As Sombras de Longbourn: Além do conhecido

Autora: Jo Baker

Editora: Companhia das Letras

Ano: 2014

Páginas: 456

Nota: 4,5/5

Sinopse: “As Sombras de Longbourn” é o romance dessas figuras invisíveis. Sob o comando da governanta e cozinheira sra. Hill, trabalham Sarah e Polly, duas jovens trazidas de um orfanato quando ainda eram crianças para trabalhar na casa. O mordomo idoso, sr. Hill, serve à mesa e divide a administração da casa com a sra. Hill. Os quatro formam um pequeno exército de empregados que labuta dezoito horas por dia para que a família Bennet de “Orgulho e Preconceito” goze do máximo conforto possível. A chegada de James Smith, um jovem lacaio recém-contratado, irá movimentar o andar de baixo da casa, revelando antigas tensões entre empregados e patrões.

Mais que uma mudança de perspectiva, um novo universo criado.

“As Sombras de Longbourn” é um livro inspirado no universo de “Orgulho e Preconceito” de Jane Austen. Sensível, sem glamour e muito realista, o livro recria Longbourn, casa da solteira de Elizabeth Bennet onde as passagens do clássico são mencionadas.

Mencionadas, porque “Sombras” conta uma história nova, os personagens que tanto amamos estão lá, mas não estão em primeiro plano. Os acontecimentos suprimidos de “Orgulho” são narrados nessa obra, o que torna tudo mais interessante. Sabemos mais, por exemplo, sobre a loucura que se instalou em Longbourn quando a carta de Lydia chegou e também conhecemos mais sobre personagens com menos destaque, como as irmãs Kitty e Mary.

Porém, o livro é sobre os empregados de Longbourn, mas especificamente o foco é em Sarah, uma personagem com uma natureza linda e inquietante, uma órfã que foi criada quase como filha pela sra. Hill (fiel empregada da família Bennet e a única empregada que realmente aparece no clássico) e que deseja muito mais do que carregar latrinas e trabalhar tanto a ponto de ter as mãos esfoladas: Sarah deseja amar, conhecer lugares e ser feliz. A chegada do novo empregado, o misterioso James e do lacaio de Netherfield, trazem mais cor a sua vida e sobre os olhos atentos da protetora sra. Hill, Sarah sonha buscar sua felicidade.

Há também um mistério sobre a identidade de James, mistério que me deixou bastante surpresa, eu realmente não esperava, apesar do segredo ser o mais realista possível para a dura época em que os personagens viviam.

Comumente comparada a série de sucesso Downton Abbey, As Sombras de Longbourn vai além disso, eu realmente o associei aos maravilhosos livros de Tracy Chevalier em “Moça Com Brinco de Pérola” e a “A Dama e o Unicórnio”, pela recriação e pelo lirismo que Tracy fez, ao pegar detalhes tão conhecidos e criar “um mundo” praticamente novo, tão perfeito quanto Jo Baker.

Poucas vezes eu gostei mais do título brasileiro do que do original, como aconteceu dessa vez, já que a edição internacional se chama apenas “Longbourn”.  Como a própria autora em uma nota ao final do livro avisa, os personagens representados são apenas “presenças espectrais” no original de Austen, portanto, muito acertada a escolha brasileira, pois é isso mesmo que eles são: sombras em Orgulho e Preconceito, que ganham vida aqui em “Sombras de Longbourn”.

Ótimo livro para aqueles que querem uma narrativa sensível, realista e para novos detalhes do casal Darcy e Elizabeth, uma vez que eles pouco aparecem, e quando aparecem juntos, eles já são Sr. e Sra. Darcy, afinal, sobre eles nos já conhecemos e é uma outra história....

Nota: 4.5/5