Estava
escuro na primeira vez em que eu o vi, mas, ainda assim, exerceu alguma espécie
de fascínio sobre mim. Ele não era um galã de novela, pelo contrário, nada mais
que normal e se fosse pra escolher um lado a mais, a maioria das mulheres diria
que ele estava até mais para o feio, mas pra mim desde o primeiro momento ele
era bonito, bonito de um jeito torto, mas bonito. Tocava Los Hermanos no seu
carro e talvez isso tenha afetado minha visão dele de forma positiva, ele era
amigo de um amigo e eu achei, não, eu jurei que nunca mais ia vê-lo depois
daquela carona.
Naquele
dia em que o vi, também jurava que não terminaria meu namoro, mas terminei,
talvez as pessoas tenham razão sobre juramentos, eles não são nada mais do que
tiros no escuro.
Pra
me arrancar das mágoas do fim o tal amigo em comum me chamou para o cinema,
perguntou se podia levar outro amigo e quando dei de cara com o tal amigo lá
estava ele, vai ser mentira se eu disser que fui indiferente, eu não fui. Dizem
que taurinos tem esse magnetismo e eu, pobre pisciana, fiquei com cara de
tonta, olhando pra aquele homem, admirada. Ele tinha o mundo em um sorriso e
eu, que havia vivido sempre em uma redoma, não conhecia sorrisos como aquele,
nem o mundo que ele me mostrou depois. Se eu pudesse dar uma definição de
liberdade na minha vida eu diria que foi o que eu tive com ele.
Eu
nunca fui tão livre como quando demos nosso primeiro beijo, quando ia pra casa
dele e ficávamos abraçados vendo filmes - a maioria eu que escolhia e o
obrigava a ver -, ele não reclamava dos meus filmes de mulherzinha, às vezes
fazia uma careta, mas nada mais que isso. Minha mãe gostava dele, meu pai nem
tanto. Ele me mostrou um barzinho uma vez e aquela foi a primeira vez que eu
fui a um, e ele nunca vai saber disso, porque ele não lê o que eu escrevo.
Quando
penso nele, eu penso em um cubo mágico... Sim, um cubo mágico! Porque eu nunca
consegui resolver um, por mais que as pessoas tentem horas a fio me ensinar
como se resolve, por mais que eu me esforce eu nunca vou saber montar de forma
que faça sentido todas as cores e era assim com ele, eu nunca sabia como
organizar suas ações, o que dizia e o que parecia pensar de forma que eu
entendesse, eu não entendia cubos mágicos e eu não o entendia, nunca iria mesmo
que passasse o resto da minha vida tentando fazê-lo.
Era
engraçado como uma hora parecia que choraria feito criança se eu fosse embora e
na seguinte parecia que eu não significava nada. Mais tarde eu descobri, depois
de tantos socos e pontapés tomados, que a segunda estava certa: eu era só mais
uma das garotas com quem ele se divertia, dando aquele seu tão conhecido
sorriso de quem sabia de tudo, porque apenas uma vez eu vi o seu sorriso de
verdade e era triste, foi no dia em que ele disse “eu queria ter te conhecido
antes de me tonar um canalha”. Porque lá no fundo ambos sabíamos, desde o
primeiro olhar, que eu sairia machucada.
Uma
amiga me disse que eu deveria me arrepender de tê-lo conhecido por ele ser um
grandessíssimo filho da puta mãe, eu dei de ombros e disse que não
importava, tudo era aprendizado.
A
verdade é que eu gostei do que tive com ele, não eu não sou nenhuma maluca
masoquista, pelo contrário, eu tenho repulsa pela dor, mas não foi só dor.
Tivemos sorrisos, beijos e eu talvez nunca tenha me sentido tão feliz até agora
como naquela época. Se eu fui tola? Sim, eu fui, muita gente me avisou que ele
não valia nada, mas eu sempre fui teimosa e acho que sempre serei.
Eu
não sei se o que senti por esse tão falado ele foi amor, mas de fato foi o
sentimento mais forte desses meus breves anos e também o mais sem sentido, foi
intenso e breve, lá no fundo eu nem sei ainda se passou, mas uma hora vai.
Por
isso eu digo para o amor, com toda sinceridade, que eu estou pronta pra outra,
porque pior do que sentir e sofrer, é o vazio de não sentir nada.
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