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Foto: Reprodução/Tumblr |
Paro.
Respiro
fundo.
Silêncio.
Nunca
entenderei a relação intrínseca entre estar só por alguns instantes e,
paralelamente, sentir-se realmente só. Sozinho. Triste, até. Porque dependemos
de relações com outras pessoas. O homem é isso. Um animal social.
A solidão
momentânea fomenta reflexões. Reflexões fomentam sentimentos. Geralmente,
péssimos.
Respiro
novamente.
Um
quarto escuro, o silêncio quebrado apenas pelo barulho de minha respiração
ritmada, densa. O som de um ser humano. O único no local. Eu. Só. No momento
afogando-me na melancolia provocada por noites de domingo no silêncio de um
quarto escuro, tendo como companhia uma xícara de café que cansou de esperar
que fosse bebido e esfriou e alguns livros.
Consegue
ouvir esse barulho? Sou eu respirando. Ou é você. Tudo se mistura.
Vamos
lá.
Nunca
me senti tão perdida. Não por estar só ou por estar só na escuridão de um
quarto – meu quarto, que às vezes me parece tão alheio - , não. Perder-se vai
além disso.
Perder-se,
aqui, vai além de pegar um ônibus, descer no ponto errado e descobrir que
perdeu-se pois não conhece o lugar onde está, e aí tem que sair perguntando
para estranhos na rua como faz para chegar ao lugar em que deveria estar.
O
pior perder-se é o perder-se de si mesmo. Entende? Não? Sim? Talvez?
O
sentir-se perder é tão ruim quanto.
Vago
sem rumo. Acordo, tomo meu café, escovo meus dentes, leio meu jornal, vou
trabalhar. Sem propósito. Para quê?
Necessidades.
Não. Obrigações. É, obrigações. Acorda, escova os dentes, toma banho, toma o
café, vai para a escola ou trabalho. Volta, janta, lê alguma coisa na internet,
assiste à televisão. Vai dormir, tem um sonho bom, para acordar no dia seguinte
e descobrir que a rotina continua a mesma. Todos os dias. O padrão. O de
sempre.
-
Como vai você?
- O
de sempre.
Respiro
outra vez.
A
melancolia de uma noite de domingo solitária é como um mar. É um extenso mar de
águas traiçoeiras. E ele te arrasta para o fundo. Bem para o fundo. Posso
sentir-me afogar nesse mar de melancolia neste exato momento.
Algo
me sufoca.
Acho
que é a água entrando em meus pulmões. Ou a melancolia penetrando meu coração,
meu cérebro? Não sei. Não sei.
Quais
as suas resoluções para o futuro? Não faço ideia.
Não
faz ideia?
Não,
não faço. Estou perdida. Estou só. Abandonada num vazio imenso e branco, tendo
como paisagem nada além do nada.
O
futuro é uma placa branca, vazia. Isso assusta. O futuro é um grande abismo, um
nada. Não vejo nada.
O
que você vê quando imagina seu futuro?
Eu
não vejo nada.
Nada?
Nada.
Nada.
Respiro
novamente e tento dormir. Alguém faça meu cérebro parar. A solidão esmaga meu
peito e bate em minha face. Sinto a melancolia penetrando cada vez mais fundo.
Ah,
a melancolia. A solidão. O perder-se. A pressão
A
pressão, pressão, pressão.
“Faça
isso”, “faça aquilo”, “decida-se logo”, “ganhe dinheiro”. Não, não, não. Não
quero, não posso.
A
dor é tão forte que se torna física. Como uma navalha rasgando-me as entranhas.
Olho para baixo, mas tudo parece normal. Não vejo navalha
alguma.
Alguém
me ajude.
O
mar. A navalha. O sufoco. O abismo.
Sinto
as pálpebras pesadas. O cheiro de café gelado na mesa ao lado da minha cama
entra pelas minhas narinas. É como um calmante.
Respiro
fundo. A dor ameniza.
Ainda
estou aqui. Ainda não caí no abismo.
Quanto
tempo até cair? Não faço ideia.
Não
faz?
Não.
Sinto-me
sendo arrastada novamente, mas não para a melancolia. Não.
Vou
para um lugar diferente. Caio.
Vou
caindo, caindo, caindo, caindo...
O
abismo é outro.
Durmo.
E
só.
Eu tô chocada em como você escreve bem, Victória! Eu fui tragada pra dentro do texto e quase senti o que você falou. Uma pena que o texto seja tão triste. Se precisar conversar, pode contar comigo. Sei que nem nos conhecemos, mas seria um presente ter sua confiança. Não se sinta só!
ResponderExcluirClara - Blog Incantevole
@clarabsantos
clarabeatrizsantos.blogspot.com.br
Clara, fico muito feliz que tenha gostado do texto! Apesar de ser algo um tanto quanto pessoal, tentei levar para um âmbito mais "universal" o máximo que pude. Fico satisfeita que tenha (aparentemente) conseguido exteriorizar de forma satisfatória o que sentia, hihihi =D
ResponderExcluirE ficaria muito contente de conversar com você =)
Abraço!
Oi, você ainda escreve?
ResponderExcluirMe chama no insta,
@priscillafornazier