Opinião - O mundo está ficando mais intolerante?

Hoje em dia, qualquer comentário em uma rede social pode se tornar uma guerra de opiniões, na qual não só os argumentos são atacados, mas principalmente os detratores. Será que, o mundo está ficando mais intolerante?

Percebe-se que o acesso à informação nunca esteve tão fácil. Basta um clique e uma infinidade de textos é disponível: não sabe o significado de uma palavra? Tem dúvida da ortografia? O texto está em um idioma que não conheço? Tudo bem, o doutor Google resolve todo esses problemas para nós em milésimos de segundo.

Além disso a educação formal tem se difundido muito no Brasil; depois de universalizar a matrícula para os alunos regulares a partir dos 07 anos, o governo agora está conseguindo matricular os alunos especiais (Fonte: Ministério da Educação) e alunos a partir de 04 anos (Fonte: EBC) em números nunca antes vistos.

Com toda essa informação, era de se esperar que as pessoas pensassem mais e fossem mais abertas ao diálogo. Mas, não é isso que está se vendo: se você defende o Governo Federal, automaticamente é taxado de "petralha", "vagabundo", "que vive de esmola" ou algum adjetivo do tipo; da mesma forma, quem critica a Administração Pública, já vira "coxinha", "imbecil", "não quer perder a empregada barata" etc e tal.

E não é só na esfera política que as discussões andam acerradas e nervosas, qualquer assunto: redução da maioriodade penal, pena de morte, direito das minorias, uma questão do ENEM com uma frase de Simone de Beauvoir, veganismo etc. As pessoas não querem mais ouvir o argumento das outras e apelam para o ad hominem (falácia que consiste em atacar a pessoa e não seus argumentos).

E quando se trata de notícias de grande comoção, a coisa só piora: houve uma tragédia na França e outra no Brasil? Em vez de se solidarizar com ambas e procurar uma forma de ajudar, o melhor é atacar quem coloca uma bandeirinha da França na foto de perfil porque está valorizando mais a tragédia europeia; se os jornais noticiam um atentado terrorista em algum país, o negócio não é se solidarizar mas falar que atentados acontecem na África ou qualquer outro lugar todos os dias. A imprensa não noticia algo que o telespectador acha relevante, é mídia golpista, vendida, alienante etc.

Essa reação acerbada, é sinal dos fins dos tempos? Fruto da precarização da Educação? Sintoma de um povo interesseiro e mal educado? Talvez, uma soma de todos esses fatores, ou quem sabe nada disso é novidade é só está se tornando público devido a facilidade de se publicar o pensamento juntamente com o efeito manada (O que é efeito manada?).

Minha teoria é a seguinte, antigamente quando uma pessoa tinha uma ideia bem estranha e preconceituosa, guardava-a para si e no máximo falava com pessoas próximas, com receio de ser taxado de ignorante (em muitos casos falava em tom de piada em público). Com a internet, ele pode vociferar a vontade e de forma anônima, sabendo que os seus detratores não podem fazer nada contra ele, nem mesmo contra sua honra. 

Da mesma forma, a pessoa que não via suas ideias expressas por outras pessoas, ao encontrar um grupo falando algo que ele concorda, se sente seguro para falar a besteira que quiser - afinal não é só a opinião dele, é a opinião de seu grupo.

Assim não creio que estamos mais intolerantes; o que acredito é que a Internet expõe em escala bem maior o melhor e o pior das pessoas, existe muitos sites bons e projetos de apoio colaborativo bem legais na internet, a Wikipédia e as outras wikis são um bom exemplo, só que esses projetos não chocam e por isso não chamam tanto a  atenção.