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Foto: Divulgação/Warp Films/Weinstein Company |
Ando por uma rua deserta.
Além do som de meus passos e da minha respiração, só ouço o barulho do vento
que passa por mim sem dificuldade. É uma brisa suave, típica das noites de
verão. Uma brisa que deveria levar consigo tudo de ruim que encontrasse no
caminho.
Decidi sair para uma
caminhada porque eu simplesmente não aguentava mais o sufoco do meu pequeno
quarto no décimo oitavo andar. Tudo
ali parecia querer me engolir ou me estrangular. Tudo parecia me puxar para um
buraco cujo fundo eu não conseguia ver. Talvez nem houvesse um fundo, afinal.
Era um abismo, então.
Os livros desarrumados, as
fotos espalhadas pela escrivaninha, o barulho quase inaudível mas, ao mesmo
tempo, ensurdecedor do computador. Tudo me sufocava. Era o caos. E era só meu
quarto.
Agora, andando pela rua
deserta em que estou, o que me sufoca são meus pensamentos e meus sentimentos
amargos. Não sei qual sufoco é pior. Acho que ser sufocada pelos próprios
pensamentos e sentimentos amargos é pior.
As pessoas vão embora.
Não embora do tipo “tchau,
te vejo em breve!”. A despedida aqui é mais forte. É mais um “adeus” do que um
“até logo”. Então é isso. As pessoas dizem adeus.
Cada partida tem seu
impacto, mas é inegável que toda partida, quando vem de alguém
consideravelmente próximo, dói. E cada partida tem uma dor
diferente.
Eu já experimentei partidas
que eram como a picada de uma agulha. Rápidas. Doloridas no início, mas que passaram logo em seguida.
Também já experimentei
partidas que doeram como um chute no estômago. Não que eu já tenha tomado um,
mas imagino que a dor deva ser razoavelmente forte.
Já experimentei partidas que
doeram tanto, mas tanto, que parecia que nunca iria acabar. Era como se a dor
fosse infinita. Uma dor excruciante. Uma dor que simplesmente insistia em estar
ali, mesmo sabendo que machucava demais e que não era bem-vinda.
Pé ante pé, caminho na rua
deserta. Nada além de passos. Respiração. Brisa. Pensamentos. Sentimentos
amargos. E a dor da partida.
É engraçada a sensação de
vazio que usualmente me invade em momentos de partida. É como se meu cérebro
entrasse em um estado de torpor momentâneo. Tudo fica vazio. Nada. Zero.
E depois, a dor.
E a sensação de estar sendo
sugada para um abismo de dor.
E tudo oscila entre dor e
torpor temporário. O sentir nada e sentir tudo ao mesmo tempo.
É confuso.
Permito-me sentar no
meio-fio, fitando um muro cinza na calçada oposta.
Permito-me ficar ali,
parada, apreciando aquele muro pelo que parecem horas.
Permito-me chorar como uma
criança cuja mãe não quis comprar aquele brinquedo tão desejado.
Permito-me, por um momento,
sentir a dor. Tornar-me a dor.
Permito-me socar o chão.
Permito-me tentar desviar a atenção da dor interna, a qual não tenho como
curar e não sei lidar, para uma dor física.
Permito-me olhar para o céu
e perguntar, para ninguém ou algo especial, por que diabos as pessoas vão
embora.
E fico ali, permitindo-me.
E aceito os ‘adeus’, pois não há nada que eu possa
fazer para mudá-los.
Que texto lindo, parabéns. Muitas vezes, o maior problema é que não nos permitimos sentir a dor. A dor deve ser sentida para depois poder ser ignorada.
ResponderExcluirUm beijo
Vidas em Preto e Branco
Lary, fico feliz que tenha gostado do texto!
ExcluirSim. O grande problema é aceitar a dor. Mas é compreensível. A dor da partida daqueles que amamos é tão forte que, muitas vezes, parece que nós simplesmente não vamos aguentar. Felizmente, nós sempre damos um jeito de seguir em frente.
Beijos!