Uma análise sobre os melhores filmes "esquecidos" da Disney

Eu pensei nesse tópico em fazer uma lista com os melhores filmes da Disney que estão "esquecidos" - ou seja, não se vê muitos produtos sobre eles, seus personagens não aparecem em outras franquias e não são muitos citados, porém são histórias excelentes, repletos de personagens fortes, bem escritos e que comovem o espectador - a medida que pensava sobre os títulos, me veio essa reflexão, se são filmes tão bons, com um bom sucesso de público e especialistas, por que são tão ignorados?

O Cão e a Raposa (The Fox and the Hound, 1981) é o filme mais antigo da lista, mas não pense que é esquecido por isso, há animações bem com idade bem mais avançada que são lembradas e das quais é possível achar brinquedos, livrinhos e outros produtos no mercado, como é o caso de Bambi (1942), todo mundo conhece o pequeno cervo que perde a mãe muito cedo e tem que encarar a grande aventura da vida e do crescimento sozinho; Branca de Neve e os 7 Anões (1937) tão popular que até hoje os nomes dos anões (que não são citados na lenda original) e a aparência de Branca de Neve são populares na versão da Disney; e Dumbo (1942), o simpático elefantezinho que pode voar é conhecido de todas crianças.

Voltando à animação em questão, ele mostra uma raposa e um cão de caça que são dois grandes amigos quando pequenos, mas, quando eles crescem, tornam-se verdadeiros inimigos porque caçar raposas é o dever de todo cão de caça. Embora o roteiro seja previsível, a história muito bem contada é capaz de emocionar os espectadores mais sensíveis. Além disso, passa uma mensagem muito positiva sobre preconceitos, tolerância, o papel que a sociedade nos impõe e principalmente amizade, o filme é uma ode à amizade.

Lilo & Sticth (2002) Um dos filmes mais sensíveis e bonitos que eu já assisti, a personagem Lilo Pelekai é uma pequena menina do Havaí que apresenta problemas de autoestima, solidão e aceitação por suas "amigas" que a acham estranha, para complicar ela é órfã e convive com sua irmã mais velha Nani, que precisa provar ao agente social Cobra Bubbles que pode cuidar da criança, embora ela também tenha suas medos e dificuldades.

A última coisa que elas precisam em suas vidas é de um alienígena programado para destruir tudo, mas é o que acontece quando Lilo adota Sticht, pensando ser um cachorro esquisito, no começo a criatura não gosta da menina e só a usa de escudo para se proteger de seus caçadores, mas acaba se envolvendo e descobrindo as vantagens de se viver em família.

Há muitas lições positivas nessa obra, destaco aqui uma frase memorável quando Nani quer se livrar de Sticht e Lilo lhe lembra das palavras de seu pai: "Ohana quer dizer família. Família quer dizer nunca abandonar ou esquecer."

Irmão Urso (Brother Bear, 2003) Outro filme que retrata uma família de irmãos, Sitka, Denahi e Kenai que são nativo americanos do período final da Era Glacial. O relacionamento entre eles é bom, mas Kenai é um jovem imaturo que não aceita o seu totem "o urso do amor" e se revolta contra os espíritos. Não dá pra falar mais sem contar spoilers, mas a história é muito boa e fala sobre as consequências de seus atos, responsabilidade, o papel da família e empatia (se colocar no lugar do outro).

Além do enredo excelente, os efeitos visuais dos cenários são de tirar o fôlego, principalmente quando os espíritos aparecem em uma aurora boreal que casa muito bem com a ótima trilha sonora.

Up - Altas Aventuras (Up, 2009) Apesar de ser recente, e considerados um dos melhores da parceria Disney-Pixar, esse longa não é tão lembrado como outros da produtora, não se encontra facilmente produtos com o tema em lojas de brinquedos e festas infantis. Ironicamente o filme caiu no mesmo ostracismo que seu protagonista.

O filme conta a história de Carl Fredricksen, um vendedor de balões que, aos 78 anos, vive sozinho e amargurado com suas lembranças, esse senhor corre o risco de perder sua casa e por isso ele amarra milhares de balões nela foge para a América do Sul com um menino de 8 anos chamado Russel.

Russel, assim como Carl, vive sozinho e neglicenciado (ao que parece os pais nem perceberam sua viagem) e os dois se tornam grande amigos e passam a ser pessoas melhores, mais felizes.

O que filmes tão diversos tem em comum? Bem, percebi em todos alguns elementos similares: não tratam de amor romântico, embora em alguns há um relacionamento afetivo, isso não é o tema de nenhum e a relação fica em segundo plano - eles falam de outro tipo de amor: o amor entre amigos e família.

Além disso, os personagens estão longe do ideal de herói, comum em tantas narrativas, em todas obras citados os protagonistas são pessoas (ou animais) imperfeitas, com dúvidas, dificuldades e medos, como qualquer pessoa sem super poderes, inteligência privilegiada e sem serem modelos de virtude, me lembro que em uma das primeiras cenas da Lilo ela briga com uma coleguinha que a chama de louca.

Há também a questão da diversidade: os personagens humanos são de grupos geralmente estigmatizados: a Lilo é gordinha e estranha, Kenai é um índio, Carl é um idoso. Claro que há outras personagens da Disney com diferenças, como a Tiana de A Princesa e O Sapo que é negra e no começo era cozinheira pobre e Pocahontas que é indígena, mas elas são mulheres de corpos esculturais, do mais alto padrão hollywoodiano, e são princesas - há toda uma simbologia nisso.

O que eu percebo é que, apesar de toda qualidade literária e críticas positivas, o público gosta mesmo é de histórias padrões com princesas lindas, heróis poderosos que enfrentam grandes dificuldades e são modelos de retidão moral, sem medos ou falhas. Personagens humanos, com problemas comuns até rendem boas histórias, mas não fazem o público sonhar em querer ser eles e por isso não são tão atrativos comercialmente, porque o cinema é só um negócio e quando um estúdio lança uma franquia ele não está pensando em ideologia A ou B, apenas em vender seus produtos.