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Polêmica: As mulheres começaram a trabalhar fora por causa do Feminismo?


Uma afirmação que vejo frequentemente, principalmente em grupos antifeministas, é que as mulheres de antigamente eram exclusivamente donas de casas, e graças ao Movimento Feministas, começaram a trabalhar fora e competir com os homens. Mas, será que essa afirmação é verdadeira? As mulheres de hoje trabalham por que querem ou por que precisam? E nos séculos anteriores, elas não precisavam trabalhar? Ainda no clima do meu texto sobre o Brasil ter melhorado em relação ao passado, vamos analisar mais um mito muito difundido até os dias atuais.


Há quase 100 anos, em julho de 1917, uma greve geral parou São Paulo durante a Primeira Guerra Mundial, promovida por várias entidades anarquistas eles reivindicavam várias melhorias à classe trabalhadora – até hoje é considerada a manifestação operária mais abrangente e longa do Brasil, em sua pauta exigiram 11 tópicos, para nossa discussão o mais interessante é o 6º:

- Que seja abolido o trabalho noturno das mulheres;

Fonte: http://www.projetomemoria.art.br/RuiBarbosa/glossario/a/greve-1917.htm

O que significa isso? Que em 1917, no auge do machismo, havia operárias em número suficiente para que a organização do movimento dedicasse uma das reivindicações a elas. Uma que lhe garantisse tempo a noite para cuidar da casa e dos filhos, afinal as mulheres tinham que cuidar do trabalho fora e depois quando voltassem ainda eram donas de casa.


E podemos voltar mais no tempo e encontrar mais referências de mulheres que trabalhavam em várias épocas da nossa história. Embora não haja muitos registros formais: não havia Carteira de Trabalho antes da década de 1950 e muitas trabalhavam informalmente, é possível encontrar exemplos em textos literários da época, como o Conto A Melhor das Noivas de Machado de Assis, embora seja uma obra de ficção é um texto do período Realismo portanto tentava representar a realidade o mais fiel possível. Vejamos um trecho desse conto:

Esta D. Joana era uma senhora de quarenta e oito anos, rija e maciça, que durante dez anos dava ao mundo o espetáculo de um grande desprezo da opinião. Contratada para tomar conta da casa de João Barbosa…

Pois é, a Dona Joana era quarentona e não se importava com o que a sociedade pensava dela, por isso não se casou e precisava trabalhar para se sustentar – será que isso é tão difícil de acontecer assim? Certamente que não, sempre houve e haverá mulheres solteiras, órfãs, viúvas sem pensão assim como mulheres casadas com desempregados e inválidos em uma época que não existia Previdência Social, e por isso as esposas que deveriam ser o arrimo da família.

A maioria dessas mulheres trabalhavam de lavadeiras, empregadas domésticas, cozinheiras, costureiras etc. Sabendo que esse serviço é tradicionalmente considerado feminino e sempre houve demanda para esse serviço, é fácil concluir que sempre houve mulheres que trabalhavam fora.

Conforme explica o site "Meu Advogado":
 A primeira norma a ser aplicada aos empregados domésticos, foi a Lei de 13 de setembro de 1830, vigente antes da abolição da escravatura que tratava de contrato escrito sobre prestação de serviços feitos por brasileiros ou estrangeiros dentro ou fora do Império
(…)

a atividade doméstica passou a ser exercida por moças jovens, solteiras, filhas de pequenos agricultores, pobres e analfabetas, onde eram buscadas sempre no interior do Estado, pelos empregadores interessados (…) eram pessoas completamente desqualificadas para o mercado de trabalho, ou seja, não tinham capacidade para serem inseridas em atividades como indústria e comércio e dessa forma, em busca de subsistência, trabalhavam em casas de família...

Fonte: http://www.meuadvogado.com.br/entenda/origem-do-trabalho-domestico-no-brasil.html

 Além do trabalho doméstico, as mulheres também trabalhavam como tecelãs, artesãs e em boutiques e outras lojas femininas, essas eram mais qualificadas e ganhavam um pouco mais porém ainda eram de famílias pobres e ganhavam menos que os homens com sua qualificação – uma realidade que persiste até o dia de hoje.

Julie Andrews no papel de vendedora da flores Eliza Doolittle no musical My Fair Lady
Até mesmo na alta sociedade havia mulheres que trabalhavam, como é o caso de Madame Durocher, a primeira mulher na Academia Nacional de Medicina, era nasceu em Paris em 1809 mas veio ao Brasil aos 7 anos e aqui se formou enfermeira e parteira.

A história do Brasil é repleta de mulheres que precisavam, ou simplesmente queriam, trabalhar para ganhar seu próprio sustento e não precisavam de um marido para as sustentar. Assim como acontece atualmente, as filhas e esposas de homens ricos são madames e podem se dar ao luxo de serem donas de casas e algumas outras mulheres, que tem essa oportunidade, abrem mão de suas carreiras para cuidar da casa e dos filhos mas são minoria: a grande maioria das brasileiras são lutadoras e enfrentam jornadas duplas para conseguirem manter um emprego e cuidar de seus lares.

O feminismo nunca mandou as mulheres trabalharem fora: o que toda feminista defende é o direito à escolha consciente, a luta das feministas é por direitos, como auxílio-creche, licença maternidade, salários iguais etc. É uma luta para melhorar a vida das mulheres, nunca o contrário.

9 comentários:

  1. Bom, em vários filmes antigos eu me lembro de ter visto mulheres trabalhando em fábricas, então acho que mulher trabalhando fora vem de muito tempo. Igualdade nos salários, cargos e etc, já vemos, tem mulheres que ganham mais que alguns homens, mas isso vemos pouco. É uma luta sem fim, mas espero e torço muito para que um dia chegue ao fim com várias vitórias para nós mulheres.

    bjs

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  2. Olá!
    Adorei seu artigo e até hoje o preconceito existe, sutil, meio que velado, mas existe!
    Tem a história de Ana Nery que queria ser médica estudou pra isso sozinha, mas não podia exercer a função, só como cuidadora que passou a ser enfermagem.
    Há tantas coisas, desigualdade que precisam ser combatidas, não só em relação as mulheres, mas criam -se leis as vezes tão arbitrárias que eu nem sei mais o que pensar.
    Bjs

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  3. Olá! Eu adoro esse tipo de postagens, acho ótimo poder chegar em um blog e pegar conhecimento. Foi um texto que me deixou bem reflexiva quanto ao tema. Bem, concordo com muitas colocações, só acho válido ressaltar as dificuldades que as mulheres enfrentavam para conseguir trabalhar. Salários baixos, a dificuldade em conseguir bons cargos e até mesmo em conquistar capacitações para isso. Concordo que não foi o movimento feminista que abriu caminho para que as mulheres trabalhassem fora, mas com certeza auxiliou no aspecto da igualdade, e como o próprio texto diz, melhorou e muito as condições de trabalho para nós, mulheres. Hoje a realidade já mudou muito de forma positiva, mas com certeza ainda falta muito a ser alcançado.
    Abraços

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  4. Oi, achei seu texto bem interessante, bem reflexivo e concordo com muitas questões levantadas, e acho valido ressaltar a dificuldade que as mulheres que ainda enfrentam para conseguir emprego e para ter um salario igual a do homem. Concordo que não foi o movimento feminista que abriu portas para as mulheres trabalharem fora, mas acho que ajudou bastante nas conquistas.
    bjus

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  5. Olá, tudo bem?
    Primeiramente deve lhe parabenizar pelo artigo, muito bem escrito, estruturado e muito informativo. Acho que o movimento feminista não foi realmente o motivo pelo qual hoje as mulheres trabalham assim como os homens, mas acho que o movimento de certa forma teve sua participação. Esse é um assunto muito polêmico ainda, o que todos esperam é que haja igualdade e menos preconceito.
    Adorei seu texto.

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  6. Olá Alessandro, tudo bem?
    Muito interessante seu texto.
    Eu sei que as mulheres trabalham para garantir seu sustento desde o início dos tempos. Inclusive na época medieval já existiam as mulheres que trabalhavam para sobreviver, por isso concordo que o feminismo não foi o precursor disto. Acho que ainda temos muito a trabalhar para que a condição da mulher no trabalho e em na sociedade em geral venha a mudar para melhor.
    Um abraço.
    Lia Christo
    www.docesletras.com.br

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  7. Francamente, eu não aguento esse pensamento pequeno de que mulheres saíram de casa para trabalhar porque um movimento mandou, instigou ou seja lá o que disserem. Custava pensar dois segundos antes de abrir a boca? A moça vira viúva jovem, com 4 filhos e..... morre todo mundo de fome pq n podia trabalhar já que o feminismo não existia, claro...! Seu texto é ótimo e auxilia os leitores a abrirem um pouco suas mentes. Tomara que muita gente leia!

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    1. JOVEM VIÚVA de antes não ficava assim como vc fala, passando fome com 4 filhos. Não precisava ser viúva para ser assediada. Homens pensavam que esta viúva poderia ser "uma perdida" logo e, achando que a estavam "salvando" juntavam o útil ao agradável, para eles. E lá se ia a nova trepadeira, cozinheira, lavadeira, arrumadeira. Filhos nem eram problema porque bastava dar uns pescoções nas crianças. Por isto que vemos este círculo vicioso de violências domésticas se perpetuando até hoje.

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  8. Olá, adorei o texto...
    Hoje é muito comum arrumar algum pretexto para uma determinada ação, ou para justificar o início de uma determinada situação.
    Acredito que o motivo o qual levou as mulheres a assumirem uma posição diferente na sociedade foi justamente a necessidade. Vendo seus maridos e parceiros saírem para a guerra, quem iria assumir seus postos nas fábricas? Seus filhos e famílias passando fome...é claro que a mulher iria fazer alguma coisa para reverter essa situação. Quem ficaria de braços cruzados quando se depare-se com tal realidade?

    Agora tudo é motivo pra taxação, se você não gosta de algo é porque ele é contra você...um termo é machista, outro feminista...aonde vamos parar???

    Adorei o texto.
    Abraços

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