O Mensageiro, a consagração da Saga O Doador de Memórias

Autora: Lois Lowri

Editora: Arqueiro

Ano: 2016

Páginas: 160

Nota: 4,5/5

Sinopse: Há seis anos, Matty chegou ao pacato Vilarejo. Sob os cuidados de Vidente, um cego que tem uma visão especial, ele amadureceu e se adaptou à nova vida. Agora, espera receber seu nome verdadeiro, que determinará seu valor ali, como ocorre com todos os habitantes. Contudo, algo nefasto está se infiltrando no Vilarejo, e os moradores, antes orgulhosos de receber forasteiros, passam a exigir que as fronteiras sejam fechadas para se protegerem. Por ser um hábil mensageiro, Matty é encarregado de avisar os outros povoados sobre o bloqueio. Sua missão também tem outro grande objetivo: buscar Kira, a filha de Vidente, antes que seja tarde demais.Ele é o único capaz de viajar pela Floresta, que já provocou algumas mortes. O problema é que ela também está se tornando um lugar perigoso para o garoto. Mas muitos dependem de Matty. Então, armado apenas de um poder recém-descoberto, ainda incompreensível e incontrolável, ele se arriscará a fazer o que talvez seja sua última viagem.

A excelente série, O Doador de Memórias parecia não ter continuidade – o que faria da franquia um conjunto de pequenas histórias em um universo comum e não uma saga inteira, com tramas entrelaçadas que constituem um enredo centralizado e complexo – felizmente, com O Mensageiro as histórias se encontram e essa impressão acaba.

Relembrando: o Volume 1 conta a história de Jonas, um garoto que vive em uma sociedade distópica onde os indivíduos não têm emoções, respondendo roboticamente aos comandos de um poderoso governo. As pessoas atuam na profissão escolhida pelos anciões, não fazem sexo (os bebês são criados artificialmente) e moram num mundo literalmente em preto e branco; nesse mundo há um indivíduo encarregado de armazenar as memórias de todos para que não se perca e Jonas é o escolhido para a tarefa. Para quem deseja ler mais, aqui no Rascunho com Café há uma resenha da adaptação dele para o cinema (link da resenha).

No livro 2, chamado A Escolhida, conhecemos Kira, uma órfã de perna torta, vive em um mundo onde os fracos são deixados de lado. A partir do momento da morte de sua mãe, ela teme por seu futuro até que é perdoada pelo Conselho de Guardiões. A razão é que Kira tem um dom: seus dedos possuem a habilidade de bordar de forma extraordinária, seu talento a mantêm viva e traz certos privilégios, ela percebe que está rodeada de mistérios e segredos, mas ninguém deve saber sua intenção de descobrir a verdade sobre o mundo. Ela não tem contato com Jonas, e seus problemas não são nada parecidos com os dele, então porque os dois livros fazem parte da mesma coleção?

A resposta vem com Matty, o protagonista deste terceiro volume resenhado aqui, ele vive com um cego que vem a ser o pai de Kira e os eventos narrados no livro acontecem pouco tempo após as ações de Jonas. Pena que o caso só é citado indiretamente, confesso que quando assisti ao filme, meu primeiro contato com a obra, fiquei muito curioso com as repercussões de todas memórias voltarem de repente para as pessoas, como elas reagiram com um fluxo de emoções sendo que haviam vivido por toda uma vida sem sentimento algum? É preciso esperar o lançamento do último livro para sabermos desses detalhes.

Não sei dizer se Matt é meu personagem preferido, mas ele já chamou a atenção desde que apareceu a primeira vez em A Escolhida é fico feliz que tenha sido bem em seu livro como protagonista, é um garoto com uma personalidade tão forte que conquistou os fãs da obra, mesmo que a história fosse de Kya e não dele.

Começam a acontecer coisas estranhas no Vilarejo onde Matt mora há 6 anos, lá ele amadurece convivendo com um cego (ironicamente conhecido como Vidente) que é o pai de Kira, devido a esses estranhos acontecimentos os moradores deixam de ser hospitaleiros e exigem que as fronteiras sejam fechadas e como Matt é o Mensageiro local cabe a ele avisar a todos do bloqueio e ainda recebe a missão buscar Kira antes que algo pior aconteça.

Percebe-se um elemento comum em todas as histórias, uma jornada de amadurecimento na qual jovens com habilidades especiais passam e que envolve o destino de toda comunidade. Embora isso realmente esteja presente em todas as obras, cada livro é original e único, Lowry é muito criativa em criar personagens e situação por isso não há a impressão de "eu já vi isso antes".

O teor filosófico é constante de toda série também, não é apenas contado uma história, há reflexão sobre e os personagens divagam bastante, como na parte em que Matt encontra um sapo e percebe um sinal nele:

Ele havia encontrado o que procurava. De certo modo, torcia para não encontrar. Sem dúvida, sua vida seria mais simples se aquele fosse um sapo qualquer, sem nenhuma marca. Mas, como no fundo já sabia, esse não era o caso. Da mesma forma, tinha consciência de que tudo iria mudar para ele a partir de então. Seu futuro sofrera uma nova e secreta reviravolta. A culpa não era do sapo,.... 

Mas não pense que devido isso é um livro chato. A autora escreve muito bem, a história corre fluída e as ações não são forçadas: é um livro de distopia sim, com implicações filosóficas e debates interessantes mas não deixa de ser uma história de ação, com muita aventura e emocionante. Leitura mais que recomendada.