Na última semana
resolvi assistir um anime clássico dos anos 90, que eu já conhecia por ter
visto dois, dos quatro filmes, há mais ou menos um ano. Neon Genesis
Evangelion, ou simplesmente Evangelion, traz uma trama que se passa em um Japão
pós apocalíptico, com muita ação, sangue e reflexões sobre a humanidade. A
trama gira em torno de Shinji Ikari, um garoto introvertido e ressentido com o
pai, que é escalado para pilotar uma das Unidades Evangelion, e proteger a
humanidade dos chamados “Angels”.
Criador:
Yoshiyuki Sadamoto; Hideaki Anno
Ano:
1994
O anime tem início
com a chegada de Shinji a Tóquio 3, que é uma cidade modificada para aguentar o
impacto da chegada dos “anjos”, criaturas de origem desconhecida, que surgem de
tempos em tempos na Terra, a fim de destruir a humanidade. Os EVAs foram
criados para combater os anjos, e são mechas, em formato humanoide (tipo
megazord, só que de um jeito mais legal).
A origem dos anjos é
desconhecida, mas em vários momentos, é mostrado que eles adquirem conhecimento
a partir das batalhas com humanos, e a cada investida provocam danos mais
profundos ao bloqueio feito para proteger a civilização. Os EVAs, em
contrapartida, foram criados pela NERV, agência de inteligência idealizada por
Gendo Ikari, pai de Shinji, e basicamente são robôs gigantes, construídos em
tecnologia avançadíssima, e que são pilotadas pelos “escolhidos”.
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Unidades EVA |
A relação entre
Shinji e Gendo é mostrada como conturbada, após o falecimento da mãe de Shinji,
Gendo o abandonou e só o solicitou novamente anos depois, para pilotar a
unidade EVA nº 01. Pouco é esclarecido sobre as razões de Gendo, que assim como
o filho, é introspectivo, apesar de mostrar afeição pela piloto da unidade EVA
nº00, Rei Ayanami.
Rei é uma garota
magra de cabelos azuis, sem personalidade ou ambição, que vive para pilotar o
EVA e não se importa em morrer em batalha. A garota é realmente isso. Sem expressão
ou simpatia, Rei não é nada mais do que uma garota apática, contudo consegue se
afeiçoar minimamente por Shinji Ikari, e no decorrer da trama desperta algumas
dúvidas sobre suas motivações e sobre si mesma. Rei pilota a unidade EVA nº 00,
e já no início da trama aparece extremamente debilitada, devido a uma luta
anterior. Seu estado crítico de saúde leva Shinji a pilotar o EVA pela primeira
vez, como forma de poupar a garota.
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Rei Ayanami |
Um pouco mais a
frente é introduzida a piloto da unidade EVA nº 02, Asuka Langley Soryu, uma
garota alemã, egocêntrica, egoísta, mas extremamente afetada pelos fantasmas do
passado. Ela também se afeiçoa por Shinji, apesar de negar e se incomodar com
sua personalidade passiva. Asuka presenciou a loucura de sua mãe, ou “Mama”,
como ela própria a chama, e o suicídio de sua mãe adotiva, e apesar de negar
frequentemente seu passado, é extremamente afetada por ele, chegando a entrar
em colapso posteriormente.
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Asuka Langley Soryu |
Outros personagens
são aprofundados na trama, como Misato Katsuragi, tutora de Shinji e major da
NERV, que é uma mulher alcóolatra e solitária quando está em casa, mas forte e
comprometida com seu trabalho. Misato perdeu sua família no chamado “Segundo
Impacto”, que deu início ao aparecimento dos anjos na Terra, e isto foi
determinante para sua integração à NERV. Além dela, os colegas de Shinji e
outros funcionários da NERV ganham momentaneamente a cena, em sua maioria com
duas faces: a face comum e comprometida com os EVAs e a humanidade, e a outra
problemática e afetada, também pelos EVAs, e pelos anjos.
O anime engloba, em
meio a trama, reflexões, especialmente de Shinji Ikari, sobre motivações, desmotivações,
conflitos pessoas e também relacionados à religião e à humanidade. Em muitos
momentos tive a impressão que os personagens de Evangelion, em sua maioria, são
alegorias de diversas personalidades, típicas do ser humano, como egoísmo,
altruísmo, inveja, ambição, dentre outros. É possível ver o desenvolvimento de
pessoas dessa natureza quando colocados em situação extrema de desespero.
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Shinji Ikari ao pilotar o EVA pela primeira vez |
O anime também faz
reflexões muito boas, especialmente no que tange bem, mal, mas peca em tentar
ser “profundo” demais, e inclui citações desnecessárias e sem nexo, em alguns
momentos. O final Evangelion, para mim, foi o mais decepcionante. Depois de uma
construção entrelaçada e complexa, Evangelion “morre na praia”, com um final
embaralhado, confuso e que não vai a lugar nenhum e não dá desfecho a ninguém,
nem mesmo à trama principal. Não é esclarecido a origem dos anjos ou o que se
sucede aos personagens principais e seus EVAs.
Entendo que em
algumas situações deixar a trama em aberto pode ser interessante, mas no caso
de Evangelion foi apenas frustrante. Anos mais tarde os produtores da série
animada pareceram se arrepender do desfecho dado ao anime, produzindo um filme spin off que reconta o mesmo final
(ufa!).
Em 1997 o estúdio
Gainax, produtor do anime, lançou nos cinemas o filme The End Of Evangelion. O
longa apresenta um final alternativo para a série, servindo também como
complemento aos episódios 25 e 26. Talvez, a principal razão da existência
desse final alternativo seja o fato de o final da série original ter deixado
uma grande quantidade de incógnitas e assuntos sem resolução na trama. O
episódio 26, por exemplo, é excessivamente filosófico. Toda essa complexidade
no final original desagradou boa parte dos fãs, porém, o final alternativo
visto em The End Of Evangelion dividiu opiniões. Há debates sobre como a
história apresentada pelo filme se encaixa com a história do anime.
A série também ganhou
uma tetralogia de filmes, intitulada Rebuild of Evangelion, que a princípio é
quase uma versão remasterizada do anime, mas que ganha pontos pelas alterações
feitas, que dão um ar de novidade ao anime (além de corrigir os pequenos erros
no roteiro do anime de 1994).
Evangelion é um anime
muito bom, apesar de não ser leve e ter poucos momentos de descontração, a ação
é muito bem trabalhada, e as lutas entre os EVAs e os anjos, em sua maioria,
são empolgantes. O envolvimento dos pilotos com seus EVAs e seus “fantasmas”
pessoais são bem colocados e diversas vezes me peguei pensando nas situações
enfrentadas pelos personagens. Evangelion é, acima de tudo, uma perspectiva
sobre a tentativa de sobrevivência da raça humana, e o limite que se é
permitido atingir para conquistar esta mesma sobrevivência.
TEXTO COM COLABORAÇÃO DE WANDERSON SOUSA
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