AMEEEEI!!! As músicas dela são sempre cheias de conteúdo. As marchinhas de carnaval sempre foram mais para dançar e de consumo momentâneo do que de conteúdo, mas músicas como Oceano e Aquarela do Brasil existiam e a qualidade é incontestável.
ResponderExcluirAtualmente encontrar cantores que se preocupam mais com o conteúdo do que com a melodia, como a Pitty, é menos comum do que era antigamente e isso é inegável. Veja que interessantes eram as músicas de novelas mais antigas e como são as de hoje... "Animal, arisco, domesticado esquece o risco. Me deixei enganar, e até me levar, por vocêeeee" (Novela Fera Ferida).
Muito disso também ocorre, acredito eu, porque nos tornamos mais imediatistas e muito menos exigentes, infelizmente. Vale o que agrada sem dar trabalho para raciocinar ou "evoluir como pessoa".
conchegodasletras.blogspot.com.br
Obrigado pelo comentário, Mari, realmente parece que hoje é mais difícil encontrar cantores que se preocupam com o conteúdo. Mas, talvez isso seja culpa das gravadoras e rádios que estão investindo pesado nesses cantores caça-níqueis e suas músicas chicletes. Graças ao Lobby deles que músicos como Pitty ou bandas de qualidade como Os Seminovos não fazem mais sucesso nem tocam nas novelas. Bom, pelo menos a minha impressão é essa.
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