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Ratatouille: Sobre Ratos, Natureza e Arte




Direção: Brad Bird e Jan Pinkava
Roteiro: Brad Bird  e Jan Pinkava
Duração: 111 minutos
Ano de lançamento: 2007
Gênero: Animação, Comédia, Família

Sinopse: Paris. Remy (Patton Oswalt) é um rato que sonha se tornar um grande chef. Só que sua família é contra a idéia, além do fato de que, por ser um rato, ele sempre é expulso das cozinhas que visita. Um dia, enquanto estava nos esgotos, ele fica bem embaixo do famoso restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau (Brad Garrett). Ele decide visitar a cozinha do lugar e lá conhece Linguini (Lou Romano), um atrapalhado ajudante que não sabe cozinhar e precisa manter o emprego a qualquer custo. Remy e Linguini realizam uma parceria, em que Remy fica escondido sob o chapéu de Linguini e indica o que ele deve fazer ao cozinhar.
        Semana passada eu escrevi sobre uma série da Nickelodeon, que apesar de ter uma temática mais adulta, pois fala de guerras, responsabilidade, conflitos internos etc, é um desenho infantil. Por isso, estava planejando fazer uma resenha sobre algo mais sério, talvez literatura clássica, citando autores de referência e discutindo algo como a leitura dessas obras no ensino médio. Só que não veio inspiração, e a verdade é que, apesar de gostar de literatura em geral, sou fã mesmo de obras infanto-juvenis, por isso hoje resolvi falar sobre um dos clássicos da Pixar: Ratatouille (lê-se “ratatuí”).
        
      Se você não assistiu, não perca mais tempo, procure logo um jeito de ver (tem na Netflix) e se delicie com essa aventura de um rato cozinheiro. Não se trata de um rato antropomorfizado (com características humanas – como o Mickey), nem de uma sociedade onde todos são animais, a grande sacada dessa obra prima do cinema é que o filme se passa no nosso mundo mesmo, onde esses simpáticos animaizinhos são repelidos das cozinhas, por serem considerados vetores de doenças.

         E esse é o grande dilema de Rémy (voz de Patton Oswalt, o protagonista da história), diferente do seu pai e dos outros membros da espécie, que se contentam com qualquer lixo, ele tem um bom gosto e verdadeira paixão por culinária, por isso se aventura na cozinha da casa onde vivem, onde assiste ao programa de culinária do Auguste Gusteau (Brad Garrett) e aprendeu a ler para poder ler o livro de receitas desse mestre, que é seu ídolo.

         Como já disse, ratos não são bem vindos nas cozinhas, e isso acaba gerando problema para todo o ninho quando ele é descoberto, causando a expulsão de todos, na confusão Rémy se perde do seu bando e acaba ficando sozinho, apenas com o livro de receitas que roubou da dona da casa e o “fantasma” de Gusteau, uma alucinação e fala e aconselha o pequeno roedor.

          Após muitas peripécias, ele acaba conhecendo Linguini (Lou Romano), filho de uma ex-empregada do restaurante de Gusteau que vai trabalhar de auxiliar nesse mesmo lugar, os dois fazem uma parceira de sucesso, Rémy sabe cozinhar (e muito bem) e Linguini é um ser humano e, portanto, aceito no restaurante.
         Contanto assim, parece um enrendo simples, uma historinha de crianças sobre aceitar as diferenças e perseguir os seus sonhos. Pode ser isso, porém o que faz esse filme ser uma obra prima, que agradou público e crítica, colecionou sucessos e fez milhões de fãs pelo mundo inteiro (de todas as idades), é que ele tem muitos momentos super criativos, inteligentes e, por que não dizer, poéticos.

         Destaco, entre estes, uma conversa entre Rémy e seu pai, quando este fala que a natureza é assim (homens e ratos são inimigos) enquanto mostra uma loja cheia de venenos e ratoeiras, a conversa toda é bem escrita, principalmente a resposta do pequeno cozinheiro: “a natureza está sempre mudando e essa responsabilidade tem que ser nossa”. Esse diálogo poderia ser feito entre qualquer pai mais conservador e qualquer filho que pense/seja diferente do senso comum, imagino um homossexual dando essa mesma resposta ao seu progenitor.

         A hora em que o crítico culinário Anton Ego (Peter O'Toole), coloca na boca o primeiro pedaço do Ratatouille (sim, isso é nome de um prato) foi outro desses momentos fantásticos, a cena toda dura só alguns minutos e não possui nenhuma fala mas é tão profunda e poética que qualquer pessoa percebe como aquele momento é especial para o escritor.

       E por falar em Ego, a crítica que ele escreveu sobre o restaurante é mais um dos vários pontos positivos do filme, e filosófica porque nela ele reflete tanto sobre o trabalho de um crítico como quanto sobre o lema de Gusteau “qualquer um pode cozinhar”, e conclui que até mesmo quem vem da origem mais humilde, como Rémy, pode ser um grande artista.


         Há diversos outros grande momentos, como quando Linguini tem e coragem e humildade necessária de assumir que não era ele que cozinhava, e sim o rato, esse ato de grandeza de espírito diz muito sobre ele e sobre o filme.

         Muitas lições de vida o telespectador pode tirar dessa obra de arte, além das, já citadas, questões de perseguir os seus sonhos e aceitar as diferenças, ou ainda a de que podemos mudar a natureza, ou seja, nosso mundo. Sintetizando tudo, na minha opinião, por mais que sintamos menores que os outros, diferentes ou menosprezados e de a vida não foi justa conosco, não podemos baixar a cabeça e nos resignar à vida que nos é imposta pelos outros, se lutarmos com talento e dedicação podemos mudar nossa vida.

AUTOR PARCEIRO: ALESSANDRO BRUNO

6 comentários:

  1. Nunca tinha visto o filme sob esta óptica, sabe? Faz muito tempo que vi Ratatouille, era mais nova, e lembro de gostar de ver as comidas sendo preparadas, e imaginar o gosto delas HAHAHA Saudades animações antigas!

    Clara
    @clarabsantos
    clarabeatrizsantos.blogspot.com.br

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    Respostas
    1. Uma das coisas boas da Literatura, Clara, é isso: você pode interpretar uma obra de várias maneiras, percebendo os detalhes e apresentando uma teoria coerente, é possível a um leitor (ou telespectador no caso de cinema) ver algumas coisas sobre ópticas que nem o autor percebeu. Por isso, aposto que você também pode rever o filme e perceber coisas que eu também nunca imaginaria.

      Obrigado pelo comentário.

      Alessandro

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  2. Engraçado ver alguem com uma visão do Ratatouille tão igual a minha. Para mim, o filme é exatamente como voce falou. Ótima resenha :)

    http://rotaseis.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Que bom que alguém pensa igual! Sinal que não viajei na maionese, kkkkkkkk.

      Obrigado Guilherme

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