Os Irmãos Sister: Uma feliz surpresa disfarçada de faroeste

Autor: Patrick de Witt

Editora: Ecco

Editora no Brasil: Planeta

Ano: 2013

Páginas: 208 

Sinopse: Em Os irmãos Sister, Patrick de Witt faz uma homenagem ao universo clássico do Velho Oeste, transformando o cenário comum em uma inesquecível viagem cômica com personagens marcantes – perdedores, trapaceiros, românticos, confusos – e uma narrativa empolgante. Uma ficção histórica sobre os anos 1850 que mostra dois irmãos unidos pelo sangue, a violência e o amor. O Velho Oeste não foi mais o mesmo depois que eles chegaram. Será que você conseguirá acompanhar o gatilho desses dois irmãos? Cuidado! Você está na mira deles!

Mais um livro que foi presente de aniversário, e apesar de ter demorado muito para dar uma chance a ele, fiquei tão satisfeita e surpreendida com o livro que até agora estou dando chineladas em mim mesma por não tê-lo lido logo que o ganhei. Começando pela capa super criativa e que representa muito bem o conteúdo do livro. Além disso, o volume tem poucas páginas e apesar de ser ambientado em 1851, a leitura é fluida, com linguagem simples, sem enrolação e sem ser seco. A escrita é perfeita, cada página é um mergulho profundo no Velho Oeste, fazendo da experiência da leitura muito vívida, especialmente se você já tiver visto filmes de Western ou ambientados na Califórnia daquela época.

Narrado na visão de um dos irmãos, Eli Sister, o livro se passa no período de grande migração de norte americanos do leste do país, para o oeste, em busca de oportunidades, melhorias de vida e do ouro, que era abundante na região. Mas naquele mesmo período, o oeste do país era uma região sem lei e o poder era concentrado na mão de homens ricos que agiam por seus próprios interesses que geralmente contratavam assassinos de aluguel para fazer o serviço sujo contra aqueles que os contrariassem.

Os irmãos Sister são exemplos desse tipo de assassinos, e que agem sobre as ordens de um homem rico e poderoso, chamado Comodoro. Uma missão lhes é dada pelo Comodoro: encontrar e matar um determinado homem, mas sem lhes dar muitos detalhes do motivo do assassinato. O livro conta todas as aventuras que os irmãos enfrentam até alcançarem o destino de sua missão. Até aí tudo bem, é um típico Western, mas a grande sacada do livro é a profundidade que é dada aos personagens.

"Enquanto íamos embora, a estrutura já era um tornado de calor e chamas, assim como o urso, que Charlie tinha molhado com o óleo da lamparina - uma visão impressionante, mas triste, e fiquei grato de poder sair do lugar. Pensei que tinha cruzado o batente da porta por um cavalo de que não gostava, mas Charlie não havia feito o mesmo por sua própria carne e sangue. Uma vida cheia de altos e baixos, pensei."

Caramba! Não sei nem descrever o quanto me encantou a perspectiva de Eli, tanto sobre si próprio, quanto sobre o irmão, que tem uma personalidade bem diferente da dele. Charlie Sister, é um homem inescrupuloso, que encara o assassinato de forma bem racional, é grosseiro, pão duro, egoísta, alcoólatra e frequentemente subjuga o irmão Eli. Já Eli, apesar de acompanhar o irmão nos assassinatos, não gosta de matar inocentes e comete os assassinatos como forma de proteger o irmão e descontar seus momentos de frustração. Eli é reflexivo, tem muito desejo de ser amado por uma mulher, é carinhoso, gentil, quer sair da vida de assassinato, abrir uma pequena loja e ser normal, mas é frequentemente frustrado em seus desejos, não apenas pela fama que os irmãos tem, como também por ser gordinho e não tão atraente quanto Charlie.

Todos esses sentimentos de Eli são passados de uma forma tão ímpar e se misturam com as ações e suas explosões de temperamento, geralmente causadas por momentos de frustração com os outros e consigo mesmo. Em muitos momentos senti o coração pequenininho e apertado por que o que Eli mais implora em suas ações é amor, seja do irmão, da mãe, de alguma mulher que ele se encantou ou até do próprio cavalo. 

Em contrapartida, Charlie parece não dar a mínima para o irmão, fazendo planos ambiciosos e egoístas que não incluem Eli, que desde o começo foi seu suporte. Charlie só demonstra sentimentos pelo irmão quando se vê em apuros ou em dias de boas aquisições (seja roubo, assassinato, etc.), em que geralmente está de bom humor.

Intercalado com isso, está a decadência dos homens que deixaram tudo para perseguir o ouro, perseguir uma melhora de vida, mas que acabaram enlouquecendo, sendo roubados, mortos ou gastando tudo com prostitutas ou bebida alcoólica. Também estão as descobertas e novidades da época, como uma escova de dente de madeira que Eli ganha de um dentista que arranca um dente podre seu, várias vezes o personagem usa a escova e o pó aromatizado de menta para cuidar dos dentes e revela a experiência inédita da escovação. Outra engenhosidade também mostrada é o mercúrio, usado no garimpo.

O livro é uma ótima lição para quem tem curiosidade de conhecer um pouco sobre a história da América do Norte, o período de migração para a Califórnia foi um grande elemento para a economia e ascensão dos Estados Unidos, como também retrata uma era sem lei, onde índios, estrangeiros e até civis eram aniquilados pelo puro desejo de conquista e ganância dos americanos.

"Saí do hotel, procurando distraído um farmacêutico ou médico, mas me encontrei concentrado principalmente no assunto de mulheres e amor. Nunca estive com uma mulher por mais de uma noite e elas sempre eram prostitutas. E apesar de sempre ter tentado manter uma postura amigável nesses encontros rápidos, eu sabia no meu coração que era tudo falso, e no final sempre me sentia distante e perdido. Tinha desistido totalmente das prostitutas no último ano, pensando que era melhor ficar sem do que fingir uma proximidade com outros humanos; e apesar de ser irreal para um homem na minha posição pensar nessas coisas, não conseguia evitar: via minha figura volumosa refletida nas janelas das lojas e ficava imaginando: Quando esse homem aí será amado?"