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O Feijão e o Sonho: Um choque de realidade




Autor: Orígenes Lessa
Ano: 2012 - 56ª ed. (O original é de 1938)
Editora: Global
Páginas: 184
Nota: 4/5

Sinopse: 'O feijão e o sonho' é a história do poeta Campos Lara e sua mulher Maria Rosa - ele, um sonhador voltado para o seu ideal de criação, disposto a todos os sacrifícios para viver de sua literatura; ela, uma mulher pé no chão, valente e batalhadora, às voltas com o trabalho da casa e a criação dos filhos, inconformada com o diletantismo do marido e sempre a exigir dele mais empenho, mais feijão e menos sonho, para garantir o sustento da família.

Esse livro incomoda muito, principalmente se você for adepto da filosofia: “faça o que gosta mesmo que não dê muito dinheiro”. Sei que muitos querem acreditar que isso é verdade, que os Beatles tinham razão quando diziam All you need is love (você só precisa de amor) e que as pessoas não precisam se preocupar tanto com o material. Se você é uma dessas pessoas, não leia este livro, ele é um terrível e triste choque de realidade.

Campos Lara é um artista genial: fala e escreve bem, é fluente em inglês e recita poemas italianos, é poeta, revisor e tradutor conceituado e conhecido mas se nada disso dá dinheiro hoje imagina na década de 1930 quando o livro foi escrito. Pois é, o título já demonstra na forma de metáforas o conflito que permeia toda a vida desse fascinante personagem: como equilibrar as durezas da realidade (simbolizados no feijão de cada dia) com suas aspirações e desejos de artista (o sonho)?

E o pior, ele está ciente dessa dificuldade mas não parece se importar muito com isso. Quem sofre é sua esposa, Maria Rosa, que se casou encantada com a poesia e a inteligência do noivo mas logo percebeu que aquilo era só ilusão, é ela que, desde o começo da história, está cobrando dele que seja mais responsável, que não “viva no mundo da lua” e que se preocupe mais com a vida real:


Todos os dias aquela miséria... Maria Rosa estava de pé às cinco da manhã. Havia que pôr a casa em ordem, arrumar a sala de aulas, preparar o café, lavar os pequenos, vesti-los, passar roupa – "tenho um serviço de negra!" – e acordar o marido. Era o mais difícil.

Cabe aqui uma reflexão, quem é o antagonista – o vilão – dessa história? Ela que atrapalha os sonhos dele, e não deixa o marido exercer sua arte, ou ele que não cuida direito da casa e dos filhos, se preocupando com coisas fúteis e esquecendo de suas responsabilidades?

Não é uma questão fácil, a resposta depende da opinião do leitor, e o livro é repleto de indagações e problemas de difíceis soluções, afinal fala sobre a vida real e não existe nada mais complexo e difícil como ela. Como quando Maria Rosa está pensando sobre o futuro dos filhos:

No fundo, Maria Rosa preferia que, em vez de escola, as crianças arranjassem um emprego. O trabalho compensa. Irene poderia ser uma boa datilógrafa. Joãozinho faria carreira, na casa de Gomes, Correia & Cia. O estudo poderia estragá-los, fazê-los iguais ao pai. (...) Campos Lara vivia mediocremente, pobremente. Uma peleja tão grande, para ganhar pouco mais do que um empregado de escritório. 



Um leitor de hoje pode pensar que a mãe é louca por preferir que os filhos arranjem um emprego em vez de estudar, mas é preciso lembrar que a realidade do Brasil na década de 1930 era muito diferente da de hoje, naquela época um curso de datilografia e um trabalho de escritório tinha muito valor.

Os personagens não são muito complexos (quase caricatos na verdade), não há muitas situações impactantes e pouca ação, com algumas críticas sociais aos valores da cidadezinha onde vão morar, e ao desprezo da população pela educação ou a forma desonesta como muitas pessoas se aproveitam da inocência de Campos Lara. Depois de uma certa altura, tudo fica repetitivo e previsível.

Só que, apesar disso tudo, o livro é muito bom de se ler; ficamos torcendo pra família achar um jeito de contornar as dificuldades e ser feliz e no final há até uma surpresa (pelo menos eu não imaginava que fosse acabar assim) e deixa um gostinho de quero mais, afinal a vida não tem fim, não é mesmo? 

11 comentários:

  1. gostei da resenha do livro parece ser interessante e apesar de tudo atual! o brasil dos anos 30 a até hoje não mudou muito sócio-econômico falando!

    www.sramaia.blogspot.com

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  2. Esse parece o tipo de livro que eu gostaria de ler. Gosto do choque da realidade, e quando são levantadas questões sociais, familiares. Muito obrigada pela dica! Beijos da Sa!

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  3. Oi Alessandro, li esse livro faz muitos anos, e não lembrava muito dele mais, minha memória é uma coisa de louco, então adorei vir aqui relembrar um pouco, eu só lembro que gostei da escrita do autor, mas revendo sua resenha me deu uma vontade de dar um cascudo no cara que não sabia dosar cuidar da família com viver seu sonho.
    Grande abraço e parabéns pela resenha.

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  4. Oie!

    Confesso que a primeira vista o livro não me chamaria a atenção, mas depois de ler a sua resenha, revi meus conceitos. Achei bem interessante o enredo, e fiquei curiosa para conhecer a história.

    Beijos!

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  5. Olá! Olha eu sou um pouco "pé no mundo da lua" e por isso mesmo achei interessante a sua indicação. Penso que vale a pena estar de frente com a realidade se não a vida passa e a gente depois se arrepende. Estou louca para conhecer mais esta história! Valeu mesmo pela dica!

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  6. Oi, tudo bem?
    Li esse livro quando era adolescente e talvez por isso não tenha lido nas entrelinhas tudo que você disse na sua resenha.E cara, fiquei com raiva da mulher agora e também pensativa sobre ele trabalhar em algo que lhe desse mais dinheiro e deixasse os sonhos de lado.Afinal, tinha uma família pra cuidar.Mas confesso que também fiquei em conflito quanto quem está certo ou errado,hahaha. Amei a resenha.

    bjs

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  7. Puxa... quando começou a descrição do personagem, eu me vi u pouco e vi vários amigos autores e tradutores ali... Definitivamente a arte como sustento não é valorizada em determinados países, incluindo o Brasil. E eu estou falando de agora, então par ao personagem, é muito pior, dada a época da história. Eu gosto de livro que nos fazem pensar, filosofar em cima da realidade. Esse tenho certeza que cairia no meu gosto rapidinho. Seu texto está ótimo!! Descritivo e reflexivo. Adorei!

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  8. Oi Alessandro!
    Já ouvi muitos comentários positivos sobre esse livro, mas ainda não li. Gostei muito do enredo e acho que é uma discussão profundo a que ele traz: a satisfação em fazer o que gosta compensa a falta de remuneração? É bem complicado isso, porque quando fui fazer faculdade, escolhi História com o coração e hoje peno com o salário de professora, poderia ter feito outro curso e buscado uma carreira que me remunerasse melhor, mas estaria feliz e realizada?
    Adorei sua resenha e vou querer ler o livro, com certeza!
    Bjs!

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  9. Apesar de sua resenha estar ótima, com certeza este livro não faz o meu tipo!
    Vou deixar passar dessa vez!
    Achei interessante a questão de fazer algo que goste e não se importar com a remuneração, mas hoje em dia é muito difícil quem consiga fazer isso, infelizmente.

    Beijos

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  10. Oiie, gostei muito da resenha, Eu ainda não conhecia o livro e ela despertou muito o meu interesse. Vou adiciona-lo aos desejados para ler num futuro próximo.
    Adorei a dica, beijão!

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  11. Oi Alessandro, tudo bem?
    Eu li este livro já fazem muitos anos, nem lembrava mais da história direito.
    Foi bom ler sua resenha e poder relembrar desta ótima história que nos leva a reflexões bem atuais.
    Abraço.
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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