Resenha: Simplesmente o Paraíso - Quarteto Smythe-Smith #1 Resenha: Uma Lição de Vida Resenha: Era uma Vez no Outono Resenha: Secrets and Lies
0

Eu não sei rimar


Eu não sei rimar.
Não sei transpor meus ideais com doces palavras cantadas. Nem consigo pensar rápido o suficiente para transformar meus pensamentos na minha própria voz. Mas consigo seguir o ritmo dos meus desejos, ainda que sem explicação eles flutuem como o som dos mais variados instrumentos que eu não sei tocar, e mudem de direção variando o timbre até se transformar numa canção. Concreta. Pronta.
Me desculpe, eu não sei rimar. 

As palavras que surgem são abertas, naturais, duras, impensadas. São minhas palavras. Aquelas que vêm em tão rápido devaneio que fogem sem muita explicação, sem dizer adeus, enquanto choro a despedida com as anestésicas lágrimas nas quais consiste meu vício. Essas criam formas de cidades vazias com árvores mortas e paredes tortas. Quebradas.

Com a pintura mais trivial, porque nem na arte calada eu sei rimar. 
E dentro de mim reajo com um transe disfônico que cresce em forma de movimentos sem nexo, como uma raíz escura que não suporta a ideia pré-concebida de seu próprio significado e cresce sem rumo para todos os lados, como um cabelo que nunca foi penteado. Disforme. Ressecado.


Nunca dentro de tamanha incerteza eu poderia rimar.
Porque dentro das improbabilidades dos meus dias eu vago entre o presente e o passado, enquanto carrego minhas memórias em uma sacola furada que talvez não chegue ao próximo passo. Que carrego junto a mim, não por temer soltá-la, mas porque no meio deste caminho terroso, ela guarda a letra da minha vida fugida. Simples. Complexa. Paradoxal.

Minha própria história que é minha, minha, que eu não sei rimar.
Apenas transformar.

Crônica escrita por Vanessa Mesquita, autora parceira do Rascunho com Café

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...